Quem está acostumado a investir em marcas importadas na hora de cuidar da aparência pode começar a refazer as contas. Perfumes, cremes, maquiagens e demais produtos importados devem entrar o segundo semestre já reajustados para compensar a alta do dólar. O presidente do conselho administrativo da Associação dos Distribuidores e Importadores de Perfumes, Cosméticos e Similares (Adipec), Jacob Nir, explica que, devido aos estoques, alguns distribuidores do setor ainda não repassaram o aumento, mas que isso acontecerá inevitavelmente até agosto. "Se alguém vai conseguir segurar, não sei, mas com certeza o reajuste chegará no consumidor final." Nir ainda não sabe prever qual o impacto disso para o mercado como um todo (incluindo nacionais e importados), mas não aposta em grande crescimento do setor em 2012. "Acredito que, se tivermos crescimento, será pouco representativo", afirma.
Já para os 5% do mercado de beleza que diz respeito exclusivamente aos artigos importados, a gerente comercial das lojas Top Internacional, Lina Gonzalez, é mais pessimista. Para ela, as vendas devem cair por volta de 10% em consequência do aumento nos preços, que deve ficar na margem ou até acima dos 10%. Lina reclama ainda das barreiras impostas pelo governo federal para a entrada de importados. "As consequências do dólar mais valorizado e as crescentes taxações para o produto vindo de fora serão graves para o setor."
Os outros 95% do mercado comemoram. Em franco crescimento nos últimos dois anos, segundo dados do instituto de pesquisa Euromonitor, o setor faturou no Brasil US$ 43 bilhões em 2011, 18,9% mais que no ano anterior e ocupa a terceira posição em vendas para o consumidor final. Segundo o analista da Associação Nacional do Comércio de Artigos de Higiene Pessoal e Beleza (Anabel) Marcelo de Mattos, a previsão para este ano é de, mesmo com a questão cambial, alta no volume de negócios entre os 7,9% e os 10%.
Além da pessoa que consome em casa, profissionais de salões de beleza também precisarão se adaptar aos novos custos. O diretor da Beauty Fair - um evento anual para profissionais de beleza -, César Tsukuda, explica que muitas das grandes marcas já investem em produzir dentro do Brasil, dado o bom desempenho do setor no país. Mesmo assim, há ainda aquelas que importam artigos e essas, 20% do total de expositores da feira, não devem influenciar os preços ou o desempenho do mercado de maneira geral.
Outra grande pedra no sapato de quem trabalha com produtos de outros países é a maior facilidade da classe média em viajar. "O brasileiro não é burro. Sabe que, quando vai viajar, pode encontrar o mesmo produto 30% ou 40% mais barato em um free shop", diz Lina Gonzalez.
Já os produtos negociados em euro, como perfumes franceses, não sofrerão aumento, diz Lina. Eles representam 40% do total de mercadorias vendidas pela Top Internacional. A gerente comercial diz que o Brasil é o país que mais consome perfumes e maquiagens no mundo, o que faz com que as importadoras tenham ambição de, se o câmbio permitir, brigar com os produtores nacionais por uma fatia maior desse mercado. Desse cabo de guerra, quem sai vitorioso é o consumidor, que deve ver nacionais e importados brigando por condições de oferecer preços mais competitivos.