Cássio Scapin é formado pela Escola de Arte Dramática (EAD) da Universidade de São Paulo (USP).
Ator renomado, reconhecido e premiado. Um de seus personagens mais inesquecíveis é o Nino, do programa infantil Castelo Rá Tim Bum da TV Cultura. Recentemente Cássio participou da novela Deus Salve o Rei, e em 2020, durante a pandemia, o ator apresentou o monólogo “Eu Não Dava Praquilo” e o espetáculo "Os Malefícios do Fumo".
Agora Cássio vai entrar literalmente em uma nova viagem interpretando Santos Dumont no musical "Além do Ar". A vida do aeronauta terá uma megaprodução em São Paulo que vai unir também o talento de alunos e suas experiencias profissionais através da Fundação Lia Maria Aguiar em seu retorno na produção de musicais inesquecíveis na capital paulista.
No Correio B+ desta semana, o ator Cássio Scapin conversa com o Caderno com exclusividade e fala como foi escolher trabalhar com arte, o sucesso de seu personagem Nino depois de tantos anos, reconhecimento e expectativas de interpretar Santos Dumont nos palcos.
CE - Cássio, você sempre soube que queria trabalhar com arte?
CS - Coisa que veio desde criança. Acho que a gente nasce com este tipo de tendência. Mas eu nunca me vi fazendo e nunca pensei em fazer outra coisa. Minha mãe gostava do cine da Atlântida, então tinha essa referência.
E eu tive a sorte de estudar num colégio de estado, em um período em que as Escolas Estaduais eram muito potentes muito fortes, com ensino muito bem estruturado.
As escolas levavam as crianças ao teatro em horário oficial e não a parte. Nesse período eu tinha uma professora de educação artística maravilhosa chamada Maria Helena que notou essa aptidão e me ajudou a mostrando caminhos pra que eu pudesse desenvolver.
Eu tinha doze para treze anos e ela me indicou para um projeto chamado Cacilda Becker de desenvolvimento de atores e ali passávamos tardes inteiras vendo palestras e corríamos para ver espetáculos de teatro.Tudo isso formou essa situação e por isso me apaixonei e decidi fazer teatro para o resto da minha vida e aqui estou.
CE - Você é um ator reconhecido e premiado, como vê todo esse reconhecimento?
CS - É maravilhoso ter meu trabalho reconhecido. Tenho reconhecimento e alguns prêmios na prateleira, o que também indica que você traça um caminho reto, um caminho sério, que você tem coerência no seu trabalho.
Então é muito gratificante quando você faz um trabalho consciente e recebe um prêmio ou uma nomeação para um prêmio, mas principalmente quando o reconhecimento vem por seu resultado de qualidade, isso é excelente pra qualquer artista.

CE - Como você construiu o Nino? E como é lidar com o sucesso dele até hoje?
CS - O Nino eu construí usando o meu material da infância, ou melhor, a minha relação com a minha infância. Fui uma criança que foi um pouco presa dentro de casa. Eu convivia com a televisão e brincava pouco na rua.
Então isso eu acho que me ajudou a criar este comportamento do Nino. Esse menino que anseia ter amigos fora de casa, além de todo um trabalho de comédia que eu tinha feito quando eu morava fora do Brasil, com técnica de Clown de commedia dell'arte que me ajudou muito tecnicamente também.
É uma maravilha lidar com o sucesso do Nino até hoje, porque é um trabalho sempre encarado de forma positiva por todo o público. Me causa uma alegria muito grande tocar o público de uma maneira sempre afetiva e notar que as pessoas te encaram desta maneira, um tanto divertido, né?
CE - Por que O Castelo Rá Tim Bum nunca deixou de ser um grande sucesso na sua opinião?
CS - O Castelo Rá Tim Bum nunca perdeu a força acho que pela qualidade do trabalho. E teve uma excepcionalidade que eram todos atores de São Paulo. Ninguém foi para a TV Cultura ganhar dinheiro. Fomos, pois queríamos fazer um trabalho legal.
Nos conhecíamos fora do set de filmagem também. Já tínhamos feito teatro juntos, então tinha este afeto envolvido na construção do trabalho, sem contar que didaticamente o Castelo Rá Tim Bum, é uma obra prima escrita pelo Flávio de Souza e dirigido pelo Cao Hamburger, com um papel didático importantíssimo para crianças que assistiam uma TV Pública.
O Castelo vai completar trinta anos no ano que vem e são algumas gerações comtempladas com esse trabalho e é muito gratificante essa história toda, esse retorno positivo, esse carinho imenso.

CE - Você já permeou como ator pelo teatro, cinema e TV, poderia falar sobre momentos e/ou personagens marcantes?
CS - Um personagem marcante de televisão pra mim foi o Santos Dumont, que eu estou fazendo agora, tendo o prazer em visitá-lo novamente no Espetáculo “Além do ar”, uma produção linda da Fundação Lia Maria Aguiar que estreia dia 13 de janeiro no teatro Opus Frei Caneca, e que coincidentemente, me faz reaproximar da questão didática da profissão porque contraceno com jovens de baixa renda que estudam arte na Fundação que fica na cidade de Campos do Jordão. É uma ação maravilhosa e superlouvável da FLMA de proporcionar isso a estes jovens.
Então, Santos Dumont é e será sempre um personagem marcante. Teve o Nino do Castelo Rá Tim Bum, claro. Teve um personagem na Rede Globo chamado Samová, novela do Miguel Falabella, foi um dos primeiros personagens gays divertidos. Olha, tem muita coisa interessante que eu fiz na vida. (risos).
No teatro, Memórias Póstumas de Brás Cubas, que fazia o Brás Cubas, era um monólogo musical. Recentemente tem me dado muito prazer fazer o Bem Amado, com texto original do Dias Gomes,e músicas do Zeca Baleiro e Nilton Moreno, que é um espetáculo musical maravilhoso que volta em cartaz na sequência de Além do Ar.

CE - Como surgiu o convite para fazer a vida de Santos Dumont?
CS - Bom, a primeira vez surgiu com a Maria Adelaide Amaral, Ulisses Cruz que dirigia a minissérie Um Só Coração na Rede Globo intuiu que eu tinha características físicas parecidas com Santos Dumont e Maria Adelaide (que é uma grande autora) adorou a ideia e isso rendeu além deste personagem muito bacana pra televisão, uma grande amizade com a Maria Delaide que eu tenho uma estima profunda.
Creio que por ter sido Santos Dumont minissérie, recebi o convite do diretor e produtor musical Thiago Gimenez que também é diretor do Núcleo de Teatro da Fundação Lia Maria Aguiar, pra reviver o Santos Dumont nessa montagem que me deixou muito contente.
Além das crianças da Fundação, divido o palco com Mateus Ribeiro, um grande jovem ator, ganhador de prêmios no teatro, então tem sido um momento muito, muito bom, muito feliz.
CE - Qual é a expectativa para a estreia?
CS - A expectativa é a de qualquer ator em estreia: nervosismo (risos), mas a gente faz as coisas pra que o público adore, então a gente espera ser muito bem recebido e eu acredito que o trabalho está muito, muito bonito. Acredito que o público vai gostar bastante.

CE - O que o público vai ver no palco do musical?
CS - Verá com um outro olhar a vida deste herói brasileiro que foi o Santos Dumont. No sentido de que ele foi um grande brasileiro, ele foi um homem ético, que fez parte de uma elite financeira, mas que soube usar o seu patrimônio pra criar e pra favorecer o mundo pra favorecer a humanidade.