Além dos escritores de outros estados e países, a literatura sul-mato-grossense também marca forte presença na 1ª Bienal Pantanal – Bienal do Livro de Mato Grosso do Sul, no Centro de Convenções Rubens Gil de Camillo. No estande do projeto Leia MS, um dos destaques é a participação dos autores da Vida Produções, com relançamento de oito títulos regionais. As sessões de autógrafos começaram ontem e seguem até amanhã. Raquel Naveira e Jaminho estão entre os autores que assinam as obras.
A diversidade de estilos e gerações aguça o pacote da iniciativa. Quem abriu a agenda de bate-papo e autógrafos, nesta quarta-feira, foi a pedagoga Anna Dichoff, autora de “Careca de Saber”, uma sensível narrativa de esperança e superação protagonizada por uma menina de 6 anos que perde os cabelos em decorrência de uma enfermidade.
“A importância do livro estar nas bibliotecas de todo o Estado representa que mais mãozinhas poderão manusear o livro e ter uma visão de amor como possibilidade de luta contra muitos males”, afirma a autora.
Hoje, quatro títulos serão relançados: “No Mundo Encantado de Luciana”, de Raquel Naveira; “Fábula da Ilha”, de Douglas Calvis Crelis ; “Às Margens do Rio Anhanduí – Histórias das famílias de João Vieira de Menezes e Maria Lino Pereira”, de Leiner Vieira Mello; e “Onça Pitoca”, de Jaminho. Amanhã será a vez de “Histórias da Vovó Léla – Contos Pantaneiros”, de Cristiane Silva; “É Assim que Eu Vejo as Estrelas”, de Goretti de Moura; e “Os Encantos de Aurora”, de Mara Calvis.
O projeto Leia MS é um edital do governo do Estado que estimula a reedição e a circulação de títulos de autores sul-mato-grossenses. Além das versões impressas, os livros também ficarão disponíveis gratuitamente no aplicativo MS Digital, na aba Leia MS, por dois anos, além de fazerem parte do acervo do Sistema Estadual de Bibliotecas Públicas de Mato Grosso do Sul.
VIVA E PULSANTE
“Estar na Bienal com autores que representam tantas vozes e estilos é uma forma de mostrar que a literatura sul-mato-grossense está viva, pulsante e em movimento. O Leia MS tem nos permitido chegar a novos leitores e fortalecer o orgulho de pertencer a essa cena literária tão rica”, afirma a escritora Mara Calvis, que está à frente da Vida Produções, responsável pela publicação das obras.
RAQUEL
Cenários povoados por castelos, bonecos, joaninhas, trenzinhos, pássaros e estrelas ganham vida em “No Mundo Encantado de Luciana”, resultado do encontro criativo entre a escritora Raquel Naveira e a artista visual Luciana Rondon. A narrativa nasceu das telas mágicas de Luciana, de estilo naïf e primitivista, que revelam um universo de cores, espontaneidade e imaginação. Inspirada por esse repertório, Raquel transformou imagens em palavras, costurando lembranças da infância em comum em Bela Vista , cidade de fronteira entre Brasil e Paraguai, com referências ao modernismo brasileiro, evocando artistas como Tarsila do Amaral e Anita Malfatti.
Mais do que um livro ilustrado, a obra é um diálogo entre literatura e artes plásticas, em que palavra e cor se entrelaçam. O texto poético se abre em metáforas, memórias e sonhos, enquanto as ilustrações transportam o leitor a uma dimensão encantada, marcada pela ingenuidade do olhar infantil e a riqueza da natureza fronteiriça.
“No Mundo Encantado de Luciana” também foi concebido como um material que dialoga com a educação. Professores encontram no livro sugestões de projetos para sala de aula, que vão desde atividades de leitura e escrita até explorações artísticas.
Crianças e adolescentes, por sua vez, são convidados a experimentar um mergulho criativo, descobrindo no desenho e na palavra caminhos para expressar o próprio imaginário. “Penetrar na Casa da Beleza é fundamental. É disso que trata o livro: da beleza da palavra e da cor, da saudade, da natureza e dos sonhos”, resume Raquel, que integra o panteão da Academia Sul-Mato-Grossense de Letras (ASL).
EM FAMÍLIA
“Esta obra representa uma grande conquista e a realização de um sonho: poder contribuir para o registro e a partilha das histórias de nossa família. Ao mesmo tempo, é um convite para que outras famílias também preservem suas memórias, evitando que se percam os momentos vividos por pessoas que fizeram e fazem parte da história do nosso estado. A família é um grande legado”, diz a professora Leiner Vieira Mello, que assina “Às Margens do Rio Anhanduí”.
O texto nasceu do desejo de não deixar se perderem as lembranças de lutas e conquistas da família de Leiner. Às margens do Rio Anhanduí, bisavós, avós, pais e mães lutaram para construir novas moradas e deixar como herança não apenas a terra e o trabalho, mas também a cultura, a culinária, as danças, as músicas, as rezas, as orações e os causos que moldaram o cotidiano de muitas famílias sul-mato-grossenses.
“Cada conto é mais do que um texto, é um pedaço de memória viva”, resume Cristiane Silva, que escreveu “Histórias da Vovó Léla” durante o isolamento da pandemia. “Foi um misto de alegria e saudade. Escrever foi também reviver a voz, o cheiro e a presença de quem já não está mais entre nós”, afirma a autora.
Inspirada nas narrativas orais contadas por Arlete de Oliveira, sua avó, Cristiane recria histórias que misturam lendas, causos e lembranças, construindo uma ponte entre a tradição oral e a literatura contemporânea.


