Alguns pratos têm o poder de transportar qualquer pessoa diretamente para as lembranças de sua terra natal.
É assim com o sobá. Feita com macarrão, proteína – normalmente carne de vaca ou de porco – ovo e cebolinha, a iguaria de origem japonesa se tornou um marco cultural capaz até mesmo de cruzar fronteiras e se estabelecer em São Paulo como um prato típico sul-mato-grossense.
Quem faz questão de ampliar as fronteiras é a chef Vanessa Carvalho, 45 anos, que nasceu em Mato Grosso do Sul e desde criança aprendeu a gostar de gastronomia e, claro, do sobá.
“Eu já estou aqui desde 1996, vim trabalhar com iluminação de teatro, em shows e televisão. Trabalhei aqui até meados de 2004, morei na Suíça, fui para a Itália, trabalhava com iluminação também e aos fins de semana fazia comida brasileira em restaurantes”, relembra.
A temporada na Europa durou dois anos, e Vanessa decidiu voltar para São Paulo em 2006. Durante um período trabalhou como corretora, mas sentia que faltava alguma coisa.
“Eu estava trabalhando como corretora aqui, mas não estava mais feliz. Sempre relutava em trabalhar com comida, mas acabei cedendo”, ri.
A família de Vanessa chegou a ter alguns empreendimentos ligados à gastronomia, e quando ela decidiu compartilhar que queria abrir um espaço de sobá ouviu um pouco de descrédito.
“Eu queria que fosse comida sul-mato-grossense. Tudo aqui em casa remete ao Estado, eu ainda não cortei o cordão umbilical”, brinca.
“Fui aí [para MS], visitei uma amiga em Jaraguari que tinha acabado de abrir uma sobaria. E eu pensei, bom é isso que eu vou fazer. Vim para cá, fiz sobá para os amigos e eles gostaram. Quem é de Mato Grosso do Sul sente muita falta, é normalmente a primeira coisa. É muito difícil de encontrar aqui, que eu saiba, apenas um restaurante na Vila Mariana que vendia”, pontua.
O nome Sim Sobá surgiu de todas as vezes que ela precisou reafirmar que ia manter a decisão pelo prato gastronômico, em vez de outros mais populares.
“Quando eu falei ‘eu vou montar uma sobaria’, sempre falavam: ‘Mas sobá? Ninguém conhece’. E eu respondia: ‘Sim, sobá! Por que não?’. O nome saiu daí”, conta.
Clientela
Apesar de São Paulo ter uma das maiores comunidades de descendentes japoneses do País, o sobá não é popular na cidade. Isso porque Campo Grande recebeu imigrantes da ilha japonesa de Okinawa, sendo a receita típica da região.
Segundo Vanessa, a distância cultural não impossibilitou que os descendentes de lá se interessassem pelo prato.
“A maioria dos meus clientes são descendentes de japoneses. Muitos são de Mato Grosso do Sul que sentem falta, chegam a chorar quando experimentam. Depois do campo-grandense, do sul-mato-grossense, há muitos curiosos que querem conhecer essa mistura", ressalta.
"Eles gostam muito da comida japonesa, é bem tradicional aqui também, porém, é mais o lámen, que é bem diferente do nosso. Eu falo que eu fiz o caminho inverso, estou ficando conhecida por conta da diferença, ninguém nunca viu o sobá, a não ser o povo da nossa terra”, completou.
Diferenças
Além do sobá tradicional, Vanessa criou novas versões. No sobá de shimeji, além da versão normal, com caldo de ossobuco, há mais duas opções, o vegetariano, com um caldo a base de legumes, e o vegano, também com o caldo de legumes, mas com massa sem ovos e sem omelete por cima.
Na Sexta-Feira Santa, Vanessa também criou outras duas versões, com salmão e camarão.
Para completar, até a bebida lembra Mato Grosso do Sul. O Varanda’s Tereré é uma combinação de chá da erva utilizada na elaboração do famoso tereré (bebida muito tradicional do Mato Grosso do Sul) e xaropes artesanais de gengibre e limão.
Antes da pandemia, os sobás eram vendidos em uma feira de São Paulo, mas agora são comercializados apenas por delivery ou drive-thru, de sexta a domingo, todos os fins de semana, das 18h às 22h.
Além disso, Vanessa também realiza jantares típicos de Mato Grosso do Sul.
Para conhecer mais sobre os sobás de Vanessa, acesse a página no Instagram.



Helio Mandetta e Maria Olga Mandetta
Thai de Melo


