Operação interrompeu evento típico de samba; comerciantes alegam perseguição e interrupção do lazer
A tradicional segunda-feira do samba na Rua 14 de Julho, no centro de Campo Grande, chegou ao fim de forma inesperada durante a noite desta segunda-feira (02), com três bares da região fechados em uma ação da Polícia Militar motivada por denúncias de perturbação de sossego.
O evento típico da segunda-feira, Samba do Trabalhador, ocorria no local quando a ação policial foi deflagrada por equipes do 1º Batalhão da Polícia Militar, por volta das 20h30.
Durante a operação, os estabelecimentos Má Donna, Blef Bar e Bar da 14 tiveram suas atividades interrompidas e os proprietários conduzidos à delegacia pela equipe policial.
Segundo o boletim de ocorrência, a região era alvo constante de denúncias de moradores que se sentiam incomodados com o alto volume do som e aglomeração de pessoas nas ruas.
Confira:
“A operação foi desencadeada em virtude das reiteradas solicitações de perturbação do sossego e poluição sonora via 190, nos diversos dias da semana, cujos transgressores são apontados como os proprietários dos estabelecimentos comerciais indicados [...]" - Boletim
Ainda segundo os militares, durante a fiscalização a equipe policial constou uma emissão de ruídos acima do permitido por lei e e apreendeu os equipamentos de som dos demais estabelecimentos. Os proprietários foram autuados por crime ambiental de poluição sonora, previsto na Lei nº 9.605/98.
O que dizem os proprietários
Em entrevista exclusiva para o Correio do Estado, Kayky Sanches, proprietário do Má Donna Bar e um dos envolvidos na ação, relata que o bar estava aberto há apenas duas horas quando a ação policial aconteceu.
Segundo o empresário, a abordagem teria ocorrido de forma pretensiosa e planejada.
“Eles já estavam indo para fazer o fechamento, Independente do volume, já tinham uma ordem para realizar a operação, que foi destinada ao bar, no Má Donna. A abordagem foi tranquila, mas ao mesmo tempo ríspida, não teve nenhum acordo, não teve conversa, eles só já foram para cumprir ordem”, declarou o empresário.
Ainda conforme o proprietário, a equipe policial afirmou que a denúncia foi originada no Ministério Público. No entanto, os militares não apresentaram nenhum documento para os envolvidos.
Sobre a justificativa de perturbação de sossego, Kayky afirma que não teve o som recolhido pois os músicos do “Samba do Caramelo” estavam no intervalo quando a equipe policial chegou.
De acordo com ele, a medição dos decibéis foi feita quando o som estava desligado e, ainda sim, os policiais afirmaram que ultrapassava os limites permitidos, devido ao “volume das conversas” causada pela aglomeração.
Além disso, as abordagens policiais, de acordo com Kayky, se tornaram mais frequentes após as eleições.
“Essas abordagens acontecem com muita frequência, principalmente após as eleições. Antes das eleições a gente não tinha esse problema. Não sei se é porque a prefeita apoiava e fazia discursos de apoio à 14. A gente tinha até um grupo no whatsapp com a Polícia Militar”
Lazer na cidade
O encerramento das atividades dos bares gerou repercussão nas redes sociais devido à forte identificação do público jovem com os bares, apontados como um “dos poucos pontos de lazer” na cidade. Na plataforma “X”, a Deputada Federal Camila Jara (PT) se pronunciou sobre o ocorrido.
Confira:
A redação entrou em contato com a Prefeitura Municipal, mas não obteve resposta até o momento.
14 de Julho como corredor gastronômico, turístico e cultural
No dia 28 de agosto, a Prefeitura Municipal de Campo Grande (PMCG) instituiu a avenida 14 de Julho, berço do comércio, como corredor gastronômico, turístico e cultural.
Com isso, a 14 de Julho, entre a rua Marechal Rondon e avenida Mato Grosso, se tornou palco de cultura, turismo e comida boa.
A Lei nº 7.294 foi sancionada pela prefeita da capital, Adriane Lopes, Diário Oficial de Campo Grande (Diogrande). Na época, a prefeitura prometeu incentivas a promoção e ordenamento do local mediante apoio dos órgãos envolvidos, visando preservar:
- O livre trânsito de veículos e transeuntes
- A segurança local
- A harmonia estética
- A sinalização indicativa dos estabelecimentos participantes
- A repressão ao comércio ambulante irregular
- Apresentações musicais, poéticas e artísticas
- Festivais e encontros gastronômicos e culturais
Além disso, em meados do mês de agosto a Prefeitura de Campo Grande determinou o fechamento da rua durante os fins de semana, em um plano visando expansão noturna, especialmente no período das 20h30 até às 23h30.
Toda a iniciativa buscava atender uma demanda crescente, dos bares que passaram a se espalhar em pontos da 14 de julho, com estratégia de interdição focada principalmente para às sextas-feiras; sábados e domingos.
No entanto, após um certo período, o excesso de público fez os comerciantes desistirem da interdição na região. A mudança ocorreu a pedido dos próprios proprietários, que enviaram um pedido formal ao Município, solicitando a medida.
Posteriormente, mesmo após a revogação da interdição da rua 14 de julho, proprietários dos bares alegaram que a mudança trouxe novos problemas no fluxo do comércio noturno no centro da cidade.
A decisão de voltar a liberar o acesso na via partiu dos próprios proprietários dos bares, em conjunto com a Prefeitura de Campo Grande, que atendeu o pedido dos lojistas.
Porém, segundo os comerciantes, após a desinterdição os principais problemas relatados foram a mudança da atuação policial e o acumulo de lixo no fim de semana, quando ocorre o maior fluxo de frequentadores.
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