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As causas do autismo no centro do debate

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Vamos imaginar que um governo compre a tese de que há um fator ambiental predominante do Transtorno do Espectro Autista (TEA) e queira fazer estudos para avaliar se isso é verdade e quais seriam esses fatores.

Para entendermos como isso poderia ser feito, é preciso, antes de tudo, compreender como uma pesquisa séria e bem conduzida precisaria ser estruturada.

Investigações dessa natureza não se resolvem em meses, tampouco com uma única equipe ou um laboratório isolado. Exigem décadas de acompanhamento, bilhões de dólares em financiamento, grandes equipes interdisciplinares e uma metodologia de altíssimo rigor.

Por exemplo, para avaliar se a exposição a metais pesados, como mercúrio ou chumbo, pode influenciar o desenvolvimento de TEA, o desenho ideal envolveria o acompanhamento de milhares de gestantes e seus filhos ao longo de muitos anos.

Seria necessário medir os níveis dessas substâncias no sangue, na urina, no ambiente em que vivem, desde a gestação até a infância, controlando outras variáveis, como genética, alimentação, condições socioeconômicas e acesso à saúde. Além disso, os diagnósticos de autismo precisariam ser padronizados e realizados por profissionais altamente treinados, garantindo uniformidade nos critérios e nos métodos.

Já se a proposta fosse estudar a influência da alimentação – como o consumo de ultraprocessados, deficiências nutricionais ou exposição a aditivos químicos – o desafio seria ainda maior. A dieta humana é extremamente variada e mutável, o que exigiria um controle minucioso da alimentação diária de milhares de pessoas por um período prolongado. Além disso, seria necessário combinar esses dados com informações genéticas, ambientais e sociais para que as conclusões fossem realmente válidas.

Outra metodologia, mais rara, mas teoricamente possível, envolveria o uso de políticas públicas como parte da pesquisa: selecionar cidades, por sorteio, para implementar restrições rigorosas ao uso de certos produtos suspeitos (como microplásticos, pesticidas ou aditivos), enquanto outras permaneceriam sem mudanças.

Após anos, avaliações diagnósticas homogêneas entre as populações poderiam indicar se houve alguma diferença significativa. Todos esses exemplos têm algo em comum: são caros, longos e complexos. Não há atalhos.

Diante dessa realidade, soa no mínimo ingênuo o anúncio feito pelo Secretário de Saúde dos EUA, Robert F. Kennedy Jr., de que até setembro serão publicados estudos capazes de apontar quais toxinas seriam as responsáveis pela “epidemia de autismo”. A própria ideia de epidemia, nesse contexto, já carrega um equívoco: esse termo se aplica a doenças infecciosas, não a condições de base genética como o TEA.

O que os melhores estudos científicos mostram até agora é que cerca de 98% da influência no autismo está associada a fatores genéticos. O aumento nos diagnósticos tem sido explicado principalmente pela ampliação dos critérios diagnósticos, pelo maior acesso aos serviços de saúde e pela formação mais qualificada dos profissionais.

Isso não significa, é claro, que fatores ambientais devam ser descartados. A ciência não trabalha com certezas absolutas e investigar possíveis influências do ambiente é legítimo e necessário. Mas esse tipo de pesquisa, como vimos, leva tempo, muito tempo. E qualquer promessa de respostas rápidas, sem um projeto dessa magnitude, não é ciência, é bravata.

Entender as causas do autismo – seja pela genética, pelo ambiente ou pela interação entre os dois – exige respeitar o tempo da ciência, reconhecer a complexidade dos fatores envolvidos e a necessidade de controles rigorosos e o trabalho conjunto de especialistas de diversas áreas.

Por isso, quando ouvirmos promessas de descobertas miraculosas em poucos meses, é bom lembrar: nove mulheres não geram um bebê em um mês. E nem todos os cientistas do mundo, reunidos, conseguiriam responder uma questão tão complexa quanto essa em tão pouco tempo. A ciência é lenta. E talvez seja justamente essa lentidão que a torna o caminho mais confiável.

EDITORIAL

Um país que precisa olhar para a frente

É preciso mudar o foco: o Brasil de hoje necessita de um projeto que una saúde pública e infraestrutura de maneira decisiva e inteligente

12/06/2025 07h15

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A crise de imaginação política que acomete o Brasil é profunda e preocupante. Não se trata mais de uma disputa entre esquerda e direita, entre governo e oposição. 

A verdadeira falência está na incapacidade de pensar o País de forma estratégica, duradoura e coletiva. Basta olhar para o que acontece no Congresso Nacional: parlamentares empenhados quase exclusivamente em garantir emendas paroquiais que pouco dialogam com políticas públicas estruturantes e um atendimento irrestrito a lobbies de interesses imediatistas. Parece que se esquece, nesse jogo de conveniências, que o básico ainda não foi feito – e que, enquanto isso, o Brasil continua pagando caro pela sua negligência.

É preciso mudar o foco. O Brasil de hoje necessita de um projeto que una saúde pública e infraestrutura de maneira decisiva e inteligente. A proposta pode soar ambiciosa – e de fato é –, mas é viável: duplicar os acessos rodoviários de todas as capitais e de grandes cidades do interior com centenas de milhares de habitantes. Não se trata apenas de um projeto de engenharia, mas de um plano de saúde pública e desenvolvimento econômico. Afinal, o que hoje é gasto para remediar tragédias poderia ser investido para preveni-las.

Os números são eloquentes. Um investimento em infraestrutura rodoviária, por mais custoso que pareça no primeiro momento, traria retorno em diversas frentes. A começar pela economia nos bilhões que o Sistema Único de Saúde (SUS) gasta com o atendimento a vítimas de acidentes. E isso sem contar as vidas poupadas, as famílias preservadas, os dramas evitados. Um Brasil que cuida de suas estradas está, na verdade, cuidando de sua gente.

Além do aspecto humano, há um impacto econômico direto e relevante. Com estradas melhores, o País se tornaria mais competitivo, tanto no transporte de cargas quanto na mobilidade de pessoas. A eficiência logística é um fator cada vez mais determinante no sucesso de qualquer nação. Ao facilitar o escoamento da produção, diminuímos perdas, aumentamos a margem de lucro de empresários e, consequentemente, estimulamos a geração de empregos. O Brasil cresceria, literalmente, com mais estrada e menos buracos.

Nada disso é simples, e não se trata de ilusão tecnocrática. O custo de um plano como esse ultrapassaria os bilhões – mas o retorno, tanto humano quanto econômico, é incalculável. Seria necessária uma concentração nacional, um esforço de união política que se sobreponha às disputas partidárias. Não há ideologia no asfalto, no leito hospitalar ou na vida poupada: há apenas a necessidade concreta de um projeto comum.

Infelizmente, não é o que temos visto. Nesta edição, mostramos que a BR-163, que corta o Brasil de norte a sul, volta a ser considerada uma “rodovia da morte”. O nome não é exagero: vidas se perdem ali com uma frequência inaceitável. E é sintomático a um país que ainda não entendeu a urgência de suas próprias prioridades. Enquanto se discute a política menor, a grande política – aquela que transforma o futuro – continua abandonada no acostamento.

Mais que nunca, o Brasil precisa de atenção e cuidado com a sua logística e a sua infraestrutura. A retórica do progresso não basta: é hora de construir caminhos reais para ele. Literalmente.

CLÁUDIO HUMBERTO

"Meu Nordeste é terra de cabra macho, não é terra da cabra frouxo"

Deputado André Fernandes (PL-CE) dirigindo-se ao paraibano Hugo Motta (Rep)

12/06/2025 07h00

Cláudio Humberto

Cláudio Humberto

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Congresso é pé de guerra contra alta de impostos

O Congresso reagiu fortemente à medida provisória da taxação, e não sem razão. O deputado Arnaldo Jardim (Cidadania-SP), especialista respeitado no assunto, advertiu que taxar investimentos é “tiro no pé” do Brasil. Ele contou que, para financiar o agronegócio, carro-chefe da economia brasileira, os bancos captaram R$490 bilhões em Letras de Crédito Agrícola (LCA), mais dinheiro que o Plano Safra do governo federal. Na real, o governo Lula (PT) quer punir quem investe no Brasil.

 

Classe média sob ataque

Além de taxar LCA, Lula autorizou taxação também de Letras de Crédito Imobiliário (LCI), o que deve encarecer o financiamento da casa própria.

 

Penalizando o pequeno

Os prejudicados, lembra Arnaldo Jardim, são investidores pequenos, inclusive em Fiagros, cujo tíquete médio é de R$15 mil por CPF.

 

Eles odeiam poupadores

O governo quer taxar 2,7 milhões de pessoas, que investem em média R$20 mil em fundos imobiliários, que geram empregos e renda.

 

MP de difícil aprovação

Até o presidente da Câmara, Hugo Motta, segundo André Fernandes (PL-CE) um “frouxo”, acha “muito difícil” aprovar a MP da Perversidade.

 

Economistas: nova proposta de Haddad é ainda pior

Especialistas ouvidos pela coluna são unânimes ao avaliarem como “errada”, “insuficiente” e até “lamentável” a proposta do ministro Fernando Haddad (Fazenda) de aumentar impostos para salvar o caixa do governo Lula (PT), exímio gastador. “A solução do IOF já era ruim para cobrir buraco de 20 bilhões. E a nova proposta é ainda pior”, avalia o economista Igor Lucena. O superávit não é mais crível “nem para os órgãos internacionais, nem para quem faz contas de verdade”, afirma.

 

Desculpa ensaiada

Lucena diz que Haddad recorre ao fácil discurso da justiça social para taxar CRI, CRA e as LCIs e foge da solução técnica: cortar despesas.

 

Cortar ou cortar

Admirado mestre em governança corporativa, Marcello Marin avalia a proposta como esforço de curto prazo e cobra medidas mais estruturais.

 

Taxadd só quer taxar

O economista André Galhardo endossa a crítica dos colegas. Chama o aumento do IOF de “inoportuno” e diz que não resolve o problema.

 

MP não passa

O deputado Arnaldo Jardim está entre os muitos parlamentares que ontem fizeram questão de pregar aviso: a MP da Perversidade, de Lula/Haddad, não tem o menor perigo de ser aprovada no Congresso.

 

Fake news ou hipérbole?

Frase do presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Luis Roberto Barroso, no julgamento que vai regulamentar as redes sociais no Brasil: “Nós somos o único tribunal do mundo que delibera em público”.

 

Matemática impossível

Ao anunciar que fechou questão contra a nova proposta de Lula para aumentar impostos, incluindo o IOF, a federação União-PP retira 109 votos do governo na Câmara. A oposição tem 94 votos garantidos no PL e Novo, além dos insatisfeitos no MDB, PDT, PSD, Republicanos etc.

 

Elogio e insulto

O ministro Gilmar Mendes não agradou redações de todo o país ao admitir, ontem no STF: a rede social de Elon Musk é “obviamente mais poderosa que todas as instituições de imprensa escrita e falada”.

 

Interesse zero

Apesar da dominar manchetes e meios de comunicação, o depoimento do ex-presidente Jair Bolsonaro no STF não entrou nos 100 assuntos mais buscados do dia no Google. Na internet, o interesse foi a Seleção.

 

Adora flanar

Não deu nem tempo de esquentar a cadeira no Brasil e o presidente Lula já confirmou um novo rolê internacional. Semana que vem, o petista vai flanar para o Canadá sob desculpa de participar do G7.

 

Irmão de Bolsonaro?

Viraliza o vídeo em que um idoso, indagado na rua sobre o roubo aos aposentados, foi preciso: “Agora só falta o PT dizer que o irmão de Lula é irmão de Bolsonaro”. Referia-se a Frei Chico, irmão de Lula, vice-presidente de um dos sindicatos mais beneficiados pelo afano bilionário.

 

Esbanja

Na sanha para aumentar impostos, Fernando Haddad ouviu umas boas na Câmara ontem (11). Marcel van Hattem (Novo-RS) cobrou o ministro, “O senhor chegou a sugerir para a esposa do Lula que gaste menos?”.

 

Pensando bem...

...agora só falta o STF legislador criar o Ministério da Verdade, previsto por George Orwell em “1984”.

 

PODER SEM PUDOR

Cláudio Humberto

O sonho sobe a rampa

O mineiro Magalhães Pinto era ministro das Relações Exteriores do general Costa em Silva e sonhava em virar presidente da República, até como prêmio pelo apoio que concedeu ao golpe militar de 1964. Certa vez, ele foi convidado por Costa e Silva a acompanhá-lo na cerimônia de subida de rampa do Palácio do Planalto. Já no meio da tampa, o general brincou: “E então, ministro, está gostando de subir a rampa?”.

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