Existem Políticos e políticos, no Brasil e no resto do mundo. Entre os primeiros, com “P” maiúsculo, temos de nos limitar aos já falecidos, pois os vivos, por muito vivos, sempre podem nos surpreender com “proezas” nada edificantes. Assim, em terras tupiniquins, é possível encontrar uns poucos que realmente dignificaram a política.
Um que “deixou a vida para entrar na História”, como afirmou em sua carta-testamento, ao cometer suicídio, foi Getúlio Dorneles Vargas (1883-1954), que era filho do famoso “coronel” Manoel do Nascimento Vargas, do Rio Grande do Sul, como lembrou o conceituado ex-parlamentar Ruben Figueiró de Oliveira, em artigo neste jornal (19/7/12).
No panorama internacional merece citação o grande líder Winston Churchill (1874-1965), um dos maiores estadistas do século 20, que liderou a Inglaterra no enfrentamento à poderosa Alemanha nazista na Segunda Grande Guerra até a vitória final.
Da mesma Inglaterra contemporânea há que se mencionar Margareth Thatcher (1925-2013), que recebeu o país com um quadro econômico e social em frangalhos e o reconduziu ao centro do poder mundial.
Nos Estados Unidos, pátria de grandes homens que influíram nos destinos do mundo, destacou-se Franklin Delano Roosevelt (1882-1945), o único eleito presidente para quatro períodos (1932, 1936, 1940 e 1944); venceu a grande crise econômica de 1929 e comandou a vitória aliada contra o nazifascismo.
Da mesma forma, existem Demóstenes e “demóstenes”. Aquele, com “D” maiúsculo, foi o grande Político (com maiúscula) e orador ateniense (384-322 a. C.), que, durante boa parte de sua vida, liderou a luta contra as tentativas de Filipe, da Macedônia, de dominar a Grécia.
Derrotado e vendo a pátria dominada, exilou-se, voltando depois para combater Alexandre, filho de Filipe. Com a morte de Alexandre e fracassando a insurreição contra seu sucessor, Demóstenes praticou suicídio, ingerindo veneno.
É considerado o “príncipe dos oradores da Antiguidade”, sendo o seu estilo oratório “um primor de concisão e pureza” (Dicionário Koogan/Houaiss).
Já o nosso “demóstenes”, até há pouco tempo considerado o paladino da ética e da virtude política, com seus vibrantes e aplaudidos discursos no Senado em defesa da moral e dos bons costumes, vergastando seus colegas pilhados em malfeitorias, de repente flagrado banhando-se gostosamente numa cachoeira de irregularidades e ilegalidades, demonstrou ser um ídolo com pés de barro, que rapidamente se desmancharam e levaram à cassação de seu mandato de senador, com a consequente perda da elegibilidade para cargos públicos até o ano de 2027.
Esta, porém, foi anulada por questionável decisão do Supremo Tribunal Federal, e Demóstenes Torres voltou à política e se elegeu deputado federal em 2018.
Na sequência, políticos até então tidos como virtuosos administradores e legisladores, acostumados a fazer tranças em cachoeiras e a dar nós em pingos d’água, estão sendo aos poucos envolvidos nesse emaranhado zoológico construído pelo até agora enjaulado Carlinhos, o da Cachoeira, apesar dos esforços de seu famoso advogado de R$ 15 milhões (com atualizações: publicado originalmente em 24 de julho de 2012).