Carioca de apenas 18 anos se tornou o mais jovem do país a entrar no Top 50 e inspira talentos em Campo Grande
A ascensão do jovem tenista brasileiro João Fonseca, de apenas 18 anos, é uma história de superação, talento e quebra de paradigmas no tênis brasileiro. Em pouco mais de um ano, o carioca passou dos torneios juvenis à elite do circuito mundial, impacto sentido, inclusive, em Mato Grosso do Sul, onde a busca pelo esporte aumentou cerca de 20%.
É o caso do pequeno Nathan Reis, de apenas 11 anos, que motivado pelo pai, ingressou na modalidade há quatro meses.
Apesar do pouco tempo no esporte, o pequeno já se destaca pela paixão e dedicação. Embora tenha começado sua jornada esportiva com o tênis de mesa, foi nas quadras de saibro que o jovem se encontrou.
"No meu condomínio, meus amigos jogavam tênis e me convidaram para as aulas. Eu fui, gostei e pedi para o meu pai me matricular", conta Nathan, com um sorriso tímido, mas cheio de entusiasmo.
"Eu gosto mais de tênis porque é mais rápido, tem mais técnica. E a dinâmica do jogo me atrai", explica o jovem. Impressionado pela velocidade e dinamismo da modalidade, se inspira também no espanhol Carlos Alcaraz, vice-campeão de Wimbledon no último final de semana.
"Ele é novo e joga muito bem. Eu me inspiro nele", confessa o garoto, que pretende seguir no esporte e se tornar profissional.
Pai de Nathan, Nilton Gomes (49) também é fã de Alcaraz, Rafael Nadal e Novak Djokovic, e conta que o interesse de Nathan pelo esporte começou com aulas de 'pingue-pongue', mas logo evoluiu para o desejo de aprender tênis.
"Eu gosto muito de tênis, então meu filho começou a fazer aula de pingue-pongue e, aos poucos, foi se interessando pelo esporte", explicou o pai do garoto.

Nilton Gomes ao lado de Nathan Reis (Foto: Gerson Oliveira)
Em meio as aulas, o recente desempenho de João Fonseca no circuito internacional não passou despercebido. O crescimento do tenista, que tem se destacado em torneios importantes, trouxe de volta a esperança de que o tênis pode voltar a ser uma referência no País, disse.
"Acho que o Brasil deveria incentivar mais o esporte, porque, além do Guga, a gente não tem tantas referências fortes no tênis", comenta o empresário.
"O João tem todo o potencial para chegar lá, ser o número um do mundo. Isso vai ter um impacto grande para o esporte no nosso Estado", acredita Nilton, que acompanha de perto as aulas do filho.
Para ele, a visibilidade que o atleta ganha com suas vitórias internacionais pode impulsionar o tênis em Mato Grosso do Sul, especialmente por meio da mídia.
"A mídia tem um poder muito forte. Quando um jogador se destaca, ele ganha patrocinadores, faz propaganda e se torna referência. Isso, sem dúvida, vai refletir no esporte local", afirma.
O esporte
Com 39 anos, Patrícia Menossi é a responsável por um dos principais polos de iniciação ao tênis no Mato Grosso do Sul. À frente da Escola Guga, em Campo Grande, desde fevereiro de 2018, ela celebra o crescimento da modalidade na região e o papel da franquia na formação de novos atletas.
"Desde que abrimos a escola, fomentamos o tênis por meio da iniciação esportiva das crianças", afirma Patrícia. O projeto atende alunos a partir dos 3 anos de idade: infantil (3 a 10 anos), juvenil (11 a 18 anos) e adultos.
A escola também incorporou o beach tennis à sua grade. Embora seja difícil mensurar números exatos, ela estima que cerca de 20% do aumento recente de alunos tenha sido motivado pela influência direta do novo ídolo nacional.

Segundo Patrícia, o tênis tem ganhado ainda mais visibilidade e interesse com a ascensão de novos talentos, como João Fonseca / Foto: Gerson Oliveira
A unidade conta com mais de 450 alunos ativos, 15 professores e estagiários, aulas de segunda a sábado e locação das quadras aos domingos.
O nome da escola carrega o peso e a história de um dos maiores ídolos do esporte brasileiro: Gustavo Kuerten, o Guga. A unidade é uma das franquias oficiais da rede. "Nós somos uma unidade de referência no Brasil. Já fomos premiados como escola de excelência por cinco anos consecutivos", destaca a empresária.
Segundo Patrícia, o tênis tem ganhado ainda mais visibilidade e interesse com a ascensão de novos talentos, como João Fonseca. "Percebemos um crescimento na procura pelas aulas, especialmente por adolescentes entre 11 e 15 anos, depois que o João começou a se destacar", explica.
Para ela esse movimento é essencial para o desenvolvimento do tênis no Mato Grosso do Sul. "A gente ainda sente uma certa carência de ídolos esportivos, mas a figura do João tem mudado isso, especialmente entre os jovens que sonham em competir em alto nível", complementou.
Natural de Minas Gerais, Patrícia se considera sul-mato-grossense de coração. "Vivo aqui desde que nasci. Meus filhos nasceram aqui e construí minha família em Campo Grande. Tenho orgulho de fazer parte do crescimento do esporte no nosso estado", finaliza.
Legado ao esporte
Atleta amador da modalidade, Douglas Câmara, de 26 anos, disse que o desempenho do jovem tem inspirado o crescimento da modalidade no país.
"Com certeza o desempenho do João tem inspirado novos atletas a praticarem o jogo. Acredito que se ele se mantiver assim, logo teremos coisas grandes pra comemorar", destacou Camara ao Correio do Estado.
Agora ocupando o top 50 no ranking, na posição 48, Fonseca mira o Top-30 para garantir status de cabeça de chave em Grand Slams. Seu histórico em Slams (Australian Open, Roland Garros e Wimbledon) mostra que "acreditar, trabalhar e sonhar" pode gerar resultados concretos.
Do tênis juvenil à estreia profissional
Nascido em 21 de agosto de 2006, no Rio de Janeiro, Fonseca adotou a raquete desde cedo. Em 2023, destacou-se ao vencer o US Open juvenil e encerrar o ano como número 1 do ranking ITF júnior, feito inédito para um brasileiro.
No início de 2024, estreou no circuito profissional com wildcard no Rio Open. Em dezembro, venceu o Next Gen ATP Finals, competição destinada aos melhores jogadores sub-21, consolidando sua transição para o profissional.
Em janeiro deste ano, venceu o Challenger de Camberra, qualificou-se para o Australian Open e surpreendeu ao eliminar o então número 9 do mundo, Andrey Rublev, no Grand Slam. Com isso, entrou no Top 100 da ATP (nº 99), tornando-se o brasileiro mais jovem a alcançar essa marca com 18 anos, 5 meses e 6 dias.
No mês seguinte, protagonizou sua estreia em torneios ATP com o título no Argentina Open, em Buenos Aires. Com vitória sobre Francisco Cerundolo, Fonseca se tornou o brasileiro mais jovem da era aberta a vencer um título ATP, subindo ao 68º lugar no ranking.
A vitória na capital argentina foi notável: ele se salvou de dois match-points nas quartas, evitou pressão em momentos decisivos e terminou a semana com 100 pontos, tornando-se o 10º mais jovem campeão ATP desde 1990 e o mais jovem a conquistar um título no saibro desde Carlos Alcaraz.
Em Roland Garros, avançou à terceira rodada em sua primeira participação, mantendo seu crescimento constante.
Neste mês, estreou com vitória em três sets contra o britânico Jacob Fearnley sendo o mais jovem da chave principal de Wimbledon.
Nº1 do país

O carioca de 18 anos se tornou o mais jovem do país na história a entrar no Top 50 / Foto: Divulgação
O carioca de 18 anos se tornou o mais jovem do país na história a entrar no Top 50 do ranking da Associação dos Tenistas Profissionais (ATP). Após sua boa campanha em Wimbledon, é o 48º do mundo, a melhor posição de sua carreira até agora.
Perto de completar 19 anos, no dia 21 de agosto, Fonseca vai superar Gustavo Kuerten, até então o mais jovem Top 50 da história do tênis nacional. Em 1997, Guga deu um salto na lista da ATP ao se sagrar campeão de Roland Garros pela primeira vez. Disparou do 66º para o 15º lugar, aos 20 anos e nove meses.
Quase três décadas depois, Fonseca saiu do 54º para o 48º lugar do ranking, na atualização da próxima segunda-feira, logo após o fim de Wimbledon.
Ao vencer duas partidas em Wimbledon, em sua primeira participação na chave principal, Fonseca embolsou 100 pontos no ranking. Com esta subida, ele se aproxima do objetivo de ser cabeça de chave nos próximos Grand Slams.
Após se despedir na terceira rodada em Wimbledon, o brasileiro foca sua preparação para a temporada de quadra dura nos Estados Unidos, que culmina na disputa do US Open, o quarto e último Grand Slam da temporada.
Os próximos torneios do carioca são os Masters 1000 de Toronto (27 de julho) e Cincinnati (7 de agosto), além do próprio US Open, que começa em 24 de agosto.
Assine o Correio do Estado