Correio B

Psicologia

Testes de idade mental: o que eles revelam?

Saiba como funcionam os populares testes, o quão confiáveis são e o que influencia a idade mental das pessoas

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Nos últimos anos, os testes de idade mental têm ganhado popularidade, sendo amplamente utilizados em contextos diversos, desde entretenimento até avaliações psicológicas sérias. Mas até que ponto esses testes são confiáveis? 

Para entender melhor essa questão, o Correio B entrevistou a psicóloga Cleo Medeiros, que nos explicou o funcionamento e a validade desses testes, bem como suas limitações.

“A idade cronológica é igual para todos, uma vez que é baseada nos anos vividos, mudando a cada aniversário. A idade mental está atrelada à junção de três fatores: QI [coeficiente intelectual], desenvolvimento e comportamento adaptativo, sendo um termo mais utilizado para se referir a indivíduos que têm um comportamento diferente do padrão para a sua idade cronológica”, explica Cleo. 

Ela destacou que, muitas vezes, a maturidade cronológica não está alinhada com a maturidade emocional. 

“Existem casos em que uma pessoa pode ter uma idade avançada, mas ainda apresentar um nível de maturidade emocional baixo. Isso pode ocorrer por uma variedade de fatores, como experiências de vida, educação, habilidades sociais e desenvolvimento pessoal”, afirma.

A psicóloga exemplificou essa disparidade: “Um jovem adulto de 20 anos pode ter a capacidade de tomar decisões responsáveis e enfrentar desafios com equilíbrio emocional, enquanto outro indivíduo da mesma idade pode apresentar comportamentos imaturos e dificuldades para lidar com suas emoções. Nesses casos, fica claro que a maturidade emocional não é determinada apenas pela idade, mas, sim, pelo desenvolvimento pessoal e pelas habilidades adquiridas ao longo da vida”.

O TESTE DE IDADE MENTAL

Cleo enfatizou que não existe um único instrumento psicológico, científico, validado e padronizado que consiga abarcar todos os itens necessários ao mesmo tempo para fornecer um parecer fidedigno como diagnóstico. 

“Este tipo de avaliação geralmente vem de encaminhamentos e recomendações médicas, por queixas familiares, indicação de escolas ou de um profissional da psicologia. O processo de avaliação inclui uma entrevista detalhada para compreender as preocupações, as queixas os e sintomas, além do histórico pessoal e familiar do paciente”, detalha Cleo.

Após a coleta de dados na entrevista, é necessário escolher os instrumentos psicológicos e neuropsicológicos adequados de acordo com a idade do paciente. 

“Após a aplicação e correção dos mesmos, realiza-se a devolutiva com o paciente ou responsável, quando for menor de idade. O processo da avaliação psicológica ou neuropsicológica leva em torno de 10 sessões”, explica a psicóloga. 

As sessões utilizam uma variedade de testes padronizados para mensurar atenção, memória, linguagem, habilidades visuoespaciais, funções executivas, inteligência, habilidades sociais, personalidade e depressão, além de questionários e observações clínicas. 

“Essa análise detalhada é fundamental para compreender as necessidades e os desafios específicos do paciente”, diz.

TESTES ON-LINE

A popularidade dos testes de idade mental on-line é inegável, mas Cleo adverte contra a confiança excessiva nesses métodos. 

“Os testes de internet não têm a validação científica necessária e frequentemente oferecem resultados superficiais que podem ser enganosos. Eles não levam em consideração o contexto pessoal e as nuances que um profissional treinado pode identificar”, alerta.

Ela explicou que esses testes podem causar danos psicológicos se os resultados forem levados a sério. 


“Quando uma pessoa recebe um resultado negativo ou inesperado de um teste on-line, isso pode afetar sua autoestima e sua percepção de si mesma. Isso é especialmente perigoso para indivíduos vulneráveis que já estão lidando com questões emocionais ou psicológicas”, sinaliza.

A psicóloga alerta sobre os perigos dos testes de internet, que não têm cientificidade e servem apenas para entretenimento. 

“Esses testes geralmente tratam de traços e um padrão preestabelecido. Mas quando feitos apenas para sanar a curiosidade, buscar um especialista se algo chamar atenção é o.k. Porém, dependendo de como a pessoa reage a esses resultados, podem causar impactos consideráveis em sua vida, afetando seu psicológico e emocional”, observa.

Cleo explicou que a mente humana aceita sugestões como verdades, o que pode levar a baixa autoestima e ao isolamento, em razão da insegurança, do preconceito e da vergonha. 

“É importante que esses testes levem ao público seu verdadeiro objetivo como entretenimento, e não como diagnóstico. É essencial sempre buscarmos métodos confiáveis e sem mágicas quando o assunto é sério”, afirma.

HISTÓRIA E EVOLUÇÃO

Os testes de idade mental têm uma história longa, remontando ao início do século 20. Alfred Binet e Théodore Simon foram pioneiros nesse campo, desenvolvendo o primeiro teste de inteligência para crianças em 1905. 

O objetivo inicial desses testes era identificar estudantes que precisavam de assistência educacional adicional. Desde então, a metodologia e os objetivos desses testes evoluíram significativamente.

Hoje, os testes de idade mental são usados não apenas para fins educacionais, mas também para diagnósticos clínicos e avaliações de desenvolvimento. Esses testes avaliam uma ampla gama de habilidades cognitivas, desde a memória e a resolução de problemas até a capacidade de se adaptar a novas situações. 

De acordo com Cleo, os testes modernos são muito mais abrangentes e sofisticados do que os primeiros modelos, incorporando avanços na neuropsicologia e na ciência cognitiva.

AVALIAÇÃO PROFISSIONAL

Embora os testes de idade mental possam ser uma ferramenta útil, Cleo enfatiza que eles devem ser administrados e interpretados por profissionais qualificados. 

“A avaliação profissional é crucial, porque envolve uma compreensão profunda do contexto do paciente. Isso inclui a história de vida, as experiências pessoais e as influências ambientais que podem afetar o desenvolvimento cognitivo e emocional”, afirma.

Os psicólogos utilizam uma abordagem multifacetada para avaliar a idade mental, combinando entrevistas detalhadas com uma série de testes padronizados. Esse processo abrangente permite que os profissionais obtenham uma visão completa das capacidades e dos desafios de um indivíduo.

A psicóloga explicou que a precisão desses testes depende da qualidade dos instrumentos utilizados e da habilidade do avaliador em interpretar os resultados corretamente.

AJUDA PROFISSIONAL

Para aqueles que estão preocupados com sua saúde mental ou emocional, Cleo aconselha a procurar ajuda profissional o quanto antes. 

“Se você perceber que está enfrentando dificuldades ou notando um declínio em suas capacidades cognitivas, é fundamental buscar a orientação de um psicólogo ou médico especializado. A intervenção precoce pode fazer uma diferença significativa na sua qualidade de vida”, destaca.

Os profissionais de saúde mental podem fornecer uma avaliação detalhada e um plano de tratamento personalizado. Isso pode incluir terapia, intervenções comportamentais e, em alguns casos, medicação. 
Cleo enfatizou a importância de um diagnóstico preciso para direcionar o tratamento adequado e melhorar os resultados a longo prazo. 

A especialista concluiu com um conselho para aqueles que percebem dificuldades ou prejuízos em sua vida: “Procurar médicos de confiança ou especialistas, psicólogos, e falar de seus sentimentos e queixas é fundamental. Quanto mais cedo, melhor. Dessa forma, um diagnóstico preciso pode ser feito e a pessoa pode ser reabilitada para uma melhor qualidade de vida”.

SÓ POR DIVERSÃO

Agora que você já sabe os cuidados que devem ser tomados ao brincar com esses testes on-line, se divirta. O Correio do Estado tem um teste disponível para diversão. Veja aqui.

DIÁLOGO

Tudo transcorria tranquilo no campo colegiado, até que o "dono da bola"... Leia na coluna de hoje

Confira a coluna Diálogo desta segunda-feira (07/04)

07/04/2025 00h02

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Arthur Schopenhauer - filósofo Alemão

"O dinheiro é uma felicidade humana abstrata;
por isso, aquele que já não é capaz de apreciar a verdadeira
felicidade humana, dedica-se completamente a ele”.

FELPUDA

Tudo transcorria tranquilo no campo colegiado, até que o “dono da bola” resolveu, como guri traquina que não aparentava ser, mexer na caixa de marimbondo com uma canetada, como se os colegas não estivessem atentos. Desta forma, time adversário ficou todo ouriçado e tratou de espalhar, tal qual papéi$ assinado$, o que considera malfeito, a fim de que sejam dadas várias ferroadas no autor da peripécia. Como bem escreveu o cardeal de Richelieu: “Os grandes braseiros brotam das pequenas faíscas”...

Empregos

Em fevereiro, Mato Grosso do Sul registrou saldo positivo de 8.333 empregos formais. O melhor resultado para o mês desde que a nova série histórica do Novo Caged foi iniciada (2020), conforme divulgado pelo Ministério do Trabalho e Emprego.

Mais

Os dados estão na Carta de Conjuntura do Trabalho e Emprego, elaborada pela Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação. O resultado positivo se deve a 41.338 admissões e 33.005 desligamentos registrados no mês.

Ana Claudia Arce Vaitti com seu filho Francisco Vaitti, que hoje comemora 11 anos
Alexandre Sá

Na real

O ex-presidente Jair Bolsonaro, presidente de honra do PL, estaria mais precavido para evitar os aproveitadores do seu nome em Mato Grosso do Sul e que, como aconteceu, venham a traí-lo no futuro. Assim, segundo os bastidores, terão seu apoio as candidaturas daqueles que, desde já, saírem na linha de frente empunhando a bandeira do conservadorismo e que estiverem comprometidos em travar luta contra a extrema esquerda. Dizem que Bolsonaro quer distância dos políticos dissimulados.

Corredor

A Câmara Municipal de Campo Grande aprovou projeto que autoriza o Executivo a criar um corredor comercial no Bairro Jardim Centro-Oeste. O objetivo é fomentar o desenvolvimento econômico da região e atrair novos investimentos. O espaço será estabelecido na Avenida dos Cafezais, entre a Avenida Delegado Alfredo Hardman e a Rua Campo Nobre.

Mais caras

As tarifas do transporte rodoviário intermunicipal de passageiros em Mato Grosso do Sul foram reajustadas em 4,56% neste mês. O porcentual corresponde à variação do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) acumulado nos últimos 12 meses e segue a política de atualização anual prevista na regulamentação do setor. A Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de MS publicou portaria com os valores atualizados.

Aniversariantes

  • Francisco Vaitti,
  • Aldo Miranda,
  • Adelina de Souza Brandão Ota,
  • York da Silva Corrêa,
  • Monique de Paula Scaff Raffi,
  • Vilson Luiz Galvão,
  • Iracema Paixão de Souza,
  • Marcio de Oliveira Ribas,
  • Lucia Conceição de Oliveira Friozi,
  • Éder Marsiglia Ocampos Orué,
  • Mario Cesar Ferreira Santana,
  • Wanderley Matias Guimarães,
  • Tânia Maura Barbosa,
  • Guilherme Rahe Pereira,
  • Rosa Maria Martins de Oliveira,
  • Janaina Nunes Roque,
  • Josimar Machado dos Reis,
  • Antônio Carlos Navarrete Sanches,
  • Valdemir da Costa Lima,
  • Aguinaldo dos Santos,
  • Gisele Marques Carvalho,
  • Sérgio Roberto Barcelos,
  • Viviane Rodrigues Saad,
  • Dr. Carlos Roberto Delfim,
  • Germano Barros de Souza Filho,
  • Dra. Yassuco Ueda Purisco,
  • Hilda Nunes da Cunha,
  • Dr. Roberto Vinicius Bertoni,
  • Manoel Fernandes de Oliveira Neto,
  • Jackeline Santana,
  • Garcia Kemparsk de Andrade,
  • Waldir Tramontine,
  • Amadeu Furtado Alvim,
  • Adilson Edson Reich,
  • Silvestre Lopes,
  • Ana Maria Ferreira,
  • Vivian Luise Mendes da Silva,
  • Aylda Menezes Alves,
  • Luiz Gonzaga Prata Braga,
  • Dr. Paulo Sérgio dos Santos Calderon,
  • Luciana Lazarin,
  • Sérgio Adilson de Cicco,
  • Ciro José Guerreiro,
  • Tânia Maria Braga Netto,
  • Maria do Socorro Cavalcanti Freitas,
  • Elizabete do Carmo Cortez Pereira,
  • Maria Cristina Medeiros de Almeida,
  • Leila Rondon Pereira,
  • Tânia Maria Nahas Curado,
  • Irineu Navas,
  • Aureo Nogueira Lisboa,
  • Edilmar Soares Arruda,
  • Felipe Euripedes Amaral,
  • Florivaldo Bruno Ribeiro,
  • Valdo Batista de Souza Junior,
  • Izabel Morais,
  • Elizabete Fabris de Albuquerque,
  • Vilmê Maria Rodrigues Gomes,
  • Nelson Ruy Pitta,
  • Luciane Massaroto Gonçalves de Almeida,
  • Antônio Cancian Lopes,
  • Geraldo Macelaro Leite,
  • Iranilda Bordon Buchara,
  • Nelson Carlos Trindade,
  • Prudente Ramos da Silva,
  • Antônio Mandetta Filho,
  • Osnei Rosa da Costa,
  • Keila Renata Barreiro,
  • Regina Helena Barcelos Brandão,
  • Denise Cunha de Souza,
  • Ruben Campos Gehre,
  • Valdir Moritz,
  • Inaldo Geraldo Viedes,
  • Delarim Martins Gomes,
  • Aldecir Roque de Carvalho,
  • Edney Arantes de Campos,
  • Jucinez dos Santos Reis,
  • Rosilene Aparecida Mendes,
  • Vilmar Gomes de Carvalho,
  • Seiko Nakamura,
  • Hélio Costa Lima,
  • Patricia Robban,
  • Cláudia Ramos de Souza Magalhães,
  • Nelson Gracia Villa Verde,
  • Maria Dourado de Assis,
  • Edivaldo Cézar Germiniani,
  • Douglas Pavão Matos,
  • Lincoln Capurro Braga,
  • Sandra Cristina Brasileiro da Silva
  • Fontellas dos Santos,
  • Gustavo Medeiros Horn,
  • Roseli Veiber,
  • Bruno Russi Silva,
  • Dr. Vitor Hugo Santos,
  • Cristiane de Fátima Muller,
  • José Manuel Marques Candia,
  • Marcelo Kaun,
  • Claudeney Ferreira da Hora,
  • Vera Lúcia Marcondes,
  • Diva Dias dos Santos Rigato,
  • Fernando Zanélli Mitsunaga,
  • Lucia Gomes Barroso Pavani,
  • Aracelli Benatto,
  • Edvaldo Cezar Germiniani,
  • Andréia Martins da Conceição Terron,
  • Maria Helena Miranda Stevanato,
  • Cleusa Spinola,
  • Gustavo Feitosa Beltrão,
  • João Guilherme Miranda Carpes

* Colaborou Tatyane Gameiro

Correio B+

Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator e diretor Guilherme Weber

"É sempre uma alegria encontrar um personagem com subjetividade, como somos todos nós. O Marco não é um "personagem de função" como acontece normalmente com personagens que entram em uma novela há um certo tempo no ar".

06/04/2025 20h00

Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator e diretor Guilherme Weber

Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator e diretor Guilherme Weber Foto: Sergio Baia

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Ator e diretor, Guilherme Weber está prestes a completar 35 anos de carreira, tudo isso com muito trabalho e dedicação. No elenco da novela “Volta por Cima”, da TV Globo onde vive o bicheiro Marco, o artista prepara para o segundo semestre deste ano a estreia de seu quarto monólogo no Teatro Sesi, no Rio: “O Corpo Mais Bonito já Visto Nesta Cidade”, que é um texto inédito no Brasil do catalão Joseph Maria Miró sobre o assassinato de um menino de 17 anos num vilarejo, levantando temas como abusos, homofobia e desesperanças.

Ele também aguarda o lançamento do longa “Dr. Monstro”, do premiado diretor Marcos Jorge. O true crime é baseado na história do cirurgião plástico Farah Jorge Farah, que matou e esquartejou a namorada e cujo julgamento polêmico marcou a história recente do judiciário brasileiro. A produção conta ainda com Taís Araújo e Marat Descartes. 

Para 2026, Guilherme Weber será o diretor da versão brasileira de Plaza Suíte no Brasil, um clássico da comédia de Neil Simon que teve temporada triunfal em NY e em Londres, marcando o retorno de Sarah Jessica Parker e o marido Mathew Broderick aos palcos.

Já em 2027, Guilherme Weber dirigirá a nova montagem de “Chanel”, com texto de Maria Adelaide Amaral, sobre as memórias da estilista francesa. O espetáculo foi sucesso na interpretação de Marília Pêra em 2004 e voltará aos palcos desta vez estrelado por Christiane Torloni.

Com mais de 20 trabalhos na TV, Guilherme Weber ganhou destaque ao dar vida ao vilão Tony de “Da Cor do Pecado”, em 2004. No cinema, o artista contabiliza dezenas de longas, como os aclamados “Olga” e “Árido movie”.

Ele ainda assina a direção do filme  “Deserto”, com Lima Duarte no elenco e que venceu diversos prêmios, como o de Melhor Direção no Festival de Cinema Brasileiro em Los Angeles. Nos palcos, ele já esteve em diversos espetáculos, como “Fantasmagoria IV”, com direção de Felipe Hirsch, em 2024.

Guilherme é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ele fala sobre o seu personagem em Volta Por Cima na TV Globo, carreira e novos projetos.

Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator e diretor Guilherme WeberO ator Guilherme Weber é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Sergio Baia - Diagramação: Denis Felipe - Por Flávia Viana

CE - Guilherme Weber está no elenco de Volta por Cima vivendo um bicheiro. A trama tem tido situações de drama com a história de encontrar a mãe desaparecida e a vilania, como um bandido que está lutando pelo comando dos negócios da família.  Como é fazer um personagem com tantas possibilidades numa só história?
GW -
 É sempre uma alegria encontrar um personagem com subjetividade, como somos todos nós. O Marco não é um “personagem de função” como acontece normalmente com personagens que entram em uma novela há um certo tempo no ar, que vem para ajudar a desenvolver determinada situação; é um personagem com vida própria. E ele mexe com muito destreza nas expectativas dos espectadores.

Chega como um vilão, sequestra uma garota, acoberta crime de cárcere privado, ameaça comerciantes idosos, cheira com prazer o dinheiro arrecadado na contravenção. Mas carrega uma crise de identidade, se mostra um filho amoroso, um homem que sofre por amor, então estas facetas juntas complexificam de maneira positiva o personagem aos olhos dos espectadores, o que é sempre ótimo. 

É uma delícia poder transitar por diferentes estados emocionais e situações da história. E para isso é importante que em uma novela clássica, aberta, se componha um personagem com assinatura mas ao mesmo tempo deixe esta composição aberta para o que pode vir pela frente. E o público responde... começa odiando o ambicioso traidor, mas ele protege a mãe, a abraça, cheira seus cabelos, e todos se derretem, rs... 

CE - Marco, aliás, entrou em Volta por Cima depois da estreia. Como foi pegar “esse bonde andando”? Você já sabia como seria o desenrolar da trama dele?
GW -
 Nem eu, nem a Claudia Souto sabíamos como o personagem se desenrolaria. Ela queria um outro bicheiro na família Barros para poder ter retrato de clã na contravenção do lado antagonista da história. Mas no início até se pensou no Marco ser apaixonado pelo Gerson, personagem do Enrique Diaz, e esconder esta paixão em uma fidelidade canina.

Perguntei para a Claudia a caminha do meu primeiro dia de gravação, “será que já chego dando uma certa pinta?” rsrsrs e ela falou para segurar um pouco que estava pensando. E aí veio o personagem aparecendo durante as gravações, num cenário quase shakespeareano de briga sobre poder. Filho bastardo, crise de identidade, revanche vingativa, mãe desaparecida, ambição, paixão pela mulher impossível, muitos clássicos do gênero foram caindo no colo do personagem, para minha alegria.

CE - A novela acaba no fim de abril e você já tem previsto um monólogo, que vai estrear em junho, no Rio. O que podemos esperar desse projeto? E quais as facilidades e os desafios de fazer uma peça sozinho?
GW -
 Estreio dia 14 de Agosto no Rio de Janeiro, no Teatro Sesi Firjan. Chama-se “O Corpo Mais Bonito Já Visto Nesta Cidade” a partir do texto do catalão Joseph Maria Miró e conta o assassinato de um jovem de 17 anos em uma cidade pequena.

O jovem cheio de libido, desejos e pulsão de vida é punido pela moral e pelas facadas. Uma obra que além de sua temática de excruciante atualidade se sustenta em uma narrativa muito original e de enorme rigor estético e cumpre o ditado “cidade pequena, inferno grande.” Parece dizer que um corpo que deseja tanto e é tão desejado, em algum momento tem que ser punido.

O desafio é pela extensão do tempo em cena em palco vazio, um solo solicita muito do seu repertório de composição. Facilidades eu não listaria para não atrair azar nem pagar a língua, rs... mas existe uma grande delícia de começar o jogo, a troca com a plateia e não parar até o final, o fluxo contínuo da proposta do ator, do palco para a plateia.

Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator e diretor Guilherme WeberO ator Guilherme Weber é a Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Sergio Baia - Diagramação: Denis Felipe - Por Flávia Viana

CE - Além de atuar, você é diretor, tendo vários projetos desses no currículo. Como seu lado diretor se comporta quando está atuando sob a batuta de outro diretor? Já pensou em se dirigir em algum projeto?
GW -
 Eu tento deixar o lado diretor em “modo avião” quando estou sendo dirigido, para usufruir justamente do universo e do olhar do outro, que é uma das coisas mais interessantes de ser dirigido. Confesso que não é fácil, rs... mas sempre fui um ator criador, muito propositivo, então estes dois papéis se misturam um pouco.

A ideia de me dirigir em um projeto sempre me pareceu ruim, não ter a visão da cena o tempo todo de fora, mas resolvi me deixar tomar por este delírio e assumir minha “fase Orson Wells” em um projeto de teatro que será fruto da minha pesquisa sobre literatura e dramaturgia latino americana. Cansei de chegar no dia da estreia e perder o melhor da festa que é estar no palco, rsrsrs

CE - Inclusive, você tem vários projetos como diretor já confirmados para os próximos tempos, como as novas montagens das peças “Plaza Suíte”, que já foi encenada por Fernanda Montenegro e Jorge Doria nos anos de 1970, e de “Chanel”, que foi estrelada há 20 anos por Marília Pêra. Qual o desafio maior de refazer esses projetos de sucesso? E eles terão adaptação para os tempos atuais?
GW - 
Eu não chamaria de “refazer”, serão criações de espetáculos a partir de textos que já foram encenados por outros artistas. Plaza Suite, inclusive, é um clássico absoluto da comédia e o autor do texto, Neil Simon, é um dos meus dramaturgos favoritos; seus diálogos são brilhantes e as situações cênicas da peça são um banquete para os atores, mistura comédia física, diálogos afiados, ritmo alucinante, drama visto pelos olhos do humor, uma delícia. Eu assino também a tradução e a adaptação da obra.

Não trarei a peça para os dias atuais porque ela não precisa deste recurso, é um clássico. Mas sempre injeto algumas piadas a mais, rsrsrs...

Chanel tem estatura de mito, então parece sempre se apresentar como uma pergunta impossível de ser inteiramente respondida. Será curioso observar novas gerações, oriundas do tik tok e do politicamente correto encarando uma mulher tão complexa e contraditória em sua genialidade.

Capa B+: Entrevista exclusiva com o ator e diretor Guilherme WeberFoto: Sergio Baia

CE - Em breve, ainda poderemos ver Guilherme Weber no cinema no filme “Dr. Monstro”, onde dá vida ao polêmico advogado Roberto Podval. Como é fazer um personagem verídico, que faz parte de uma história de assassinato recente no Brasil? Como foi seu processo de composição?
GW -
 Não houve a intenção de reproduzir o Podval, inclusive o meu personagem tem outro nome no filme; questões jurídicas acredito, rs...

Assistimos alguns julgamentos no Tribunal de Curitiba, onde filmamos, e foi uma preparação especialíssima. Entender as narrativas jurídicas, a encenação e ritos do tribunal e pensar em tudo isso na época da pós verdade foi muito instigante. É um “true crime” fascinante.

Além de relembrar de todos os filmes de tribunal, que é um subgênero fascinante, que vi e que sempre adorei. Disse ao diretor Marcos Jorge que sempre serei grato a ele pela oportunidade de dizer na minha carreira as frases “sem mais perguntas, meretíssimo” e “protesto, meritíssimo.”

CE - Você ganhou projeção ao fazer o inesquecível vilão Tony de “Da cor do pecado”.  Como foi o impacto para sua carreira ao fazer essa novela de tanto sucesso?
GW -
 Foi minha primeira novela e o personagem é lembrado até hoje, vinte anos depois e por diferentes gerações em função das sucessivas reprises e agora redescoberta no streming com impacto. Foi realmente uma sorte começar meu trabalho na televisão, depois de tantos anos de palco, com um personagem desta envergadura.

Agradeço muito ao João Emanuel Carneiro, ao Sílvio de Abreu e a Denise Saraceni em me escolherem para encarná-lo. Ele era muito irônico e tinha embates quase de desenho animado com a Bárbara de Giovanna Antonelli, essas eram também chaves de sucesso. O bordão do personagem, “Calma Coração” é falado até hoje e fiz uma auto citação em Volta Por Cima, repetindo-o em uma cena, parte de uma sequência de homenagens que a Claudia Souto de maneira muito sutil fez durante toda a novela.

CE - Como Guilherme Weber lida com a crítica? E é muito autocrítico com o próprio trabalho?
GW -
 Não lido, rs, deixo acontecer e sigo em frente, e digo isso sem nenhum esnobismo, acho que é maturidade mesmo. Tem muitas frases maravilhosas sobre crítica, duas que eu adoro, a do Laurence Olivier, “uma crítica pode estragar meu café da manhã, mas jamais o meu almoço” e a que li como do grande Luis Fernando Veríssimo, “um crítico é alguém que assiste uma batalha do alto de uma montanha e quando ela acaba, desce e atira nos sobreviventes.”

Sou muito observador do meu próprio trabalho, mas pelo entusiasmo da criação contínua.

CE - Com tantos trabalhos no currículo e outros à vista, o que Guilherme Weber ainda não realizou na profissão?
GW -
 Quero dirigir uma ópera.

CE - Você é um artista que trabalha bastante – inclusive em projetos bem populares como as novelas- e consegue manter a vida mais discreta. Como você lida com a exposição que a fama traz?
GW -
 Recebo a exposição como puro carinho do público e reconhecimento do meu trabalho, não me incomoda em nada.

 

 

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