Na quarta-feira, 26 de agosto, completam-se 121 anos da emancipação do antigo Arraial de Santo Antônio de Campo Grande. Foi nessa data, em 1899, que a atual capital de Mato Grosso do Sul tornou-se município e ganhou autonomia administrativa em relação a Nioaque.
Mas a história da cidade começa oficialmente em 21 de junho de 1872, quando José Antônio Pereira (1825-1900) conhece a região. Nascido em Barbacena (MG), Pereira viajava em busca de terras.
Após um reconhecimento inicial, ele deixa prepostos no novo território e volta a Minas para buscar a família, estabelecendo-se em definitivo por aqui somente em 1875.
A primeira chegada do desbravador mineiro é o marco zero de “Campo Grande: Uma Cidade Cheia de Encantos” (Life Editora, 2020), livro voltado para o público infantil, escrito pela pedagoga Luci Carlos de Andrade, que será lançado na segunda-feira, às 20h, durante uma live a ser transmitida pelo Facebook com a participação da autora, do ilustrador Josamar Vieira de França Júnior e outros convidados.
Fruto de uma pesquisa iniciada em 2015, o livro começou a tomar forma há dois anos e surgiu do desejo de contar a “história da fundação” para a criançada.
“Resolvi escrever também para mostrar quanta beleza tem nossa cidade, lugares turísticos, toda a cultura, paisagens, monumentos”, afirma Luci, que é professora da UFMS e leciona desde 1996.
“Em 2018, depois de muita pesquisa histórica, coloquei o esboço no papel; fui lapidando, pegando inúmeras outras fontes e validando tudo”, conta a professora de 62 anos, “porque, enquanto escritora, não posso repassar algo de forma equivocada”.
Apesar da seriedade com que conduziu o projeto, bancado, inclusive, com recursos próprios, Luci fica a dever em alguns aspectos, sobretudo por centrar o relato exclusivamente na figura de José Antônio Pereira e em uma visão de superfície, às vezes, desenvolvimentista e ingênua de como Campo Grande chegou ao século 21.
Embora voltado para crianças, sem especificação de faixa etária, o livro que, segundo a autora, deve “servir de referência” para o educador infantil, não se ocupa, em nenhum momento, de registrar a presença dos imigrantes – libaneses e japoneses, por exemplo –, que estão na capital desde o início do século passado.
Do mesmo modo, os afrodescendentes e os povos indígenas não aparecem nas páginas da publicação. Isso em uma cidade que conta com o Parque das Nações Indígenas, com direito a museu e monumentos, e um busto da Tia Eva, a escrava nascida em Goiás que chegou em 1905 e dá nome a uma rua e a uma comunidade de Campo Grande.
Aliás, parece uma ironia que um desenho com a imagem do PNI seja a ilustração da capa. Já é tão irregular o cumprimento da legislação que garantiria, em sala de aula, os conteúdos relacionados aos povos historicamente subjugados – leis federais 10.639/03 e 11.645/08 – para alunos do ensino fundamental e médio. Seria uma boa oportunidade.
ORIGENS
Tataraneta de José Antônio Pereira, Luci Carlos de Andrade diz ter encontrado muitas informações que tiveram de ficar de fora por conta do formato da proposta de seu livro. Por exemplo o caráter familiar da formação da população de Campo Grande. Luci explica que “a primeira igreja foi inaugurada por três enlaces matrimoniais, em que se casaram uma filha e dois filhos do José Antônio com os filhos do Manuel Olivério, que era seu amigo mais próximo”.
A pedagoga destaca que o seu ancestral pioneiro era um exímio benzedeiro.
“Ele cuidava dos doentes do povoado e era excelente parteiro; as mulheres confiavam muito nele no momento de dar à luz. Mais tarde, ele conseguiu ajuda de uma escrava, que ficou sendo membro da família para ajudar nessas questões”. Mas por que não incluir essas passagens na narrativa? “Isso não coube no livro, não deu para explorar tudo”, justifica a professora.
“Teria de fazer outra história para abordar outras questões, porque esse livro só tem 20 páginas”. A solução é complementar com outras fontes e buscar novas informações, conforme recomendação da própria autora.
“Campo Grande: Uma Cidade Cheia de Encantos” sai com a chancela do selo Life Kids e está à venda por R$ 50 reais, no site da editora e na Livraria Lê – Rua Antônio Maria Coelho, 3862, tel. (67) 3327-0004.