A megaexplosão que atingiu a capital do Líbano, Beirute, no fim da manhã de terça-feira (5), deixou muito estragos e causou temor na população local e familiares e amigos dos que lá estão. Apesar da hipótese de atentado ou ataque militar ter sido praticamente descartada, há ainda quem acredite nessa possibilidade e tema que a situação desencadeie uma guerra.
Uma dessas pessoas é a campo-grandense Hayfa Tawifc, de 27 anos, moradora há um ano e meio da cidade libanesa de Al Quaraoun, que fica a 85 km de Beirute. "Quando teve a explosão, eu estava na minha cidade. Aqui não sentimos o tremor, mas teve cidades mais próximas que sentiram e aqui a fumaça chegou forte, apesar da distância", comenta.
Hayfa tem praticamente toda a família de seu pai no Líbano e relata um cenário de caos no país causado pela explosão e por questões anteriores, como crise econômica, pandemia do novo coronavírus e divergências políticas que, infelizmente, ainda são rotinas no Oriente Médio.
"A gente agora está com medo de ter guerra, por que existe uma briga política, religiosa e questões econômicas aqui no momento. A situação não é boa, não só por ontem, mas desde o meio do ano passado o Líbano vem sofrendo com algumas mudanças. Além disso, o coronavírus chegou aqui também e não temos suporte em hospitais", explica.
Outro problema que ela vem falando é a desvalorização da moeda local, a Lira, o que faz o preço dos produtos subirem substancialmente, já que grande parte dos produtos comercializados no país vem de fora, devido a baixa capacidade de produção interna. Assim o preço do dólar - que teria subido de 1,50 lira para nove liras - exerce grande influência.
"Café a gente pagava 8 mil liras o quilo, agora pagamos 40 mil. Carne o quilo era 15 mil, hoje são 60 mil liras. Tudo aumentou, até o creme dental, de 2, 3 mil liras, ficou em 12 mil. Muitas pessoas estão desempregadas, e agora tem o medo do coronavírus e essa possibilidade de guerra que não descartamos", afirma a jovem.
Hayfa conta que sua tia estava em Beirute no momento da explosão, mas que todos de sua família estão bem. Já entre seus amigos, era explica que alguns moram a 20 minutos ou 25 minutos do local da explosão, uma zona portuária, e tiveram suas casas danificadas pela onda de choque de ar formada. "Portas foram derrubadas, janelas, vidro de carros estouraram".
Ela também enviou imagens de locais públicos aos quais visitou no país e fotos de como ficaram após a explosão. O cenário é de destruição. Hayfa ainda mostra imagens que circulam pela internet no país, associando a explosão a um ataque.
"Os jornais locais já vinham falando que poderia acontecer algo, um ataque, e muitas pessoas escutaram aviões. Eu mesmo ouvi barulho de aviões sobrevoando aqui essa semana, e aqui na minha cidade não tem aeroporto, só em Beirute", indica a brasileira.
Megaexplosão
Duas explosões, uma menor e outra gigante, afetaram uma grande porção de Beirute e logo as imagens circularam por todo o mundo. A hipótese de um atentado terrorista chegou a ser levantada, mas logo foi descartada, assim como a de um ataque militar israelense - o país se pronunciou oficialmente e negou qualquer envolvimento.
Assim, a hipótese de acidente passou a ser a mais provável, já que no local há houve um incêndio em um armazém de produtos inflamáveis. Os primeiros relatos são de que se trata de material como nitrato de amônio, usado em fertilizantes.
Por ora, a estimativa é que mais de 150 pessoas morreram e outras milhares ficaram feridas. Há ainda a possibilidade de mortes de pacientes hospitalizados e de pessoas que estejam desaparecidas entre os escombros. As buscas por sobreviventes e corpos de mortos começou já nesta quarta-feira (5), dia em que foi decretado luto nacional no Líbano.
Hospitais de Beirute ficaram lotados e chegaram a recusar feridos por falta de capacidade para atendimento. O chefe de segurança interna do Líbano, Abbas Ibrahim, se recusou a especular sobre a causa da explosão dizendo "não podemos antecipar as investigações".
Nas proximidades do distrito portuário, os danos e a destruição são enormes. Muitos residentes feridos andavam nas ruas em direção a hospitais e carros foram abandonados nas ruas com os airbags inflados. A mídia local transmitiu imagens de pessoas presas em escombros, algumas cobertas de sangue, causando grande impacto.