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A Copa do Mundo e os riscos de match-fixing

No fim das contas, portanto, as casas de apostas acabam sendo, também quer se queira, quer não , verdadeiras aliadas do próprio esporte para a sua segurança e confiabilidade.

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Em tempos de Copa do Mundo, evento que, tal qual os Jogos Olímpicos de Verão, atrai a atenção de quase metade da população mundial, as preocupações com possíveis manipulações de resultados (match-fixing) sempre voltam à tona. 

Embora nenhum torneio ou país esteja isento desse risco – há casos na Uefa Champions League, na Uefa Europa League, na Alemanha, na Bélgica, na Itália, em Portugal, no Brasil –, cada vez mais as atividades suspeitas, que por regra geral estão ligadas a apostas, vêm se verificando em locais de menor tradição futebolística, isto é, aqueles cujas ligas têm menos relevância (como países com clubes que não disputam competições internacionais ou com atletas de nível técnico inferior) ou cujos torneios contam com menos apelo de público (campeonatos estaduais cujos clubes não participam das Séries A e B do Brasileirão, por exemplo).

Isso porque, nessas circunstâncias, os manipuladores de resultados (match-fixers) se sentem mais à vontade e mais confiantes para convencer jogadores, treinadores, árbitros ou dirigentes a se engajar na dita manipulação, firmes na ideia de que, por receberem remunerações menos vultosas, serem menos profissionais e/ou estarem menos nos holofotes dos órgãos de controle, essas pessoas tendem a ser mais facilmente convencidas de seus propósitos ilícitos e/ou ilegais.

Nesse sentido, o Mundial de Seleções acaba sendo uma competição com risco relativamente baixo de match-fixing, justamente por todos os olhos estarem voltados para o torneio. Ainda assim, com projeções de apostas durante o torneio na ordem de US$ 150 bilhões ao redor do planeta, todo cuidado é mais que bem-vindo.

Daí, até por se tratar da menina dos olhos de ouro da Fifa, a entidade tomar as devidas precauções para evitar que a integridade desportiva seja abalada, adotando abordagens de prevenção às mais variadas formas de manipulação e/ou influência ilegal em partidas e competições, bem como atuando repressivamente, por intermédio de seus órgãos decisórios.

Preventivamente, as formas mais corriqueiras de se evitar o match-fixing envolvem desde a instituição de sistemas de integridade até programas educacionais para os players desse mercado, a saber técnicos, atletas, árbitros e dirigentes, mas também torcedores em si, enquanto consumidores do produto apostas esportivas que são.

O foco, pois, há de ser tanto naqueles que poderão, em teoria, “se deixar vender” por aliciadores que busquem manipular resultados até naqueles que eventualmente se depararão, algum dia, com tal situação, a fim de que repilam fazer parte desse tipo de esquema e, em simultâneo, o denunciem por meio dos canais próprios para tanto, sejam eles estatais ou aqueles mantidos pelos entes de administração do desporto.

Como exemplo dessas decisões repressivas, um dos casos mais emblemáticos, e que guarda direta relação com a Copa do Mundo, é o do ex-árbitro ganês Joseph Lamptey, banido para sempre do futebol após uma investigação da Fifa apontar a sua participação em numerosos escândalos, publicamente documentados, ao longo de seis anos.

O episódio que desencadeou a investigação e culminou no referido banimento se deu após uma partida das eliminatórias da Copa da Rússia, entre África do Sul e Senegal, em 2016, na qual operadores e monitores de integridade identificaram um volume fora do padrão de apostas centradas no over de gols das equipes, o que acabou por ser posteriormente correlacionado a “decisões erradas intencionais” do hoje ex-árbitro.

De todo modo, uma coisa é certa: trata-se de briga de gato contra rato. De um lado, alguém (o manipulador do resultado) tentando intervir na partida ou na competição e maximizar seus ganhos, sempre de olho na equação “retorno sobre o investimento e liquidez”; de outro, os órgãos que administram o desporto (além do Estado, é claro), rastreando os movimentos das linhas de apostas (follow the money), buscando detectar irregularidades e evitar danos, diretos ou colaterais, às suas modalidades (e também à saúde pública, à economia e à sociedade como um todo).

A bem da verdade, contudo, não para por aí: no meio disso ainda temos o mercado, precificando cada tipo de aposta, das mais tradicionais – e.g., placar do jogo, vencedor da partida, campeão do torneio – aos chamados “eventos menores” – v.g., o minuto em que determinado jogador receberá um cartão vermelho, qual equipe cobrará o primeiro escanteio, quantos arremessos laterais ocorrerão no segundo tempo da partida, etc –, e tentando se proteger e reduzir os riscos de interferências externas nos resultados das competições.

No fim das contas, portanto, as casas de apostas acabam sendo, também – quer se queira, quer não –, verdadeiras aliadas do próprio esporte para a sua segurança e confiabilidade.

O atuar conjunto dessas com as entidades de administração é algo cada vez mais essencial ao esporte mundial, na busca por maior transparência e insuspeição de suas atividades, e não será diferente durante a Copa do Mundo do Catar.

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A dor que cala e o silêncio de todos nós

13/02/2025 16h14

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Imagine. Era uma manhã como outra qualquer. Em algum lugar, uma mulher acordava com o coração acelerado, os olhos marejados de medo. Em algum lugar, uma mulher olhava para o homem ao seu lado e não via mais o companheiro, o pai de seus filhos, o amor de sua vida. Via um algoz. Em algum lugar, uma mulher respirava fundo, tentando encontrar coragem para mais um dia de sobrevivência. Em algum lugar uma mulher suspira fundo ao imaginar que pode ser agredida a qualquer momento. Em algum lugar uma mulher será próxima vítima.

Ela teme vir à público, denunciar. Teme por mais agressões antes que medidas se tornem efetivas. Alguém, não sem razão, fará a pergunta: Quantas vezes o sistema falhou em protegê-las? Pode invocar o argumento que a justiça, que deveria ser um porto seguro, muitas vezes se transforma em um labirinto burocrático, onde a vítima é revitimizada a cada depoimento, a cada julgamento adiado, a cada olhar de descrença.

O machismo brasileiro é um câncer enraizado. Ele está nas piadas que objetificam as mulheres, nas letras de música que as reduzem a corpos, nas igrejas que pregam a submissão, nas famílias que ensinam aos meninos que chorar é “coisa de menina” e que meninas devem ser “boazinhas” e “comportadas”. Está nas delegacias, onde policiais despreparados perguntam: “Por que você não se separou antes?” Está nos tribunais, onde juízes questionam: “Mas ela não provocou?” Está nas ruas, onde homens se sentem no direito de invadir o espaço das mulheres com assédios e ameaças.

E enquanto isso, os números não mentem: o Brasil é um dos países com mais feminicídios no mundo. O Estado do MS, infelizmente, também não fica atrás. São mulheres mortas por serem mulheres. Mortas porque ousaram dizer “não”. Mortas porque tentaram recomeçar. Mortas porque existiam. São assassinadas pelo simples fato de ser mulheres. E, muitas vezes, seus assassinos seguem impunes, protegidos por uma justiça lenta e por uma sociedade que ainda hesita em enxergar a gravidade do problema.

Onde está a luz no fim deste túnel de horrores?  Nas mulheres que se levantam, que denunciam, que apoiam umas às outras. Há homens que questionam o machismo, que educam seus filhos para o respeito, que entendem que a luta pela igualdade não é só das mulheres, mas de todos nós. Há leis que avançam, como a Lei Maria da Penha e a tipificação do feminicídio (em MS já existe essa tipificação), mas que precisam ser aplicadas com rigor e eficácia. E há luz nas campanhas incisivas a exemplo da #TodosporElas, criada pela desembargadora Jaceguara Dantas, com chancela dos três Poderes.

É necessário se engajar. Protestar. Gritar se preciso for. E se unir a outras mulheres. Ninguém, em sã consciência, deve se calar, naturalizar, muito menos ignorar. Mais do que nunca é preciso alento. Para além das jovens, mulheres na meia idade e até idosas está em jogo o futuro das nossas crianças, meninas que sonham. Elas não precisam carregar esta culpa.

A dor que cala é a dor de milhares de mulheres silenciadas. A justiça que falta é a que deveria protegê-las. Enquanto houver uma mulher com medo, enquanto houver um agressor impune, enquanto houver um sistema que falha, a luta não pode parar. Porque nenhuma vida a menos é aceitável. Porque todas merecem viver sem medo. Porque o silêncio já foi demais.

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Um santuário ecológico chamado Pantanal

13/02/2025 07h45

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A maior planície alagada do planeta Terra, um presente do Criador para a humanidade e, particularmente, para o estado de Mato Grosso do Sul. Por isso mesmo, povo e governos têm o dever de zelar por essa maravilha do mundo, que corre o risco de desaparecer, por conta dos constantes incêndios florestais criminosos, motivados pela ganância e pela busca por fortuna.

Nas últimas cinco décadas, venho cobrando de nossos representantes no Congresso Nacional providências em relação à proteção do Pantanal, diante do perigo iminente de seu desaparecimento, da absoluta falta de fiscalização e, como consequência, da total ausência de proteção. Medidas paliativas têm sido adotadas, mas sem qualquer comprometimento real com a preservação desse ecossistema tão importante.

Nos últimos cinco anos, as queimadas criminosas quase dizimaram as espécies de vida natural do Pantanal, tanto vegetal quanto animal. Os pantaneiros são religiosos e, com suas orações, sempre contaram com a proteção divina, a força maior. Várias gerações foram desaparecendo, e homens e mulheres nascidos e criados no Pantanal anteviam o pior. O Rio Taquari é um exemplo do abandono e do descaso com algo tão valioso.

Enquanto as autoridades fechavam os olhos para esse grave problema, o desmatamento, sem qualquer fiscalização, abria caminho para o extermínio do Pantanal. Porém, em 2020, os incêndios superaram todas as expectativas, destruindo tudo o que encontravam pela frente. Dias e noites o fogo ardia, e nada podia ser feito. Homens e mulheres idosos choravam ao assistir tamanha destruição. Parecia que o Pantanal sucumbiria de vez. Parece que somente a fé em Deus conseguiu conter as chamas.

Os recursos materiais e humanos foram insuficientes para o combate ao gigantesco incêndio e, mesmo contando com a ajuda dos bombeiros dos estados vizinhos, pouco pôde ser feito. No entanto, o desastre serviu de alerta, pois críticas e sugestões surgiram de todos os segmentos da população e até mesmo de outros países. Felizmente, a sensibilidade do poder público atendeu a tantos apelos.

O jovem governador Eduardo Riedel entendeu a necessidade de tomar medidas de proteção ao santuário que é o Pantanal, aliviando milhares de seres humanos que nele vivem e que, finalmente, esperam vê-lo protegido dos criminosos predadores. Parabéns, governador.

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