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Professor estreia na literatura com trama de jovem nos anos 80

Professor estreia na literatura com trama de jovem nos anos 80

THIAGO ANDRADE

12/09/2016 - 15h46
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Escrever não é novidade para Ravel Giordano Paz, professor de Literatura na Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS). Ele é autor de dezenas de artigos e outras produções científicas; em 2009, publicou “Serenidade e fúria: o sublime assimachadiano”, resultado da tese de doutorado em Letras Vernáculas pela USP, e em 2012 organizou o livro “A indústria radical: leituras de cinema como arte-inquietação”. 

No entanto, apesar de anos se dedicando ao estudo literário, esta é a primeira vez que o autor publica uma obra ficcional. “Os meninos da Colina” é narrado por Jean, um garoto normal, mas um pouco tímido, que acabou de se mudar para a Colina, bairro rico em uma cidade de porte médio, Vinilândia. Ao entrar na escola do bairro, ele faz novas amizades, participa das farras da turma e se envolve em algumas confusões, além de se apaixonar por uma garota, Cláudia.

“A certa altura, as coisas começam a se complicar, chegando a ganhar contornos de tragédia, alguns fatos escabrosos se revelam, mas isso é melhor deixar para o leitor descobrir”, explica o autor. A narrativa é ambientada nos anos 80, às vésperas da eleição de Fernando Collor. “Ao lado de temas como amor, amizade, rivalidades, violência, sexualidade e relações entre pais e filhos, há um matiz levemente político, mas nada, eu espero, que pese na história”, comenta.

A obra é voltada para o público jovem, mas como ressalta Ramiro Giroldo, que assina a orelha do livro, “o leitor que não é mais tão jovem e tem a memória de suas descobertas já embotadas pela passagem dos anos redescobrirá lembranças doces, agridoces, amargas”. Para Ravel, o livro poderá ser lido tranquilamente por adultos, sobretudo por resgatar um momento histórico, mesmo que esse não seja o foco da obra.

Seja por acaso ou pelo “espírito do tempo”, “Os meninos da Colina” se insere entre as inúmeras obras ficcionais – literárias, mas também audiovisuais – que voltam o olhar para os anos 80. A série “Stranger Things”, da Netflix, fez sucesso ao recuperar as referências que marcaram época. 

“A proposta é bem diferente, mas a série também atesta que esse período tem despertado interesse ultimamente, por motivos que eu não saberia explicar, mas que talvez tenham a ver com o momento em que as pessoas que foram jovens naquela época estão vivendo agora”, comenta. Segundo Ravel, outro exemplo que teria mais a ver com seu livro é o filme “Califórnia”, dirigido por Marina Person, com Caio Blatt.

MUDANÇA DE ARES

De fato, Ravel se consolidou como um pesquisador e seguiu o caminho de quem trilha a formação acadêmica: se tornar professor. Mestre em Teoria e História da Literatura, pela Universidade Estadual de Campinas, e doutor em Letras, pela Universidade de São Paulo, Ravel continua a estudar a literatura a partir das reflexões de Jacques Derrida. “Esse é um processo mais árduo, que envolve questões complexas, sobre a liberdade e a dimensão ética tanto da atividade literária quanto da crítica”, pontua.

O autor de “Os Meninos da Colina” considera que produzir algo artisticamente é altamente recomendável para quem estuda literatura ou artes em geral. Assim, ele decidiu seguir o próprio conselho e colocar no papel a história de Jean e seus colegas. 

“A tentativa de escrever ficção não é totalmente desligada de minha atividade como estudioso, principalmente de literatura, seja porque também na escrita criativa eu exerça meu senso crítico, seja porque minhas leituras literárias, e mesmo teóricas, de certa forma influenciam meu trabalho criativo”, explica.

Segundo Ravel, há algo de biográfico na obra. “Acho que eu mesmo estou ‘espalhado’ em vários personagens”, brinca. O autor afirma que as experiências pessoais estão presente, mas foram modificadas ou misturadas a outras experiências, de outras épocas. 

“Misturei lugares, pessoas, experiências e, claro, realidade e ficção. Alguns personagens foram inspirados em diferentes pessoas, que acabaram se fundindo em uma só, ou, pelo contrário, se dividindo em mais de uma”, argumenta. 

O autor pontua ainda que há uma “leve intenção” de imitar certos aspectos das histórias de Machado de Assis, com algo de sua sutileza irônica e sua metalinguagem. “Espero que soe mais como uma homenagem do que como imitação”, brinca.

“Os Meninos da Colina” é a estreia de Ravel como escritor ficcional, mas ele afirma que há outros projetos em andamento. “Tenho um volume de contos em andamento e um romance satírico pronto, além de outros projetos esboçados ou iniciados, mas ainda estou em dúvida quanto a publicá-los”, explica.

Em relação ao romance, que tem como títulos provisórios “Pustulário” ou “O Rol dos Omissos”, ele acredita que é preciso maturá-lo mais: “me distanciar um pouco para, depois, voltar a ele com outros olhos”, detalha. Ravel ressalta que o livro que está sendo lançado, na verdade, foi escrito há cinco anos.

“Quando decidi publicá-lo, mexi bastante no texto original. Esse distanciamento crítico é fundamental”, argumenta o autor.

ARARUNA FEST

Confira entrevista exclusiva com Guilherme Isnard, do grupo ZERØ, e Philippe Seabra, da Plebe Rude

Sucesso nos anos 1980, bandas estão no line-up de primeira edição de festival que será realizado amanhã, no Bosque Expo, e terá Frejat em 2026; Lobão e Érica Espíndola também se apresentam nesta quinta-feira, com ingressos via Sympla a partir de R$ 110

10/12/2025 10h00

Guilherme Isnard e Philippe Seabra

Guilherme Isnard e Philippe Seabra Montagem: Sergio Zalis / Caru Leão

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Guilherme Isnard

A formação que me acompanhará no Araruna Fest está comigo há sete anos. É a primeira vez em que não precisei me preocupar em criar um “organismo” musical, o organismo já existia, são amigos que tocam juntos desde a adolescência e essa cumplicidade musical será apreciada no palco do Bosque Expo. Daniel Viana [guitarra], Nivaldo Ramos [baixo], Gustavo Wermelinger [bateria] e Caius Marins [teclados].

No repertório, teremos os maiores sucessos da banda, algumas canções do álbum que completa 40 anos e versões de algumas canções dos colegas de geração.

Tenho orgulho de ter canalizado composições como “Quimeras” e “Agora Eu Sei”, que atravessaram quatro décadas e continuam atuais, conquistando novas legiões de fãs. Já estamos na terceira geração de seguidores.

Conto com a paciência do público para conhecer algumas das novas composições, que entremearei com o repertório clássico e versões de sucessos dos amigos dos anos 1980.

O público pode esperar um show de rock autoral com a experiência cênica e musical de um artista que tem 43 anos de carreira e se encontra no prime do recurso vocal.

Campo Grande

Sim, é nossa primeira vez [ZERØ] na cidade e tenho muita curiosidade tanto pela geografia quanto pela população e seu gosto musical. Vou aproveitar e esticar até Bonito após o show, para conhecer as belezas naturais do Estado.

Fomos convidados pelo Patrick Gontier, que tem a visão de transformar Campo Grande em um grande polo cultural da região, uma ideia maravilhosa que aprovamos e incentivamos.

Tenho a impressão de que o rock talvez não seja a taça de chá da maioria da população de um estado que tem a economia focada no agronegócio e, provavelmente, está mais familiarizada com a música sertaneja.

Mas como o rock é uma fusão do blues com a música country, tenho certeza de que vamos divertir o público com uma dose caprichada dessa mistura fina.

Guilherme Isnard e Philippe SeabraLobão também estará em Campo Grande para o Araruna Fest - Foto: Reprodução / Julia Missagia

Plebe e Lobão

Plebe Rude e ZERØ lançaram os primeiros álbuns [“Passos no Escuro” e “O Concreto Já Rachou”] juntos, em 1985. Já fizemos vários shows reeditando esse primeiro momento de ambas as bandas, como no Circo Voador, no Rio, e no Mr. Rock, em Belo Horizonte, sempre com lotação esgotada.

Com Lobão, será um reencontro de amigos de infância no palco. Fizemos juntos a nossa primeira banda, Grêmio Recreativo Nádegas Devagar, quando estudávamos na mesma turma no 2º ano do Colégio Rio de Janeiro.

 

ZERO E ALÉM

Sou um artista que se sente bem trabalhando em grupo. Muitos me cobram uma carreira solo, mas eu tenho apreço pelo trabalho coletivo.

Sem querer ser nem parecer absolutista, ZERØ sou eu, eu sou o ZERØ.

Guilherme Isnard e Philippe SeabraGuilherme Isnard - Foto: Sergio Zalis

Estamos na enésima formação e, além desta que estará comigo no Araruna Fest, tenho outra em São Paulo, com o Marcos Kleine, do Ultraje a Rigor, por questões logísticas.

Aos 68 anos, criei e ensaio quatro bandas. A Rádio Nacional, só com integrantes de bandas oitentistas: o Alec Haiat [guitarrista do Metrô], Rocco Bid [baterista do Tokyo], Freddy Haiat [tecladista do Degradée e do ZERØ] e Beto Birger [baixista do ZERØ], para revisitar o repertório da década mais profícua do rock nacional e atender à demanda de shows corporativos, bailes e clubes.

As duas formações em atividade do ZERØ, a que já descrevi e que me acompanhará em Campo Grande e a paulistana que, além do Kleine [guitarrista do Ultraje], tem Caio Pamplona [baixista do Kiko Zambianchi], Hans Zeh [tecladista do YUYU 20] e André Repetto [baterista do Lost 80s].

E a Isnard, que é uma banda autoral de rock no estilo pós-punk dançante, porque o coroa aqui merece se divertir. Quando elas se estabelecerem, vou me ocupar de formar meu combo de samba.

Longevidade

Eu diria que sou um artista vivo que não para de compor e cantar. Posso afirmar que, após 43 anos de carreira, faço ambas as coisas muito melhor. É o que vou demonstrar ao vivo, no dia 11, no Bosque dos Ipês. Costumo dizer que os fãs e a minha voz são meu maior patrimônio.

Creio ter feito o necessário para mantê-los. Os presentes terão a oportunidade de conferir nesta quinta-feira. Meu parceiro mais constante desde a pandemia é o maestro Rildo Hora, tenho um imenso repertório de sambas-canção na raiz da tradição que espero apresentar ao público no momento oportuno.

Quanto às “agruras do rock”, eu sou, sim, um sobrevivente, porque a minha geração atravessou várias décadas de exageros, epidemias e tragédias, mas eu sou um roqueiro “família”, o que é um perfil atípico. Não me entreguei a excessos porque sempre tive bem claro que ser artista é o meu trabalho, não é quem sou.

A adoração, amor e admiração que os fãs sentem por quem está no palco não são dirigidos à minha pessoa, mas ao que represento naquele momento. Portanto, nunca senti a necessidade de compensar a falta de aplauso com álcool, sexo ou drogas.

Rock 80 e hoje

Penso que o boom do rock nos anos 1980 foi um momento atípico em que um estilo musical que é primordialmente contestatório, rebelde e contracultural se transformou na MPB. O lugar do rock é na trincheira, não no mainstream.

Não é verdade que tenha morrido. O rock continua vivo no underground, que é o seu lugar. Existem bandas ótimas cumprindo o papel da rebeldia e do inconformismo e existem outras que buscam o sucesso comercial. Isso sempre aconteceu e acontecerá, mas não desmerece o gênero como um todo.

Preço do Sucesso

Para quem o busca como finalidade, o preço do sucesso deve ser enorme. Pra quem busca fazer arte, o preço não significa nada porque o resultado é a satisfação pessoal, a sensação de dever cumprido.

“A arte não ama os covardes”, frase de Vinicius de Moraes, é o meu moto e, para quem pensa assim, nenhum preço é alto demais.

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NOITE NATALINA

Como montar uma seleção musical de fim de ano que agrade a todas as gerações

Uma seleção musical eficiente acompanha a curva emocional da festa. No início, músicas mais suaves ajudam a embalar conversas e reencontros

10/12/2025 05h00

IA

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Reunir a família no fim de ano é um exercício de conciliação: gostos diferentes, ritmos diversos e histórias que se cruzam na sala de estar. E, quando o assunto é música, esse desafio ganha ainda mais camadas. Afinal, como montar uma playlist capaz de agradar da avó que ama Roberto Carlos ao sobrinho que só escuta trap?

Especialistas em cultura e comportamento lembram que o segredo está menos em buscar “a música perfeita” e mais em construir uma narrativa sonora que una memórias, novidade e, principalmente, afeto.

O poder da memória afetiva

Fim de ano tem cheiro, cor e, claro, som. Para a maioria dos brasileiros, certas músicas acionam lembranças de infância, de festas de família e de rituais de passagem. Por isso, incluir clássicos é quase obrigatório. Eles funcionam como um ponto de partida e criam um território comum entre gerações.

Algumas músicas que tradicionalmente geram essa conexão:

  • Roberto Carlos – "Amigo"
  • Tim Maia – "Do Leme ao Pontal"
  • Gal Costa – "Meu Nome é Gal"
  • Elis Regina & Tom Jobim – "Águas de Março"

A ponte entre o antigo e o novo

Depois de abrir a noite com clássicos, a playlist pode ganhar frescor com músicas contemporâneas que dialoguem com elementos tradicionais versões acústicas, regravações e feats entre artistas de épocas diferentes. Essa abordagem reduz a distância geracional e cria uma transição suave.

Sugestões que equilibram nostalgia e atualidade:

  • Djavan – "Oceano" (muito conhecida por todas as idades)
  • Iza – "Dona de Mim" (forte, contemporânea e elegante)
  • Anavitória – "Trevo" (leve e acolhedora, funciona para qualquer público)
  • Jão – "Amor Pirata" (pop atual sem estranhar aos mais velhos)

Ritmo, energia e o clima da noite

Uma seleção musical eficiente acompanha a curva emocional da festa. No início, músicas mais suaves ajudam a embalar conversas e reencontros.

Conforme a noite avança, o ritmo pode subir, trazendo pop, sertanejo, pagode ou o que fizer sentido para o grupo. O importante é evitar rupturas bruscas: a playlist deve funcionar como trilha sonora, não como disputa.

Inclua todos no processo

Uma estratégia que funciona muito bem é pedir para cada pessoa da família escolher duas músicas que marcaram seu ano. Além de deixar a seleção colaborativa, a playlist se transforma em um registro afetivo da trajetória de todos ali presentes.

Tecnologia como aliada

Plataformas como Spotify, Deezer e Apple Music oferecem playlists prontas, mixes automáticos e sessões colaborativas. É possível, inclusive, permitir que qualquer convidado sugira músicas no celular sem interromper a reprodução.

No fim das contas, música é encontro

Montar uma playlist de fim de ano não é sobre agradar perfeitamente a todos isso seria impossível. É sobre construir pontos de conexão, celebrar quem esteve junto e criar memórias que, daqui a muitos anos, serão lembradas ao som de um refrão compartilhado.

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