Após a primeira investigação da morte de um jovem de 21 anos, suspeita de intoxicação por metanol, a Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel-MS) alertou que a pena para adulteração de bebida pode chegar a cinco anos de prisão.
A morte do jovem em Campo Grande, investigada como o primeiro caso de intoxicação por metanol em Mato Grosso do Sul, acendeu um alerta sanitário e mobilizou autoridades estaduais.
O episódio ocorre em meio a uma crise nacional, deflagrada em São Paulo, onde já foram confirmados casos e mortes relacionadas à ingestão de bebidas alcoólicas adulteradas com a substância tóxica.
Em MS, o caso levou o Ministério Público a instaurar procedimento administrativo para apurar possíveis adulterações no mercado local, com envio de ofícios a órgãos de fiscalização e entidades representativas do setor.
Ao mesmo tempo, a Abrasel-MS iniciou articulações com a polícia para orientar bares e restaurantes sobre a compra legal de bebidas, diante do risco de falsificação.
Prevenção
A preocupação com a credibilidade do setor levou a Abrasel-MS a buscar orientação direta junto à Decon. Ainda na quinta-feira (2), o presidente da entidade, João Francisco Denardi, reuniu-se com o delegado Wilton Vilasboas, na sede da delegacia, para discutir medidas de precaução.
Segundo Denardi, a intenção é orientar bares, restaurantes e distribuidoras sobre boas práticas na aquisição de bebidas, evitando que empresários bem-intencionados sejam penalizados por irregularidades cometidas por fornecedores.
Ele ressaltou que, embora não haja confirmação de intoxicações por metanol em Mato Grosso do Sul até o momento, a Decon apreendeu recentemente lotes de bebidas falsificadas em estabelecimentos, o que configura risco real.
A entidade também destacou que manter bebidas adulteradas em estoque pode resultar em prisão em flagrante, sem direito a fiança, com pena de 2 a 5 anos em caso de condenação.
Suspeita de intoxicação
De acordo com boletim de ocorrência, o rapaz deu entrada na UPA Universitário, em Campo Grande, reclamando de náusea, vômitos escuros e mal-estar gástrico. Ele relatou ter consumido whisky, cachaça e, dias antes, uma pinga adquirida em comércio local.
No início, foi classificado com prioridade amarela e aguardava atendimento consciente e comunicativo. Porém, minutos depois, apresentou crise convulsiva e perdeu a consciência. Encaminhado à sala vermelha, sofreu parada cardiorrespiratória. Apesar das manobras de reanimação e intubação, não resistiu. O óbito foi declarado às 19h53 do mesmo dia.
O histórico médico registrou consumo precoce de álcool desde a adolescência, mas os sintomas levantaram a suspeita de contaminação por metanol, hipótese que será investigada pelas autoridades de saúde e polícia.
Contexto nacional
O alerta em Mato Grosso do Sul surge em meio a uma crise nacional. Em São Paulo, o governo estadual registrou até agora 22 casos suspeitos de intoxicação por metanol, sendo cinco confirmados, além de seis mortes sob investigação.
Diante do aumento dos casos, o ministro da Justiça e Segurança Pública, Ricardo Lewandowski, determinou que a Polícia Federal investigue a origem das bebidas adulteradas. A principal suspeita é que o metanol tenha sido adicionado propositalmente a bebidas falsificadas para reduzir custos de produção ilegal.
Esse cenário reforça a necessidade de ações preventivas em outros estados, incluindo Mato Grosso do Sul, para evitar a repetição da tragédia paulista.
O que é o metanol e por que é tão perigoso?
O metanol, ou álcool metílico, é uma substância incolor, inflamável e altamente tóxica, usada em indústrias químicas como matéria-prima na fabricação de solventes, combustíveis, resinas e plásticos.
Sua ingestão, mesmo em pequenas doses, pode provocar sintomas graves entre 12 e 24 horas após o consumo, como:
- Visão turva, que pode evoluir para cegueira irreversível;
- Náusea e dor abdominal intensa;
- Confusão mental e tontura;
- Convulsões e rebaixamento do nível de consciência;
- Morte por falência múltipla de órgãos;
Embora possa aparecer naturalmente em concentrações mínimas durante processos de fermentação, o metanol não pode ser adicionado a nenhuma bebida, sendo considerado crime grave.
Como se proteger?
Para reduzir riscos, as autoridades orientam que consumidores fiquem atentos a sinais de adulteração antes de adquirir bebidas alcoólicas. As principais recomendações são:
- Conferir o lacre e a vedação da garrafa;
- Checar rótulo e contrarrótulo, verificando se trazem informações completas em português;
- Comparar a embalagem com a versão original da marca;
- Desconfiar de rótulos amassados, rasurados, garrafas riscadas ou embalagens de baixa qualidade;
- É essencial que bares e restaurantes adquiram bebidas apenas de fornecedores oficiais, mantendo notas fiscais e registros, para evitar penalizações e garantir segurança aos clientes.




