Passando por um período de saúde financeira delicada e desestruturação no atendimento médico, a Santa Casa de Corumbá inicia nesta sexta-feira (13) um novo período administrativo para tentar equilibrar-se nessas situações.
Novos integrantes da Junta Interventora na Associação Beneficente Corumbaense foram designados e um novo presidente foi escolhido.
Milton Carlos de Melo, que trabalhou para recuperar e estruturar o Asilo São Vicente, único da região de fronteira do Brasil com a Bolívia, foi nomeado para a presidência da Junta Interventora Administrativa do Complexo Hospitalar.
A Santa Casa de Corumbá é também o único hospital público para atender a população de Corumbá e Ladário e também acaba sendo referência para Puerto Quijarro e Puerto Suárez, municípios da Bolívia. No total, a população dessas localidades soma em torno de 200 mil pessoas.
O outro hospital é da Cassems, que atende planos de saúde e servidores públicos. Ainda há um hospital na Marinha, porém reservado apenas para militares desta força armada.
A nomeação de Milton Carlos de Melo foi confirmada oficialmente na segunda-feira (9), com publicação no Diário Oficial do Município, e seu trabalho tem início hoje.
Com ele, o prefeito Marcelo Iunes (PSDB) também indicou nomes mais próximos do governo municipal, como é o caso de Élbio dos Santos Mendonça, André Luiz Oliveira dos Santos e Adriano Antonio Pires, que era o presidente da Junta.
HISTÓRICO
A mudança na estrutura administrativa foi definida após reunião realizada entre as prefeituras de Corumbá e Ladário, Secretaria Estadual de Saúde, Conselho Municipal de Saúde de Corumbá, Ministério Público Estadual e Justiça Estadual.
Por conta de problemas financeiros e administrativos há mais de uma década, a Associação Beneficente deixou de comandar o hospital e houve uma intervenção municipal.
Essa decisão ocorreu em 2010 e a Santa Casa não conseguiu até hoje estruturar-se para voltar a ter uma diretoria própria. Entre os problemas graves pelos quais o hospital passa está a falta de regularização na contratação de médicos.
Diversas especialidades atendem na unidade de maneira precária, sem contratos elaborados pela entidade. O trabalho em formato parecido como freelance dos médicos causa uma série de discussões contratuais e desacordos financeiros.
Nessa situação, alguns atendimentos acabam ficando deficitários em certos períodos, durante embates entre médicos e a Junta Interventora. A própria Santa Casa de Corumbá também aponta que existe subfinanciamento em diferentes atendimentos, o que causa rombo nas contas.
Porém, não existe uma prestação de contas ainda muito detalhada que permita identificar exatamente os gargalos.
As contratualizações são com a Prefeitura de Corumbá, o governo do Estado e o Ministério da Saúde. O deficit mensal não foi divulgado oficialmente, mas estaria, conforme a apuração, em cerca de R$ 1 milhão.
INTERVENÇÃO
Nessas incertezas e risco de colapso, o Ministério Público moveu ação civil pública para exigir mudança na administração e criar uma tentativa de regularização.
Esse procedimento de discussão de nomes para uma nova administração da Junta Interventora aconteceu em março e culminou na indicação de Milton Carlos de Melo, diretor-administrativo da Apae de Corumbá e gestor do Lar de Idosos São José.
O nome dele surgiu porque Milton foi responsável por organizar administrativamente o único asilo que atende Corumbá e Ladário.
O local, que abriga 56 pessoas, em torno de 30 delas acamadas, enfrentou sérios desequilíbrios financeiros e deficit orçamentário, que acabou agravado no período de pandemia, entre 2020 e 2021.
O administrador conseguiu contornar a situação para manter o atendimento, que exige em torno de R$ 120 mil mensais para manutenção.
“Por enquanto, não há muito o que falar. Estamos começando o trabalho e tomando conhecimento real de toda a situação. É preciso fazer um trabalho administrativo, com muita transparência e com parcerias para ter resultado para o hospital, e principalmente para o usuário do SUS, que depende da Santa Casa”, afirmou Milton Carlos de Melo, em entrevista ao Correio do Estado.
Ele pontuou que após fechar o diagnóstico da situação do hospital fará uma divulgação ampla.
A reportagem procurou o Ministério Público para identificar posicionamento, pelo fato de ter movido a ação civil pública para discutir o financiamento do hospital e a forma como a administração é conduzida, porém não houve retorno até o fechamento desta matéria.
A 5ª Promotoria de Justiça de Corumbá instaurou outra ação civil pública para apurar falta de transparência no uso de recursos públicos pela prefeitura local na Santa Casa, principalmente no atendimento a pacientes com Covid-19.
O inquérito foi instaurado em 3 de maio e foi aberto depois que a Câmara Municipal de Corumbá não conseguiu acessar a prestação de contas detalhada, em 2021, após mais de 30 requerimentos elaborados.
SAIBA
Entre os problemas graves pelos quais o hospital passa está a falta de regularização na contratação de médicos. Diversas especialidades atendem na unidade de maneira precária, sem contratos elaborados pela entidade.




