Nesta quarta-feira (15) a Agência Estadual de Gestão de Empreendimentos (Agesul) publicou, através do Diário Oficial de Mato Grosso do Sul, a homologação da empresa escolhida para as obras de requalificação na Comunidade Tia Eva, que está prestes a ganhar um novo altar mor com o restauro da igreja de São Benedito.
Essa obra, inclusive, sairá cerca de 187 mil reais mais barata que o previsto, já que a licitação - como bem abordado no Correio do Estado - previa empenho de pouco mais de R$2,4 milhões para as intervenções.
Por exatos R$ 2.213.000,00, a empresa selecionada para a intervenção de restauração foi a campo-grandense Marco Arquitetura, Engenharia, Construções e Comércio Ltda.
Agora, conforme previsto em edital, após receberem a Ordem de Início de Seriços (OIS) a empresa terá um prazo de cinco dias para começar os trabalhos e outros 540 para entrega do projeto totalmente concluído.
Vale lembrar que ainda em maio de 2024 a tradicional igrejinha foi interditada, justamente pelo estado de conservação da estrutura e risco iminente de desabamento do prédio considerado patrimônio histórico sul-mato-grossense.
Como se não bastasse, um novo laudo da Defesa Civil indicou que a situação da construção havia piorado enquanto esteve interditada, com queda de parte do telhado e impedimento definitivo da abertura da porta de entrada.
Esperada há anos, a restauração da Igreja de São Benedito contará com:
- Substituição total das telhas e cobertura;
- Substituição total dos forros, forrando novamente com material similar e de forma inclinada;
- Criação de novo altar mor;
- Tratamento das alvenarias internas e externas;
- Realocação do busto da tia Eva e do sino em novos locais e estruturas;
- Projeto de acessibilidade de menor dano visual;
- Proteção contra incêndio e pânico, entre outros pontos.
História
Ex-escrava, Eva Maria de Jesus chega na região por volta de 1905 e já em 1912 é feita a construção da Igreja São Benedito como pagamento de uma promessa por ter sido curada de uma ferida na perna, posteriormente reconstruída em alvenaria próximo de 1919.
De Goiás, Eva também trouxe a estatueta de São Benedito, em madeira, e ainda antes de 1970, a igreja recebe uma das maiores intervenções por meio de uma ampliação para a qual, segundo preceitos da comunidade, foi necessária a perda do altar mor.
Como bem detalha o projeto executivo de restauro do local, contemplado pelo Fundo Municipal de Investimentos Culturais (Fmic) elaborado pela Prefeitura de Campo Grande, não há documentos que tragam uma exatidão de como era o altar mor.
Ou seja, com sua perda, restaram apenas os relatos orais que apontam para uma "beleza e funcionalidade", além de uma imagem mental construída por meio de reuniões com anciões pela arquiteta Rayssa Almeida.
"Tal perda pode ser considerada irreparável e que pode ser substituída, mas jamais reconstruída, logo o processo de intervenção deve restituir o altar mor seguindo os preceitos do restauro referenciado, isto é, de forma contemporânea", expõe o projeto.
De ações "qualificadoras" ao redor do tempo, a igreja de São Benedito recebeu a construção do túmulo da Tia Eva no interior de uma das torres, o que pode ser considerado um bem integrado de grande valia, ao qual se soma toda a história de sua luta e de seu povo.
"O jazigo existente no interior da igreja, associado ao bem móvel denominado
como relíquia de São Benedito (santo em madeira trazido por Tia Eva), devem ser enaltecidos a fim de que se amplie a qualificação da intervenção", cita o documento.
No ano de 1996 fica registrado o tombamento da igreja pelo município de Campo Grande, com a Igrejinha de São Benedito recebendo o tombo definitivo como parte do Patrimônio Histórico de Mato Grosso do Sul em 5 de maio de 1998.
Já em 26 de abril de 2008, foi concedida a Certidão de Autodefinição como Comunidade Remanescente de Quilombos aos descendentes de Tia Eva, por parte da Fundação Cultural Palmares.
**(Colaborou Tamires Santana)




