Crato (CE)
Imagine ter que saciar a fome com poucos caroços de feijão. Com a semente gigante é inteiramente possível. Apenas um pé de feijão plantado no quintal de casa tem servido para provar a experiência da arquivista Antônia Rosa da Silva (foto), conhecida como Toinha. Ela não pensava que apenas uma semente entregue pelo irmão, que mora em um sítio no interior de São Paulo, causasse tanto sucesso com a vizinhança. Já são inúmeros caroços encomendados.
Em maio do ano passado, ela decidiu investir naquela semente avermelhada e não sabia mesmo se ia pegar. O pé começou a crescer assustadoramente. Os galhos começaram a ramificar e as outras plantas em volta passaram a ser retiradas. A roseira foi a primeira delas. E uma latada começou a ser feita para acomodar os galhos, depois dos ramos subirem no pé de feijão, e dar segmento ao que ela chama de uma curiosidade que tem por plantas exóticas.
A planta é notadamente muito resistente. E cresce bem. Já está com mais de dois metros e várias vargens. Cada uma delas com mais de 30 centímetros. Toinha afirma que já tirou algumas, mas não imaginava que o pé de feijão fosse crescer tanto. E foi este mês que ela iniciou a experiência comestível, após um ano e dois meses depois de ter investido no primeiro caroço gigante. "Fui a cobaia, juntamente com uma amiga. Mas decidi comer primeiro, e algum tempo depois vi que não estava sentindo nada de ruim", disse.
Para saborear a novidade, caprichou no cozido, com bastante verdura e macaxeira - à moda nordestina, para não ficar tão ruim. Mas a surpresa veio depois dos primeiros caroços. O sabor não deixa a desejar para nenhum carocinho dos comuns. "É suave, parecido com o tradicional mulatinho", diz ela. Depois a farra começou com a vizinhança, que tem experimentado e deixa a encomenda de um caroço para levar para o quintal de casa também. "Até as crianças comeram e gostaram", diz.
Os dois cozidos foram para demonstração, com seis convidados. Na primeira vez, 11 vargens foram levadas ao fogo. Correspondem a mais de um litro de feijão. Boa parte foi para a geladeira. Ainda sobrou. A diferença quando se tira verdinho é que a casca do feijão gigante é mais grossa do que no período em que está mais seco. Os caroços chegam a ficar maiores do que um caroço de jaca, cozidos ou verdes. Toinha chamou um técnico da Ematerce para avaliar a novidade. A semente foi repassada para estudo.
Ela está satisfeita com a experiência e continuará observando o crescimento do seu pé de feijão. "Só não sei mesmo onde vai dar", afirma. O sucesso pelo menos está sendo garantido. Ela mandou avisar ao irmão no interior de São Paulo que a semente realmente deu resultado no Nordeste. Só não sabe dizer como ele conseguiu os caroços.
O engenheiro agrônomo da Ematerce, Acácio Morais, afirma que ainda não conhecia essa variedade de semente, que é conhecida como de metro ou de porco, mas acredita que a novidade não vá mesmo pegar por aqui. Ele diz que a cultura do feijão é muito forte entre os nordestinos e acredita que não há possibilidade de adaptação à nova realidade.
"De qualquer forma tem uma importância para trabalhar a variedade do feijão", explica. Segundo o engenheiro, essa melhoria genética poderá dar mais resistência ao grão comum. A verdade é que fica difícil de imaginar, pelo menos para o caririense, um baião de dois com pequi e feijão gigante.
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Elizângela Santos
Repórter