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You are now a central banker

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Ser um banqueiro central frequentemente implica tomar decisões impopulares para manter a estabilidade econômica. A frase “You are now a central banker”, enviada por Paul Volcker a Alan Greenspan, simboliza essa responsabilidade: conter a inflação e salvaguardar a credibilidade da política monetária, mesmo diante de pressões políticas e reações adversas. Volcker repassou essa frase em um bilhete enviado a Greenspan após a primeira reunião em que este, como presidente do Federal Reserve no fim da década de 1980, decidiu elevar as taxas de juros, marcando um momento crucial de sua gestão.

No Brasil, a condução da política monetária ocorre em um ambiente de forte pressão fiscal. A política de ajustes de gastos adotada até aqui não tem favorecido a estabilização das expectativas de inflação e impõe desafios adicionais ao Banco Central (BC). Desde o anúncio, em novembro de 2024, de medidas de corte de gastos consideradas insuficientes pelo mercado, as projeções fiscais permanecem frágeis. A mediana das previsões de mercado do Relatório Focus indica deficits primários de 0,6% do PIB tanto em 2025 quanto em 2026, enquanto a dívida pública bruta deve atingir algo próximo a 81% e 85% do PIB nesses anos. Pior, mesmo olhando para horizontes mais longos, como 2027 e 2028, o mercado não enxerga equilíbrio do resultado primário.

A deterioração das expectativas de inflação foi significativa: desde o fim de novembro, a mediana das previsões para 2025 saltou de 4,4% para 5,7%, enquanto para 2026 subiu de 3,8% para 4,4%, desviando-se consideravelmente da meta de 3% ao ano, com um limite de tolerância de até 4,5%. E o cenário pode se agravar, já que, em fevereiro, a inflação de 1,31% foi a maior desde 2003. No acumulado em 12 meses, a inflação já está em 5,06%.

A ata da última reunião do Copom preservou o tom firme da administração anterior de Roberto Campos Neto e reconheceu que o hiato do produto está positivo, a inflação resiliente no setor de serviços e o mercado de trabalho ainda apertado. Esse contexto reforça que o último ajuste de juros e a sinalização de um novo aumento, decididos antes da mudança de comando no BC, estavam na direção certa. O mercado já precifica esse aumento de um ponto porcentual na reunião de março, que ocorrerá na semana que vem e deve levar a taxa Selic a 14,25% ao ano.

As decisões do Copom serão analisadas de perto, não apenas porque esse aumento foi definido na gestão anterior, mas principalmente porque o mercado buscará sinais claros sobre a disposição do novo comando em controlar a inflação. Em contextos de teoria dos jogos, um BC com inclinação mais branda em relação à inflação pode adotar estratégias de comunicação e medidas que transmitam uma imagem de maior rigor para preservar sua credibilidade, especialmente se os custos reputacionais de revelar uma postura mais flexível forem elevados.

Assim, as reuniões a partir de maio serão decisivas para sinalizar a posição do BC ao mercado. Se os riscos indicarem um afastamento das expectativas da meta e os indicadores continuarem apontando para uma inflação resiliente, o BC poderá ser forçado a agir não apenas para evitar a erosão do juro real, mas também para intensificar o aperto monetário. Mesmo que os dados sejam conflitantes e haja incerteza no mercado quanto à dinâmica futura, o BC terá que escolher entre reforçar sua credibilidade ou arriscar um cenário no qual a política monetária perde efetividade. Esse último caso implicaria em juros elevados por mais tempo, com custos significativos para a sociedade, até que a confiança fosse restabelecida.

Um auxílio do governo no campo fiscal seria fundamental para reduzir o custo de desinflação da economia brasileira e o impacto de juros mais altos sobre o setor privado. Enquanto isso, Galípolo e sua equipe estarão sob constante escrutínio do mercado para manter a credibilidade da política monetária em um cenário fiscal adverso. Com o cumprimento da meta de inflação sob pressão, a condução da política exigirá decisões difíceis, como Volcker sinalizou a Greenspan.

ARTIGOS

O que é necessário para democratizar oportunidades internacionais?

16/04/2025 07h30

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Por muito tempo, as oportunidades de estudar e fazer intercâmbio no exterior foram privilégios considerados “para poucos”. Décadas atrás, somente pessoas muito ricas ou aquelas que estudaram nas melhores escolas tinham a chance de adentrar em grandes universidades internacionais. Contudo, nos últimos 10 anos, vimos uma grande transformação, com um aumento considerável nas bolsas de estudos disponíveis.

Atualmente, há mais de 920 mil vagas de bolsas de estudos integrais espalhadas pelo mundo, possibilitando aos brasileiros o acesso a uma formação de alto nível em diversos países, sem custos exorbitantes.

Universidades nos Estados Unidos, Canadá, Europa, Ásia e Oceania oferecem cursos de graduação, mestrado, doutorado, intercâmbios de idiomas e até estágios e pesquisas científicas com 100% de cobertura. A democratização das oportunidades internacionais, na verdade, já está acontecendo.

Mas o que ainda falta? Informação. Muitas instituições brasileiras não discutem essas possibilidades com seus alunos. E, em alguns casos, o sistema educacional e até mesmo as empresas parecem não ter interesse em divulgar essas alternativas. Talvez, por um temor de que mais pessoas consigam alcançar oportunidades sem a necessidade de grandes investimentos financeiros.

Contudo, no Brasil, já estamos levantando a bandeira de que, sim, é possível estudar fora com bolsa integral, sem precisar desembolsar valores absurdos, como os 80 mil dólares anuais exigidos por algumas universidades de ponta. E, para aqueles que desejam viver essa experiência, a preparação está mais acessível do que nunca.

Se compararmos as oportunidades de intercâmbio na atualidade com as gerações passadas, a diferença é gritante. Nos anos 1990, para ir a uma universidade renomada, como Harvard, era preciso ter grande poder aquisitivo, além de um networking bem estabelecido. Hoje, no entanto, podemos fazer cursos de Harvard on-line, diretamente da nossa casa e sem nenhum custo. A instituição oferece conteúdos gratuitos na sua plataforma, com professores renomados e material didático de qualidade. Isso sem contar as milhares de bolsas de 100% abertas todos os anos para graduação, pós, mestrado, doutorado, estágios, pesquisa, programas de Ensino Médio e muito mais.

Neste sentido, a globalização proporcionada pela internet e pelas redes sociais abriu portas para possibilidades inimagináveis. As bolsas de estudos têm se tornado cada vez mais inclusivas, com vagas para pessoas provenientes de países em desenvolvimento, como o Brasil, onde ainda enfrentamos desafios como alta corrupção, baixos índices educacionais e poucas oportunidades para jovens.

Vale ressaltar ainda que à medida que as bolsas de estudo aumentam, também mudam os critérios de seleção. Atualmente, mais da metade do processo seletivo para bolsas internacionais leva em consideração a história de vida do candidato, seus sonhos, talentos e pontos fortes e fracos. Esse aspecto humanizado é uma verdadeira revolução quando pensamos que no Brasil ainda existe uma clara desigualdade, com candidatos de diferentes realidades sendo avaliados de maneira desigual.

Imagine, por exemplo, o contraste entre um aluno que estudou em uma escola de elite, viajou o mundo e fala três idiomas e outro que estudou em uma escola pública e nunca teve uma aula de inglês. Neste caso, por conta deste modelo, os brasileiros têm mais chances de se destacar e conquistar oportunidades fora do País.

A disparidade social é, sem dúvidas, um dos maiores desafios. Acredito que o caminho é ampliar o acesso a oportunidades internacionais, oferecendo não só aos jovens, mas para todos, as ferramentas necessárias para se destacarem. Com mais informações, alinhadas à acessibilidade, podemos transformar a vida de muitos brasileiros, ajudando-os a alcançar o que antes parecia um sonho distante: uma educação internacional de qualidade, sem custos exorbitantes e com um futuro promissor à frente.

EDITORIAL

Mais respeito à lei, mais segurança

O respeito à legalidade deve ser incentivado desde cedo, em casa e na escola. O que está em jogo é mais do que segurança, é o tecido social da nação

16/04/2025 07h15

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A necessidade de um sistema mais íntegro e eficiente na segurança pública brasileira é inegável. Não se trata apenas de uma demanda das forças de segurança ou das autoridades, mas de um clamor da sociedade, que reconhece a importância de instituições confiáveis, bem aparelhadas e comprometidas com o combate à criminalidade. Em estados fronteiriços como Mato Grosso do Sul, a urgência dessa discussão é ainda maior.

Com uma extensa faixa de fronteira seca com o Paraguai e a Bolívia, MS vive uma situação peculiar: o entra e sai constante de pessoas, mercadorias e substâncias ilegais é uma realidade antiga, que desafia governos há décadas. O contrabando, o tráfico de drogas e o descaminho fazem parte do cotidiano de fiscalização nas áreas limítrofes. Contudo, ainda não conseguimos implementar um sistema robusto que seja capaz de conter de forma eficaz esse tipo de movimentação ilícita.

É verdade que, em muitas cidades de Mato Grosso do Sul, o cidadão não percebe diretamente os efeitos da violência urbana que marca outras regiões do País. Em parte, isso se deve ao trabalho preventivo das forças policiais. Mas também é verdade que, em algumas áreas de fronteira, a aparente tranquilidade tem um motivo preocupante: o medo. Muitas comunidades convivem com a presença constante de grupos criminosos, que impõem a ordem pelo poder do medo e do dinheiro fácil do tráfico.

Quando o assunto é controle de fronteira, é preciso deixar claro: o Brasil é um país soberano. É, portanto, responsabilidade da União garantir que suas fronteiras estejam protegidas, fiscalizadas e organizadas. A omissão ou a fragilidade do Estado nesses pontos permite que o crime organizado encontre brechas para se estruturar, crescer e aliciar. A segurança pública, nesses casos, começa por um controle territorial eficiente.

Nesta edição, relatamos um novo exemplo da sofisticação e ousadia do tráfico: estudantes de Medicina sendo flagrados transportando cocaína da Bolívia para o Brasil. Um caso que choca, mas que mostra como o crime não poupa perfis nem classes sociais. Jovens com futuro promissor, em formação acadêmica, cooptados por quadrilhas para agir como “mulas” do tráfico, cruzando a fronteira com entorpecentes.

Situações como essa exigem mais do que fiscalização. Exigem, sobretudo, a valorização da ética, da lei e da cidadania. O combate ao crime precisa ser também um trabalho cultural, de conscientização e educação. O respeito à legalidade deve ser incentivado desde cedo, em casa, na escola e nas universidades. O que está em jogo é mais do que segurança, é o tecido social da nação.

Para que tenhamos fronteiras mais seguras, é preciso uma ação coordenada entre União, estados e municípios, com investimentos constantes, inteligência e vontade política. Acima de tudo, é preciso cultivar uma cultura de legalidade e respeito às instituições, sem isso, qualquer muro ou fiscalização será apenas paliativo. Segurança de verdade se constrói com integridade – institucional e pessoal. Mas não basta apenas isso: precisamos das forças federais, de mais policiais federais e rodoviários federais na região.

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