O documentário “As Quatro Estações da Juventude” será exibido pela primeira vez em Campo Grande nesta quarta-feira (17). Dirigido por Essi Rafael, o longa levou 15 anos para ser concluído e já percorreu festivais e salas de cinema pelo Brasil, mas a sessão no Museu da Imagem e do Som (MIS) marca um retorno à cidade onde grande parte do processo de montagem e amadurecimento da obra aconteceu.
Natural de Aquidauana, Essi Rafael vê a exibição como um reencontro. “Para mim é um fechamento de ciclo. Campo Grande fez parte integral desse filme. Passei muitas noites editando aqui, mostrei as primeiras versões para colegas. Esse é um filme de Mato Grosso do Sul”, disse em entrevista ao Correio do Estado.
A produção é o primeiro longa-metragem da Casa de Cinema de Aquidauana e tem coprodução da LPB Content e Taus Audiovisuais. O filme ainda conta com trilha original do produtor e compositor Leo Copetti, que reside em Campo Grande.
A sessão promete também um debate com estudantes do curso de Audiovisual da UFMS, numa troca entre gerações que dialoga diretamente com a proposta do documentário.
JUVENTUDE EM TRANSFORMAÇÃO
“As Quatro Estações da Juventude” acompanha o percurso de estudantes da UFSCar, em São Carlos (SP), registrando transformações pessoais, sociais e políticas da vida universitária a partir de 2010. Ao longo de 100 horas de filmagens, condensadas em 1h40, o documentário busca retratar sonhos, incertezas e cenários que marcaram a juventude brasileira na última década.
Para Essi, o tempo foi tanto obstáculo quanto aliado. “Ninguém quer demorar 15 anos para terminar um filme. Mas a demora trouxe novas camadas. Eu comecei cheio de energia, depois vieram crises, mudanças de cidade, até a busca por financiamento. Foi um aprendizado de vida e de cinema”, afirmou.
DOIS MUNDOS, UMA ARTE
Além da carreira no audiovisual, Essi também atua no campo da diplomacia, onde lida com o formalismo que, segundo ele, contrasta com a liberdade criativa do cinema. “Eu nunca gostei da parte cerimonial, é muito engessada. Mas ao mesmo tempo, o contato com outras culturas e sociedades acabou trazendo repertório e paralelos para a narrativa dos filmes”, contou.
Hoje, o diretor concilia o trabalho diplomático com novos projetos. Um deles é “Minha Cidade Diz Adeus”, filme iniciado ainda em 2010, que parte do acervo audiovisual de Aquidauana e deve costurar registros caseiros, memórias locais e depoimentos de antigos moradores.
“Gosto de trabalhar com passagem de tempo. Esse novo projeto chega quase como um contraponto ao Quatro Estações: enquanto um foca na juventude, o outro dialoga com idosos da minha cidade”, explicou.
EXIBIÇÕES
O longa começou sua turnê em 5 de junho de 2024, na 64ª edição do Zlin Film Festival, tradicional festival europeu sobre juventude, na República Tcheca. Em 22 do mesmo mês, seguiu viagem para a Filadélfia para concorrer aos principais prêmios do Philadelphia Latino Arts & Film Festival (PHLAFF), evento que historicamente dá destaque para a cinematografia latino-americana nos EUA.
No Brasil, a estreia do filme ocorreu no Bonito CineSur, maior festival de cinema do Mato Grosso do Sul, em julho de 2024, ocasião em que o filme recebeu o prêmio do júri popular na mostra de filmes sul-matogrossenses.
O diretor Essi Rafael no Bonito CineSur 2024Em setembro, foi a vez da obra desembarcar no Canadá. O diretor Essi Rafael concorreu ao prêmio de Novos Diretores na 22ª edição do Vancouver Latin American Film Festival. O documentário também contou com exibições na Austrália, na Turquia e no Uruguai.
Em março de 2023, o filme havia ganho o prêmio WIP Puerto Lab para filmes em finalização no Festival Internacional de Cinema de Cartagena (FICCI), na Colômbia. Além de tradicional, é o evento mais antigo do gênero na América Latina.
O longa de estreia também já foi exibido em capitais como São Paulo e Brasília, no tradicional Cine Brasília, que recebeu 600 pessoas em sua sessão. Agora, além da circulação em cineclubes e universidades, Essi aguarda por espaço em plataformas digitais.
A recepção do público tem marcado o diretor. Em São Carlos, cidade das filmagens, ex-participantes do documentário se emocionaram ao rever suas trajetórias de mais de uma década atrás. “Esse dia valeu tudo. Foi a sensação de que o trabalho estava encerrado de forma honesta”, contou.
A ARTE DE DOCUMENTAR
Ao falar sobre o lugar dos documentários brasileiros na atualidade, Essi cita influências como Eduardo Coutinho, João Moreira Salles, Petra Costa e Eliza Capai. Para ele, a diversidade é a força desse cinema.
“O documentário pode ser político, intimista, híbrido. Não existe fórmula. O importante é encontrar uma ancoragem humana. O maior desafio não é o gênero, mas fazer um filme bem feito”, conclui.
Serviço:
Exibição do filme As Quatro Estações da Juventude
Data: 17 de setembro, às 19h
Local: Museu da Imagem e do Som de Campo Grande (Av. Fernando Corrêa da Costa, 559, Vila Carvalho, Campo Grande)
Bate-papo com Essi Rafael, diretor do filme, Leo Copetti, compositor da trilha sonora, e estudantes da UFMS
Entrada Gratuita



Neli Marlene Monteiro Tomari e Yosichico Tomari, que hoje comemoram bodas de ouro, 50 anos de casamento - Foto: Arquivo Pessoal
Donata Meirelles - Foto: Marcos Samerson


