"A forma como o nosso cinema é admirado lá fora me emocionou muito. Me senti honrada de estar ali, não só como atriz do filme, mas como uma brasileira, representando um país que eu amo profundamente".
Isadora Ruppert está no elenco do filme “O Agente Secreto”, dirigido por Kleber Mendonça Filho, que estreou nos cinemas brasileiros no dia 6 de novembro. O longa, produzido por Emilie Lesclaux e CinemaScópio, estreou mundialmente no 78º Festival de Cannes, em maio de 2025, na Seção de Competição Oficial, e, desde então, participou de diversos festivais importantes.
“Acredito profundamente na força desse projeto. É um filme necessário sobre a história recente do Brasil, sobre memória e poder. Ele provoca, questiona, incomoda e, ao mesmo tempo, é profundamente envolvente do ponto de vista estético e narrativo”, diz atriz.
Isadora estava presente no Festival de Cannes, quando Wagner Moura e Kleber Mendonça Filho receberam os prêmios nas categorias Melhor Ator e Melhor Diretor, respectivamente, por “O Agente Secreto”. Ela descreve a experiência como inesquecível: “Foi incrível aquele grande público, na França, celebrando os prêmios brasileiros.
A forma como o nosso cinema é admirado lá fora me emocionou muito. Me senti honrada de estar ali, não só como atriz do filme, mas como uma brasileira, representando um país que eu amo profundamente”. Para ela, o reconhecimento internacional reforça a importância de continuar contando histórias brasileiras com coragem e sensibilidade. “O mundo está atento ao que produzimos. Nosso cinema tem potência, tem voz, tem alma”, diz.
Isadora participou também do longa “Ainda Estou Aqui”, vencedor do Oscar 2025 na categoria Melhor Filme Internacional, como Laura Gasparian. Dessa vez é Daniela, em “O Agente Secreto”, que foi escolhido pela Academia Brasileira de Cinema para concorrer ao Oscar de Melhor Filme Internacional em 2026. “Sempre sonhei em fazer um filme que chegasse ao Oscar, mas nunca imaginei que isso aconteceria tão rápido, aos 26 anos. É muita sorte”, confessa.
No cinema, Isadora, esteve também em “Medusa”, no papel de “Dani”, de Anita Rocha da Silveira, que estreou em Cannes, em 2021, na Quinzena dos Realizadores. Na TV, estará no elenco da série “BR 70”, da Netflix, ainda inédita, e a acabou de fazer uma participação na novela Dona de Mim contracenando com a atriz Flora Camolese, a Nina da trama das 19 horas.
No teatro, Isadora tem uma sólida trajetória. Recentemente, a atriz marcou presença na reabertura do Teatro Glaucio Gil, integrando o elenco da peça “Cabaré TV”, dirigida por Christina Streva e Juracy de Oliveira, em que contracenou com Gilberto Gawronski. Com a sua companhia, criada junto com amigos, a “Má Companhia de Teatro”, Isadora estará em cartaz com a peça “Dia de Jogo”, na Casa de Cultura Laura Alvim, de 5 a 21 de dezembro.
Nas redes sociais, Isadora apresenta o quadro “Pequenas Epifanias”, ao lado da amiga Beatriz Adler, escritora e psicóloga. No projeto, Beatriz assina os textos, enquanto Isadora dá vida às palavras com interpretações bem-humoradas e descontraídas que já ultrapassaram a marca de 300 mil visualizações. Mais do que entretenimento, Isadora enxerga o quadro como uma forma de manter-se ativa na atuação, divulgar seu trabalho artístico e abordar, com leveza e sensibilidade, temas que fazem parte da sociedade contemporânea.
A relação de Isadora com a temática de “O Agente Secreto” vai muito além da ficção. Ela carrega, em sua própria história, as marcas dos anos sombrios da ditadura militar no Brasil: “Minha avó foi perseguida pela ditadura. “O Agente Secreto” é o segundo filme que faço que se passa nesse período, e eu sinto isso quase como uma missão. Minha vó foi perseguida por mais de 20 anos. Ela tinha uma companhia de teatro de bonecos em Curitiba e teve que abandonar tudo para se esconder”.
Isadora faz dessa memória familiar um combustível para sua arte. “Quando estou em um projeto que é ambientado nesse período, sinto que estou também contando a história da minha família, e de tantas outras famílias brasileiras que viveram traumas parecidos. Não é só um papel, é algo que atravessa”, declara .
Sobre a repercussão do longa após a estreia, ela diz: “Foram incríveis esses primeiros dias após a estreia do filme. Muitas pessoas vieram falar comigo e todo mundo diz: “Nossa, é um susto quando você aparece”. Eu fico muito feliz com tudo isso, e com o sucesso que o filme está fazendo”.
A atriz é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ela fala sobre carreira, teatro, sucesso, filmes, entre eles "O Agente Secreto" indicado ao Oscar.
A atriz Isadora Ruppert é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Julieta Bacchin - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia VianaCE - Você participou de dois filmes premiados internacionalmente. Podemos dizer que é uma atriz pé quente?
IR - Esses dias li uma frase que representa muito tudo isso que está acontecendo: “Sorte é quando a oportunidade encontra alguém preparado”, de Sêneca. Sinto que isso descreve perfeitamente o momento que estou vivendo. Eu me preparo há anos para dar o meu melhor em cada trabalho que faço; ser atriz é um ofício árduo, no qual me debruço por completo.
Me sinto muito sortuda por esses dois filmes terem me encontrado, “O Agente Secreto” e “Ainda Estou Aqui”, e por eles estarem chegando tão longe. Isso é consequência de um esforço coletivo gigantesco de todas as pessoas que compõem a equipe de ambos os filmes. E confesso que estou gostando desse apelido que as pessoas têm me dado: “pé de coelho do cinema brasileiro”. Que venham muitos outros filmes como esses, e que eles inspirem ainda mais diretores a me convidarem para novas parcerias (risos).
CE - Como foi estar em Cannes e sentir a recepção ao filme?
IR - Sempre foi um sonho para mim ir a Cannes, algo que eu carregava comigo há anos. Esses dias, relendo uma conversa com meu namorado, encontrei um vídeo do tapete vermelho que eu tinha enviado para ele no WhatsApp em 2021 e, embaixo, mandei uma mensagem assim: “amor, eu tenho certeza de que um dia vou estar lá”. E cortar para 2025… eu fui.
E foi exatamente como eu sonhei. Ver aquelas pessoas ovacionando o nosso cinema, sentir que eu fazia parte do cinema internacional e que estava ali representando o meu país… eu me senti muito brasileira. Foi um sonho realizado!
CE - Como é estar em filmes que tratam de uma época que também marcou sua história familiar?
IR - Eu sinto isso como uma missão, sabe? A ditadura militar está muito entranhada na minha história familiar, porque a minha avó foi perseguida por mais de 20 anos. Então, de certa forma, esse assunto sempre foi muito presente para mim.
Eu cresci ouvindo minha avó contar as histórias do que viveu. Por isso, falar sobre esse tema é muito natural para mim, porque faz parte da minha própria história. Mas, ao mesmo tempo, sinto isso como uma missão — porque esse foi um período muito difícil da nossa história como país e não pode ser esquecido, para que não se repita.
A atriz Isadora Ruppert - DivulgaçãoCE - Como você se preparou para a Daniela, de O agente Secreto?
IR - Aconteceu uma coincidência: na época em que recebi o teste para fazer a Daniela, eu estava realizando uma pesquisa profunda no Arquivo Nacional sobre a vinda da família paterna da Polônia para o Brasil. Então, eu tive um contato muito intenso com arquivos, e sinto que usei bastante dessa experiência para construir a Daniela. Outra coisa que também me ajudou na construção da personagem foi realmente compreender sobre do que filme tratava, a história dele. E pude perceber isso conversando com o Kleber e com outras pessoas da equipe. Foi muito importante para mim entender o todo para conseguir criar a minha personagem dentro do filme.
CE - Recife é importante na sua trajetória. Qual sua relação com Recife?
IR - Recife ocupa um lugar muito especial na minha vida, tanto artisticamente quanto pessoalmente. Essa relação tão forte nasceu a partir da cultura popular — principalmente da minha conexão com o Maracatu de Baque Virado. Hoje, viajar para lá todos os anos se tornou quase um compromisso afetivo. Em Recife, aprendi muita coisa, fiz amigos que levo para a vida e reencontros que sempre me fazem crescer. É sempre muito bom voltar para lá.
CE - Você iniciou sua carreira no teatro. Qual a importância do teatro na sua formação como atriz?
IR - O teatro é central em tudo que eu faço. Ele me formou como pessoa: foi onde fiz amigos, encontrei pessoas que amo e realmente me descobri. Comecei muito cedo, e sem ele eu certamente não teria me tornado atriz nem compreendido a dimensão de ser artista — que é algo sério, uma missão mesmo. O teatro me fez entender quem eu sou, a essência do ofício da atuação e a ter compromisso com o meu fazer artístico.
CE - Quem são suas referências artísticas?
IR - São muitas influências... Mas, com certeza, Maria Clara Machado: que fundou O Tablado e onde, praticamente, é minha segunda casa. Foi lá que aprendi tudo. David Lynch também me marcou muito, ele me ensinou sobre a importância de estar conectado com o próprio ser e sobre Meditação Transcendental, que realmente transformou a minha vida. E o Kleber, claro. Comecei a ver os filmes dele muito nova, e isso me fez criar uma conexão profunda com o nosso cinema.
A atriz Isadora Ruppert é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Julieta Bacchin - Diagramação: Denis Felipe - Por: Flávia VianaCE - Você apresenta o quadro “Pequenas Epifanias” nas redes. Considera importante para um ator estar na Redes Sociais?
IR - Sinto que, hoje em dia — até por fazer parte de uma geração muito presente nas redes — elas podem ser uma oportunidade para que alguém te veja, um meio de mostrar seu trabalho. Acho que isso é especialmente válido para um jovem ator, já que muitos diretores de elenco e até diretores usam o Instagram como plataforma de busca.
Mesmo assim, tento não ficar bitolada com isso: faço o que posso, dentro dos meus limites. O “Pequenas Epifanias” surgiu justamente como uma forma de entrar nessa lógica de maneira leve e divertida, além de ser um quadro que permite às pessoas conhecerem melhor o meu trabalho.
CE - Você atua em teatro, cinema, internet e estará em breve no streaming. Tem preferência por algum veículo?
IR - Eu sempre digo: “Enquanto eu estiver atuando, eu estou feliz”. Sabemos como é a realidade. Só de poder exercer meu ofício, seja na TV, streaming, cinema ou teatro, já me sinto realizada. O importante é estar ativa.
Você ainda é jovem e participou de produções de peso no mercado Brasileiro. O que aprendeu com essas experiências?
Eu aprendi muito. Sinto que a gente aprende de verdade quando coloca a mão na massa, e o set, para mim, representa exatamente isso. Aprendo muito ao observar e ouvir as pessoas ao meu redor e tudo o que acontece ali. Sinto que todos os projetos dos quais participei foram, de fato, uma grande escola. Ver grandes diretores dirigindo e grandes atores em ação certamente fez com que eu crescesse muito, tanto como profissional quanto como pessoa.
CE - Quais seus projetos futuros?
IR - Ano que vem vai ser recheado de coisas boas, mas ainda não posso entrar em muitos detalhes. Ainda esse ano, vou estrear a peça “Dia de Jogo” no dia 5 de dezembro, junto com a minha companhia de teatro, Má Companhia. Ficaremos em cartaz até 21 de dezembro, na Casa de Cultura Laura Alvim, todas as sextas, sábados e domingos.
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