O jornalista e escritor Odacil Cânepa lançará no dia 28 livro infantil que traz no enredo Aruê, um velho cacique que se encarrega de repassar para as crianças indígenas as lendas e as tradições dos ancestrais de sua comunidade
“Tudo me encanta no Pantanal.” É assim que o jornalista e escritor Odacil Cânepa começa a conversa sobre “O Jaú que Comeu a Lua – Fábulas Pantaneiras”. O livro infantil traz no enredo Aruê, um velho cacique que se encarrega de repassar as lendas e as tradições dos ancestrais de sua comunidade para o neto Aruá. A publicação, que estará disponível na Amazon a partir do dia 28, traz o universo de uma pequena tribo remanescente dos Guató que habita uma ilha na baía de Uberaba.
Por ali, circulando pelas águas dos rios Aquidauana, Miranda e Paraguai, vivem os peixes Zungaro zungaro, nome científico do Jaú. Chegando a pesar 120 quilos, são os maiores peixes do Pantanal, donos de grandes barbatanas e de um ruído grave e potente que mais se assemelha a um mugido de boi. O Jaú é um dos encantos que perseguem o autor desde menino e que embala a narrativa do livro.
“Sou pantaneiro [nascido em Aquidauana], criado até os nove anos às margens do [Rio] Miranda [entre Anastácio e Bonito]. Meu avô paterno era dono de uma fazenda de gado, e por lá aprendi a conviver com os bichos, com as árvores e todos os mistérios da terra”, conta o autor, dando pistas de onde veio a dupla de protagonistas – Aruê e Aruá – e outros elementos de sua obra, que contou com a parceria do ilustrador Emmanuel Merlotti de Oliveira.
“Emmanuel tem um traço lindo e colorido. Acho que vamos aprofundar a parceria em novos projetos. Essa estória particularmente veio de uma viagem que fiz [em 2017] na reserva dos Guató, no Porto Índio [em Corumbá]. Vi uma lua imensa refletindo no Rio Paraguai e tive a ideia. O resto dos meus livros vão ser nessa linha também”, conta Cânepa, adiantando que não vai parar no lançamento de estreia.
“O livro é uma fábula infantojuvenil em que dou vida aos animais comuns do Pantanal, especialmente peixes e outros aquáticos. Tenho projeto de editar cinco fábulas, cuja inspiração vem do meu avô materno, um campeiro que vivia entre os índios kadiwéu nos anos 1960 e 1970. Era uma figura enigmática, contador de estórias, principalmente sobre a Guerra do Paraguai [1864-1970]. Dele, emprestei um pouco das invenções dos livros. Era um belo mentiroso”, prossegue o autor, entre gargalhadas.
Cânepa diz que o desejo de legar às futuras gerações toda a fabulação sobre as tradições pantaneiras, que vivenciou bem de perto, foi o que motivou o desejo de escrever e publicar “O Jaú que Comeu a Lua – Fábulas Pantaneiras”. Além do livro físico, a publicação ganhará versão digital em janeiro.
“Quero deixar um pouco, no imaginário das crianças e dos jovens, as estórias orais do Pantanal. Minha literatura tem um pouco de poesia, de contos e prosa. Não sou escritor profissional, sou jornalista que pensa um dia em dedicar mais tempo para esse ofício. ‘O Jaú que Comeu a Lua’ é só um começo”, promete Cânepa, que já integrou a equipe de reportagem do Correio do Estado e atualmente está radicado em Brasília (DF).
E de que maneira, exatamente, procurou trabalhar o conceito de fábulas? “Fábulas, porque são invenções mesmo que têm algum sentido. São estórias saborosas que têm o Pantanal e o cerrado como cenário. Nesse livro, uso os animais para falar de amizade, de respeito e de tolerância. Acho que isso deve ser ensinando para nossos filhos”, afirma.
E como selecionou ou criou as fábulas? “Por ordem temporal. Escrevi e escrevo regularmente contos, poesias e roteiros infantis”, diz o escritor, emendando com o fato pessoal que fez crescer a produção.
“Depois que meu segundo filho biológico nasceu, em 2011, intensifiquei essa literatura infantojuvenil. O que espero tecnicamente com essa publicação é nada mais do que divulgar o meu pensamento e o lugar onde nasci e cresci. Espero que outras pessoas compreendam a importância do Pantanal e de sua preservação”, afirma o jornalista e escritor.
Aliás, a sua formação e profissão de origem acabaram interferindo de diferentes formas no resultado final do primeiro livro. Mas o papel de pai naturalmente também conta.
“Meu ofício é o jornalismo e escrevo muito. Portanto, misturo as coisas reais da profissão e minhas fábulas. Misturo o meu ofício de contar fatos com histórias inventadas, basicamente, no estilo de escrever”, conta.
“Do ponto de vista pessoal, o maior desafio de levar ao papel o que se passa na imaginação é basicamente o tempo. A minha vida é bem atribulada, trabalho com rádio, jornal, tevê e ainda crio filho depois dos 50 anos”, diz o jornalista, anunciando um pouco do que vem por aí.
“Vou publicar cinco livros de fábulas. O próximo, no ano que vem, será sobre incêndios no Pantanal”, revela Cânepa.