Preso na manhã desta quarta-feira (26) e solto horas depois, o rapper Oruam, 23 anos, filho do traficante Marcinho VP, apontado como um dos líderes do Comando Vermelho, disse que "odeia" visitar o pai no Presídio Federal de Campo Grande, onde está desde janeiro do ano passado.
No documentário "O Grito - Regime Disciplinar Diferenciado", sobre o sistema penitenciário brasileiro, Oruam disse que foi concebido na prisão, durante uma visita intíma, e que nunca conviveu com o pai fora das grades.
"Eu nunca vi meu pai na rua. Nós nunca convivemos com nosso pai em nenhum momento da nossa vida. Quando eu nasci, meu pai já tava preso", disse.
Há pouco mais de um ano, Marcinho VP, foi transferido para a Penintenciária Federal de Campo Grande, onde ainda permanece, e o rapper daz visitas frequentes à capital sul-mato-grossense para vê-lo, mas diz que é constragedor e uma tortura.
"[São] mais de 15 celas. Passa o maior constrangimento para entrar e só fala pelo interfone. Como tu vai ver teu pai por um vidro no meio?", disse na produção da Netflix.
"Não pode nem encostar na pessoa, abraçar, falar. É tortura. Presídio Federal é tortura. Para nós que somos família é desumano. Se eu vou ver meu pai, eu quero encostar, dar um beijo",acrescentou Oruam.
Por fim, o rapper disse que aprendeu a conviver com a saudade. "Na minha mente eu sei que ele não vai estar aqui", concluiu.
Marcinho VP
Márcio Nepomuceno, o Marcinho VP, é apontado com nome proeminente da criminalidade do Rio de Janeiro há quase três décadas, sendo um dos principais líderes do Comando Vermelho, ao lado de Fernandinho Beira Mar.
Preso desde 1996 , ele está em penitenciárias federais desde 2010, atualmente em Campo Grande.
No entanto, o encarceramento não impediu que Marcinho VP continuasse no mundo no crime. Mesmo de dentro do presídio, ele ordenou uma série de crimes que foram cometidos por outros faccionados.
Nos últimos 14 anos, ele cumpre pena em unidades federais.
Marcinho VP é pai do rapper Oruam, que já fez manifestações públicas pedindo a liberdade do pai, sendo a mais polêmicas a apresentação no Lollapalooza 2024, onde vestiu uma camiseta que pedia a liberdade de Marcinho VP.
O cantor tem uma tatuagem em homenagem ao pai e também ao traficante Elias Maluco, condenado pelo assassinato do jornalista Tim Lopes.
Rapper preso duas vezes
No dia 20 de fevereiro, Oruam foi preso em uma blitz no Rio de Janeiro, após tentar escapar de uma abordagem policial pela contramão.
De acordo com a 16ª DP , o rapper foi encaminhado por policiais militares à delegacia, onde foi autuado em flagrante por direção perigosa, pagou R$ 60 mil de fiança e foi solto.
Nesta quarta-feira (20), ele foi autuado por favorecimento, por abrigar foragido da polícia. Ele foi liberado pelo crime ter baixo potencial ofensivo e por se comprometer a comparecer em juízo.
A polícia estava cumprindo um mandado de busca e apreensão após o rapper efetuar disparos de arma de fogo em um condomínio em Igaratá, em São Paulo. O episódio aconteceu em 16 de dezembro de 2024 e os policiais buscavam as armas que teriam sido usadas por Oruam.
Durante as diligências, policiais civis da Delegacia de Repressão a Entorpecentes encontraram Yuri Pereira Gonçalves, 25, que tinha mandado de prisão pendente pelo crime de organização criminosa. Ele foi detido e foram apreendidas armas, celulares e joias.
Na delegacia, questionado por repórteres o motivo de ter um foragido em sua casa, Oruam respondeu: "Que eu vou falar, mano?". "Não vou falar para tu, não. Tu é um delegado ou um juiz para eu falar alguma coisa para você?".