O colorismo é um termo usado para diferenciar as várias tonalidades da pele negra, desde o tom mais claro ao mais escuro. Essas tonalidades permitem a inclusão ou a exclusão na sociedade.
Por exemplo, uma pessoa com a pele mais clara tende a ser melhor aceita nos meios sociais, isso porque sua cor se aproxima do elemento branco. Já para a pessoa de tez mais escura restam os lugares menos desejados e menos valorizados socialmente.
A definição parte de Irinéia Cesário. Doutora em educação étnico-racial, ela é uma das ativistas que estão à frente do “Alegria, Alegria!”. O evento – na noite de hoje, no espaço Laricas Cultural – propõe uma combinação de festa com engajamento e vai reunir seis cantoras sul-mato-grossenses no show, em formato de roda de samba, “Elas Cantam!”.
PAPO E SAMBA
A partir das 20h, Pretah, Lana, Isa, Aline Rios, Marta Cel e Karla Coronel soltam a voz para prestar uma homenagem a Elza Soares (1930-2022), Jovelina Pérola Negra (1944-1998) e outras divas da MPB e da música afro-brasileira. Antes, às 18h30min, as jovens intérpretes participam, ao lado de quem quiser chegar, de uma roda de conversa sobre o tema colorismo.
A entrada custa R$ 10, e o espaço cultural – na Rua Antônio Maria Coelho, nº 1.663, Vila Planalto – estará aberto a partir das 17h30min. O Laricas conta com brechó e galeria de arte, além de uma área externa que abriga apresentações e eventos.
“Como uma forma de racismo, o colorismo faculta, dependendo dos traços atribuídos à negritude de uma pessoa, a forma como ela vivenciará as diferentes formas de racismo durante sua vida”, fundamenta Irinéia, que vai mediar a conversa.
“Todos que dialogam sobre a questão racial, independentemente da etnia, estão convidados para o debate. A diversidade das etnias nos leva para esse colorismo. A diferença é que essa diversidade não tem que afastar as pessoas da ancestralidade”, convoca a educadora Romilda Pizani.
Embalada pelas ideias de expoentes dos direitos civis, como a filósofa norte-americana Angela Davis (“Quando uma mulher negra se movimenta, toda a estrutura da sociedade se movimenta com ela”), a dupla sabe do que está falando. Romilda e Irinéia, além de amigas, são parceiras de longa data em iniciativas de valorização da cultura e da população negra.
AFRO MS
Sobre a consciência de uma possível identidade afro-sul-mato-grossense, Romilda pontua que o Estado tem a particularidade de ter como vizinhos dois países, Paraguai e Bolívia.
“Somos também o segundo estado com a maior população indígena, e tudo isso influencia e dificulta para muitos a consciência de ‘quem eu sou’, talvez por falta de políticas públicas em uma linguagem popular, para que a população de massa entenda e se identifique como negros”, pontua Romilda.
Para a companheira de causa, a identidade sul-mato-grossense está sendo construída, justamente, com a contribuição de vários grupos e etnias.
“O importante é o respeito à diversidade, inclusive racial e étnica, e reconhecer-se como pertencente ao estado que nascemos ou que escolhemos viver”, afirma Irinéia.
O grande desafio do debate público sobre a questão racial, segundo ela, começa com o entendimento de que a militância precisa sair do gueto. “O desafio, a meu ver, é sensibilizar a sociedade brasileira de que não se trata de um tema específico da população negra, mas sim de todos os brasileiros”, afirma.
“E é claro que isso pressupõe abrir mão dos privilégios da branquitude, que têm a ver com a ideia de superioridade e da manutenção de poder de um único grupo social”, completa Irinéia.
POLÍTICAS PÚBLICAS
Romilda defende a existência de políticas públicas que atendam às demandas da população negra de forma contínua, e não pontual, dando como exemplo a política de cotas para acesso às universidades estatais.
“Essa política tem que ser completa. Quais os meios que os estudantes cotistas têm para permanecer nas universidades? Políticas públicas continuadas atendendo às especificidades da população negra”, alfineta.
“A educação é o caminho, seja em rodas de conversa, cursos de formação ou outros formatos”, diz a educadora, para quem o poder público, em Mato Grosso do Sul, até está tentando fazer o que seria a sua parte, mas “não da forma que precisamos, as demandas são inúmeras e precisamos de vontade política para colocá-las em prática”.
Tanto no governo estadual quanto no municipal, lembra Irinéia, existem Pastas que desenvolvem políticas públicas específicas para a população negra sul-mato-grossense.
“Agora, é importante a participação da população nessas e em outras instâncias públicas, na proposição e no acompanhamento dessas políticas”, diz a especialista no tema.
Irinéia Cesário destaca a importância de se colocar em discussão as questões que envolvem a população negra do Estado, “como moradia, saúde, geração de renda, educação e cultura”. E, principalmente, frisa a pesquisadora, “a comunidade tem que se perceber pertencente ao lugar em que está inserida”.




