Política

Entrevista

"O caminho é o pagamento pelas terras, não existe outra forma de resolver"

Presidente da Famasul, Marcelo Bertoni fala sobre o impasse na comissão do Supremo Tribunal Federal (STF) para tentar pôr fim aos conflitos entre produtores e indígenas e também sobre safras e a preservação do Pantanal

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A questão fundiária no Estado segue como um dos desafios mais complexos para a produção agropecuária e a segurança jurídica no campo. O presidente da Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul (Famasul), Marcelo Bertoni, defende que o único caminho viável para resolver os conflitos de terra com indígenas é o pagamento pelas áreas.

Segundo ele, não há alternativa que traga uma solução definitiva sem garantir a justa indenização aos produtores que tenham títulos de propriedade. A discussão, no entanto, esbarra na falta de critérios objetivos e na insegurança jurídica gerada pela ausência de um marco temporal claro para as demarcações.

Nesta entrevista, Bertoni também aborda as dificuldades da atual safra, que começou com otimismo, mas que enfrenta impactos da estiagem em algumas regiões do Estado. Além disso, ele discute a transformação do milho safrinha com a chegada da indústria do etanol e os efeitos da alta do dólar sobre os custos de produção.

Ainda, o presidente da Famasul destaca a importância da atuação da entidade em pautas como a preservação do Pantanal e o combate à violência doméstica no campo. Veja a seguir.

No início da atual safra, houve uma expectativa melhor que a de agora, com possíveis perdas. Como será o atual ciclo?

A safra começou com empolgação. Mas na região sul, tivemos um problema de estresse hídrico que atingiu em torno de 46% [das propriedades]. Calculamos uma quebra de mais ou menos 2 milhões de hectares. Esse problema foi mais localizado em cidades como Amambai, Laguna Caarapã e em partes de Maracaju.

Mas eu posso lhe afirmar que as plantações nessas regiões ficaram muito manchadas. Por exemplo, há propriedades em que uma parte significativa não teve chuva e foi prejudicada pela estiagem e que em outra o desenvolvimento da soja ficou dentro do esperado.

E a safrinha?

O milho está sendo plantado. Está chovendo, e por enquanto não temos reclamações. Agora, temos 2,1 milhões de hectares de área plantada. Nossa estimativa para essa safra é de que teremos uns 10 milhões de toneladas de milho, na estimativa de 80 sacas por hectare, um resultado melhor que o do ano passado.

A agroindustrialização do milho, sobretudo com a chegada do etanol, está transformando a safrinha de MS em “safrona”?

Mato Grosso do Sul era um grande exportador de milho não apenas para fora, mas também forte nas vendas no mercado interno, para outros estados como Paraná e Santa Catarina. Nos últimos anos, porém, com todos esses investimentos que tivemos aqui, primeiramente nas cadeias da suinocultura e da avicultura e agora com a produção de etanol, provavelmente todo o milho produzido por MS será consumido internamente.

E mais: a chegada do etanol de milho trouxe outra vantagem para o produtor na safrinha, pois também é possível fazer o etanol a partir do sorgo. Isso fez com que alguns produtores optassem pelo sorgo, por causa de sua resistência maior às variações do clima. Ainda estamos quantificando, mas certamente a produção de sorgo terá um grande avanço.

Aquela alta expressiva do dólar em dezembro de 2024 teve um grande impacto nos custos de produção?

O produtor é muito sábio. A maioria faz algumas travas para proteger os ganhos e mitigar os riscos, sobretudo quando se trata da venda de grãos. Normalmente, o produtor não vende toda a sua produção de uma vez só, ele vem fazendo as travas de comercialização ao longo da safra. Provavelmente, muitos produtores devem ter pego o dólar alto para fazer uma venda melhor naquele momento, mas agora o produtor também terá de estar muito atento para comprar os insumos, porque o custo atual poderá refletir na renda dele na próxima safra.

A Famasul entrou como parceira do governo do Estado no pacto para a preservação do Pantanal. Como você vê essa união de esforços por setores da sociedade, os quais até bem pouco tempo atrás tinham dificuldade de dialogar?

Em primeiro lugar, é preciso destacar que o produtor pantaneiro tem todo o conhecimento e a tradição de lidar com o bioma, tanto é que ele está lá há 300 anos e o Pantanal é muito preservado. O pantaneiro sabe lidar com esse ecossistema que é tão difícil de produzir.

Na época da criação do atual Código Florestal, nossos parlamentares foram muito assertivos ao inserir o artigo 10, que remete aos estados as políticas de preservação de biomas específicos. E Mato Grosso do Sul, 
em uma posição de vanguarda, foi o primeiro a regulamentar a ocupação do Pantanal. Na época, Mato Grosso, que também divide o bioma, ficou para trás.

Essa regulamentação, mesmo tendo sido positiva em vista do que poderia acontecer, acabou sendo muito dura para o produtor. Atualmente, o produtor rural só pode mexer em 40% de sua propriedade – antes, ele tinha 80% dela totalmente livres.

E em 2023, a questão voltou a ser discutida. Muitos parlamentares tentavam legislar sobre o Pantanal sem nunca ter pisado aqui. Mas conseguimos aqui dentro de Mato Grosso do Sul, sob a liderança do governador Eduardo Riedel, redigir uma lei que agradasse a todos. A nossa questão naquele momento era não perder mais área agricultável.

Nessa negociação da lei, a gente mostrou que estava disposto a dar alguma coisa, mas também que recebêssemos algo em troca. Então, foi realizada uma construção entre vários atores da sociedade, e chegamos em uma lei que garante que o produtor receba pela preservação, por meio do PSA [pagamento por serviços ambientais].

Porque quase sempre, quando se paga pela preservação, o dinheiro nunca chega ao produtor, que está na ponta e deve preservar. Assim, criamos o fundo e garantimos que 80% dos recursos fossem destinados aos produtores. Já os outros 20% serão destinados a ações de preservação.

Mas no pagamento pela preservação, o conceito de adicionalidade (pagamento somente pela preservação sobre a área em que o produtor pode exercer atividade econômica) está mantido?

Sim. O adicional é o seguinte: eu recebo por preservar uma área que eu poderia estar usando para agricultura ou para pecuária. Então, o pagamento pelo serviço ambiental é sempre sobre o excedente. Particularmente, 
eu acho um critério injusto, pois o produtor – hoje e antigamente – sempre preservou 20% de sua propriedade [reserva legal] ao longo da história e não ganhou nada com isso. No Pantanal, pior ainda. Ele foi obrigado a preservar pelo menos 50% da propriedade, e sobre essa área ele não pode ser remunerado e ainda paga impostos por ela.

Eu acredito que quem tem de pagar pela preservação é a população que deseja que o produtor preserve. E geralmente, uma grande parte da população não quer pagar por isso. 

Às vezes, existe o paradoxo de a pessoa exigir a preservação da área do produtor, mas nem sequer faz a coleta seletiva na casa dela.

Repetindo: no Pantanal, o produtor só pode mexer em 40% da propriedade, fazendo transformação de pastagens. Isso restringe a potencialidade dessas propriedades, porque quando se tem um capim melhor, você tem muito mais produção e o animal se alimenta melhor. Produtores que têm essa restrição precisam de uma ajuda para se manter.

O conflito por terras com indígenas é outro problema complexo. Como anda a negociação no Supremo Tribunal Federal (STF), na junta de conciliação?

É difícil para os dois lados. Na verdade, temos conflitos em todos os estados brasileiros. Eram só 18, mas com a queda do marco temporal e com [novas] áreas reivindicadas, estamos com conflitos nas 27 unidades da Federação.

No Distrito Federal, que havia uma área que já havia sido indenizada e que não tinha indígena, hoje tem uma aldeia lá dentro, com eles reivindicando. Se eles estavam lá previamente ou não, não estou aqui para discutir isso.

O que eu tenho discutido nas reuniões e levado é que Mato Grosso do Sul é um dos estados em que há conflitos há mais tempo. E sim, nós temos problemas, mas somos um estado em que a grande parte das áreas que estão em conflito foram paraguaias. E houve a Guerra do Paraguai e elas foram incorporadas ao Brasil. As pessoas se esquecem disso. Há 150, 160 anos, o governo do Brasil imperial vendeu títulos aqui e incentivou a ocupação por famílias brasileiras, por uma questão de soberania nacional.

O que não podemos fazer é tirar os proprietários dessas áreas e fazer o que está tentando impor a todos eles, que é um status de invasor de uma propriedade que ele tem o título. O território todo do Brasil já foi indígena antes da chegada dos europeus? Sim. O que não pode acontecer é cobrar apenas do produtor por tudo o que ocorreu ao longo da história.

Falta critério objetivo para classificar o que é ou não uma terra indígena?

Sim. Por exemplo, alguém reivindica uma área e daí você fala “O.K., me dá uma prova, um estudo, de que você ou o seu grupo de fato ocupou essa área”. Sabe a resposta? Não tem. E eles acabam não apresentando, 
e não vejo disposição nenhuma do outro lado em ter um estudo muito objetivo.

E mais: em um país do tamanho do Brasil, não eram todas as áreas que estavam ocupadas. Ponto. E temos muitos estudos nessas várias ações judiciais que estão tramitando dizendo que, em muitas áreas reivindicadas, não havia ocupação indígena. Não há osso, não há itens de barro nem cerâmica encontrados. Mas alguém do outro lado resolveu ou decidiu que teria de ser ali? E por que ali?

Tivemos recentemente um acordo celebrado em Antônio João. O pagamento pelas terras é o caminho?

O caminho é, sim, o pagamento pelas terras. Não existe uma outra forma de resolver o problema. Se o produtor receber o dinheiro, ele poderia se dispor a deixar a área. Agora, é bom ressaltar que nem todos desejam sair de suas terras. Até porque existem pontos nevrálgicos nesse impasse e que os dois lados dificilmente abririam mão.

Também, há vários problemas nos procedimentos da Funai [Fundação Nacional dos Povos Indígenas]. Há laudos com problemas, há falta de transparência nos estudos antropológicos e, principalmente, não há registro de nada disso, sobre estudos em andamento. E quando somos comunicados, está tudo pronto e não temos nem como sequer discutir.

É preciso critério. Temos a reserva Raposa Serra do Sol, em que ficou estabelecido que cada indígena teria 66 hectares. Há áreas na Amazônia com 6 mil hectares por indígena. Qual é o critério? Não existe critério. 
O critério é do antropólogo que faz o estudo, e eu não estou dizendo que ele está errado, mas afirmo que é preciso que todos entendam a metodologia aplicada, para haver mais clareza nas discussões – e isso não existe hoje.

E há outros pontos controversos sendo discutidos na minuta de lei que deve sair dessa conciliação no STF – o qual, é preciso destacar, não é o lugar para se fazer uma lei, mas melhor estar participando do que estar fora, para podermos colocar o lado do produtor. Por exemplo: sobre o pagamento, como vai ser pago? De que forma o produtor vai sair, só quando ele receber? Houve para nós uma retomada, o que para a gente é uma invasão? Então, eu quero a reintegração de posse em no máximo 30 dias.

Outro ponto é que não abrimos mão do marco temporal, porque ele limita os conflitos. Veja o que ocorre hoje: havia até o julgamento do marco temporal áreas em conflitos em 18 estados, mas agora há ocupações em todo o Brasil. Há seis meses, havia 120 áreas em estudo; agora são 161. Quanto às áreas pretendidas, tínhamos 514 e hoje estamos com quase 700. E a Funai não informa esses números. Ninguém os tem. Falta clareza.

Vai melhorar para o produtor o fim da paridade de grãos para fins de recolhimento de ICMS?

Explicando o princípio da paridade, lá de trás, era assim: para cada tonelada de grãos exportada, tínhamos de manter a mesma quantidade no mercado interno. Na época, isso foi feito porque o Estado perderia arrecadação. Só que com o desenvolvimento que tivemos nos últimos anos, agora isso não existe mais.

No centro e no sul do Estado, sempre tivemos uma indústria de transformação dos cereais, mas na região nordeste de MS – Chapadão do Sul, Costa Rica, etc. –, tínhamos apenas duas grandes trades, a ADM e a Bungue. E elas repassaram o custo desse ICMS ao produtor. A cotação da saca de soja era, em média, de R$ 4 a menos e chegou a ter o pico de R$ 7 de diferença. Agora, os produtores dessas regiões terão um bom ganho na cotação, mas é claro que há uma diferença.

Qual a atuação da Famasul para reduzir a violência doméstica no campo?

A Famasul, em parceria com a promotoria, realiza palestras para mulheres no campo sobre violência doméstica, o que tem aumentado o número de denúncias. A iniciativa surgiu após uma mulher procurar ajuda em um evento da Famasul, e a organização percebeu a necessidade de agir. Tivemos um caso de uma mulher vítima de violência que, em uma das consultas médicas que oferecemos, pediu socorro à nossa equipe, pois foi o único lugar que ela se sentiu segura para fazer isso, porque estava longe dele [agressor].

PERFIL

Marcelo Bertoni

Graduado em Gestão Pública, vem de uma família tradicional de produtores rurais em Mato Grosso do Sul. 
Foi membro do Movimento Nacional de Produtores (MNP) e presidente do Sindicato Rural de Bonito. Atualmente, preside a Federação da Agricultura e Pecuária de MS (Famasul). Em nível nacional, é coordenador da Comissão de Direito de Propriedade do Instituto Pensar Agro (IPA) e membro do Conselho Deliberativo da Apex Brasil.

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CÓDIGO DE CONDUTA

CNJ proíbe juiz coach e limita participação em eventos e cursos

Conselheiro da OAB-MS no CNJ, Mansour Karmouche explicou que a medida foca quem faz promoção pessoal

13/12/2025 08h00

Mansour Elias Karmouche durante sessão no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília (DF)

Mansour Elias Karmouche durante sessão no Conselho Nacional de Justiça (CNJ), em Brasília (DF) Divulgação

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O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) publicou em setembro e entrou em vigor este mês a Resolução nº 650/2025, que regulamenta em todo o Poder Judiciário como os magistrados podem atuar como docentes e participar de eventos, reforçando limites para evitar conflitos com o expediente forense e com a independência judicial.

Pelo texto, magistrados da União e dos estados continuam proibidos de exercer outro cargo ou função, ainda que com disponibilidade, com exceção do magistério.

Mesmo assim, a atividade docente fica condicionada à compatibilidade de horários com o trabalho no fórum.

A regra vale também para o ensino a distância (EAD), que deverá seguir os mesmos princípios do formato presencial, incluindo a exigência de conciliação com o expediente forense.

A resolução determina ainda que cada tribunal deverá regulamentar o limite máximo de carga horária semanal dedicada à docência de EAD, levando em conta “peculiaridades locais”.

Além disso, fica vedado ao magistrado exercer cargo administrativo ou técnico em instituição de ensino, com exceção de funções como coordenação de curso, projetos de pesquisa e extensão, ou atividades em escolas de aperfeiçoamento dos próprios tribunais e entidades vinculadas.

Um dos pontos centrais é a proibição explícita da prática de coaching e atividades similares para preparação de candidatos a concursos, mesmo quando envolvam conteúdos jurídicos.

O CNJ estabelece que esse tipo de serviço – descrito como treinamento organizado e oneroso voltado a “objetivos predefinidos”, como aprovações e ganhos – não é considerado docência e, por isso, é vedado a magistrados.

A norma equipara ao coaching a assessoria coletiva via mídias e redes sociais quando houver monetização digital ou captação de clientela para venda de produtos e serviços.

Há, porém, uma ressalva: mentoria gratuita, individual ou coletiva, direcionada a alunos de políticas afirmativas construídas no âmbito do CNJ e voltada à pluralização do perfil da magistratura, não é tratada como coaching, mas deverá ser formalmente comunicada ao tribunal competente, em registro eletrônico.

Para atividades regulares de docência em instituições de ensino, o magistrado terá de registrar eletronicamente no tribunal informações como entidade, horários e disciplinas ministradas, preferencialmente no início de cada semestre, mantendo os dados atualizados.

O CNJ e a Corregedoria Nacional de Justiça farão acompanhamento periódico dessas informações.

A resolução também amplia o conceito de atividade docente para fins de controle: participação de magistrados como palestrantes, conferencistas, moderadores, debatedores, integrantes de comissão organizadora, membros de bancas de concurso e de comissões de juristas (inclusive instituídas pelo Legislativo ou o Executivo) passa a ser considerada docência.

EVENTOS

Uma exceção é criada para participações virtuais breves e não remuneradas: eventos online (ao vivo ou gravados) de até 20 minutos, em horário compatível com o expediente, ficam dispensados do registro eletrônico.

No capítulo sobre eventos, o CNJ estabelece que congressos, seminários, simpósios e encontros similares promovidos, realizados ou apoiados por conselhos e tribunais devem observar princípios como legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência.

O texto permite patrocínio de empresas com fins lucrativos até o limite de 30% do custo total do evento e autoriza patrocínio parcial ou total por entidades filantrópicas e fundações de direitos humanos, desde que compatíveis com o tema.

Já quando o evento for promovido ou subvencionado por entidade privada com fins lucrativos e houver custeio de transporte e hospedagem, a participação de magistrados fica limitada a papéis específicos, como comissão organizadora ou atuação como palestrante, moderador e debatedor – com exceção para eventos custeados exclusivamente por associações de magistrados.

A resolução ainda prevê a possibilidade de magistrados receberem premiação da administração pública ou de entidades sem fins lucrativos por obra jurídica ou prática inovadora de interesse da administração judiciária, desde que não haja comprometimento da independência funcional.

Também admite o recebimento de itens de cortesia em situações específicas, desde que o valor patrimonial não descaracterize o caráter simbólico.

ANÁLISE

Segundo Mansour Elias Karmouche, ex-presidente da Ordem dos Advogados do Brasil Seccional em Mato Grosso do Sul (OAB-MS) e conselheiro federal no CNJ, essas restrições aos magistrados foram o último ato do ministro Luís Roberto Barroso, antes de se aposentar do Supremo Tribunal Federal (STF).

“A medida foca os magistrados que costumam promover e oferecer cursos paralelos de mentoria e coaching, e, a partir de agora, essa prática foi completamente vedada. A proibição está alinhada a um código de conduta para magistrados, com o magistério ainda sendo aprovado, mas não podendo mais participar das redes sociais na capacidade de empreendedores”, detalhou.

Mansour Karmouche reforçou que a resolução chega em um momento de necessidade de mais transparência no sistema judicial brasileiro e foca a preocupação sobre potenciais conflitos de interesse dos magistrados.

“A partir de agora, todos os magistrados que participam de eventos precisam registrar e comunicar informações, incluindo valores recebidos e patrocinadores. Isso é importante para a segurança da sociedade, porém, infelizmente, a resolução se aplica apenas até o Superior Tribunal de Justiça (STJ), pois o STF está fora do alcance das regulamentações do CNJ”, pontuou.

O conselheiro federal da OAB no CNJ destacou que o ministro Luiz Edson Fachin, presidente do STF, pela limitação do conselho, propôs uma resolução específica para disciplinar a participação dos magistrados do Supremo.

“Essa proposta surgiu, em parte, após uma viagem controversa do ministro Dias Toffoli, que gerou grande polêmica”, recordou.

Fachin tem apresentado a ministros da Corte a intenção de criar um código de conduta para integrantes de tribunais superiores, como na Alemanha, onde o Tribunal Constitucional elaborou um código de conduta em 2017.

São 4 artigos e 16 itens no total, que são um conjunto de regras para os integrantes da Corte considerada a guardiã da Constituição alemã e que tem inspirado o ministro Fachin.

O primeiro artigo do Código de Ética alemão diz que: “Juízas e juízes devem se comportar, dentro e fora de suas funções, de modo a não prejudicar o prestígio do Tribunal, a dignidade do cargo e a confiança em sua independência, imparcialidade, neutralidade e integridade”.

O texto afirma que precisa existir um “zelo para que não surja qualquer dúvida quanto à neutralidade perante grupos sociais, políticos, religiosos ou ideológicos”. Ele cita também o cuidado com as “relações pessoais”.

O código tem, ainda, um parágrafo sobre a ética de aceitar presentes: “Juízas e juízes só aceitam presentes e benefícios de qualquer tipo apenas na medida em que isso não possa gerar dúvidas sobre sua integridade pessoal e independência”.

Diz também que os magistrados podem “receber remuneração por palestras, pela participação em eventos e por publicações somente e apenas na medida em que isso não prejudique o prestígio do Tribunal nem gere dúvidas quanto à independência, à imparcialidade, à neutralidade e à integridade de seus membros” e que “os rendimentos obtidos em atividades extrajudiciais devem ser divulgados”.

Por determinação do Código de Ética alemão, esses dados são públicos e ficam liberados para consulta. A tabela de 2024 é a mais recente disponível.

Mostra exatamente o quanto cada integrante do Tribunal Constitucional da Alemanha ganhou em atividades fora do Judiciário – publicação de livros e artigos, palestras, participações em eventos independentes.

O código também determina que os magistrados da Corte não podem emitir pareceres sobre questões de direito constitucional nem fazer previsões sobre o resultado de processos pendentes ou que podem vir a ser decididos pelo Tribunal.

O texto prevê ainda regras para depois do término do mandato. Fala, por exemplo, que os juízes não podem assumir atividades de consultoria nem emitir pareceres técnicos no primeiro ano fora do Tribunal e que, mesmo depois desse período, está vedada a atuação em casos da Corte para não dar a impressão de utilização indevida de conhecimentos internos.

O Reino Unido também tem código de ética para magistrados de tribunais superiores.

O documento determina que os juízes são expressamente proibidos de aceitar remuneração por atividades extrajudiciais e tem uma parte específica que fala o que é preciso ser levado em conta para que um magistrado se declare impedido de julgar uma determinada ação.

Nos Estados Unidos, a Suprema Corte adotou um código de ética em 2023, depois que reportagens revelaram que juízes ocultaram ter recebido presentes e benefícios de empresários. Um dos magistrados é Clarence Thomas, que está na Corte desde 1991.

Segundo investigações de agências de notícias do país, ele aceitou, durante anos, viagens de luxo pagas por um bilionário texano, que comprou uma casa do juiz. A transação não foi informada às autoridades. O código americano estabelece, por exemplo, que juízes precisam explicar os motivos de se declararem impedidos de julgar um caso.

Logo no início, o texto afirma: “A ausência de um código levou à falsa impressão de que os juízes desta Corte se consideram imunes a regras éticas. Para acabar com essa percepção enganosa, estamos publicando esse código, que representa uma codificação dos princípios que nós sempre respeitamos”.

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advogados e juristas

Prerrogativas homenageia Tebet e a convida para integrar chapa lulista em SP

"Nesta política do Brasil precisa ter coragem. E coragem não me falta", declarou Simone depois de ser convidada para mudar domicílio eleitoral para SP

13/12/2025 07h23

Simone Tebet recebeu homenagem de grupo de juristas ao lado de Geraldo Alckmin e Fernando Hadad

Simone Tebet recebeu homenagem de grupo de juristas ao lado de Geraldo Alckmin e Fernando Hadad

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Uma homenagem do grupo Prerrogativas a Simone Tebet (MDB), Fernando Haddad (PT) e Geraldo Alckmin (PSB) voltou a flertar com a possibilidade de ter os três ministros em uma chapa em São Paulo como palanque de Lula na eleição do ano que vem. Atualmente, o título eleitoral de Simone Tebet está em seu Estado natal, o Mato Grosso do Sul. 

Em evento com tom de campanha eleitoral, os três foram citados pelo coordenador do Prerrogativas, Marco Aurélio de Carvalho, como representantes da frente ampla que deu a vitória a Lula em 2022 e como trunfos para a eleição de 2026. O Prerrogativas é formado por advogados e juristas pró-PT e ampliou sua influência no governo com a indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, ao Supremo Tribunal Federal (STF).

"Nós vamos ganhar em São Paulo e no Brasil, em todos os Estados. Essa é a aliança pela democracia que vai vencer as eleições em 2026", disse Carvalho. Em uma referência indireta às crises recentes envolvendo o Congresso, ele também afirmou que Lula é o único adulto na sala e não quer "abocanhar" as competências dos outros Poderes.

"É um luxo para São Paulo ter três opções. É uma chapa que representa a união da direita civilizada, da centro-direita, centro-esquerda e esquerda em torno das instituições e da defesa da democracia", disse Carvalho ao Estadão.

Questionado se a ministra do Planejamento estaria disposta a mudar o domicílio eleitoral para São Paulo, respondeu: "Eu acho que ela estava esperando o chamado. Hoje nós fizemos o chamado para ela se apresentar à população de São Paulo. O Prerrogativas dá sorte". O grupo fez parte da articulação que levou Alckmin a vice de Lula em 2022.

Apesar de o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ) ter lançado sua pré-candidatura à Presidência há poucos dias, o governador Tarcísio de Freitas (Republicanos) segue sendo alvo preferencial do PT e foi citado pelo menos duas vezes em discursos no palco.

Haddad lembrou a declaração de Lula direcionada ao governador mais cedo nesta sexta-feira, de que os prognósticos de especialistas para a economia não se concretizaram. Marco Aurélio também fez críticas à gestão de Tarcísio em São Paulo.

"Hoje o presidente Lula falou uma coisa muito importante. Ele falou olhando pro governador de São Paulo: ‘Você viu Tarcísio que todos os prognósticos feitos por economistas não deram certo?’", disse Haddad. "Não é comemorar que o caras que apostaram contra o Brasil estavam errados. É comemorar que nós demos certo", continuou.

Haddad resiste a ser candidato novamente. Nesta semana, ele disse em entrevista ao jornal O Globo que pode deixar o ministério para ajudar na campanha de Lula no ano que vem, mas que já avisou ao presidente que não quer disputar uma nova eleição.

O petista é cotado tanto para disputar o governo de São Paulo quanto o Senado pelo Estado. Ao ser questionado novamente por jornalistas na noite desta sexta-feira, Haddad disse que já havia falado sobre o tema na entrevista.

Ex-presidente do PT e ministra da Secretaria de Relações Institucionais, Gleisi Hoffmann afirmou a jornalistas no evento que ainda não há uma definição.

"É óbvio que qualquer lançamento de nome, de composição, a gente tem que conversar. Não se faz de uma hora para a outra. Mas, com certeza, são 3 nomes muito potentes, muito importantes na política nacional e local aqui em São Paulo", afirmou.

Apesar de seu partido, o MDB, ainda não ter definido qual caminho seguirá em 2026, Tebet foi taxativa e disse que estará no palanque de Lula. A ministra do Planejamento recebeu aplausos da plateia ao dizer que Lula é maior presidente que o Brasil já teve. O MDB já teve José Sarney, Itamar Franco e Michel Temer como presidentes.

Para estar no palanque de Lula em São Paulo, ela teria que deixar o Mato Grosso do Sul e mudar de partido, já que o MDB paulista apoia Tarcísio. Tebet é cotada para uma vaga ao Senado, mas ao final de seu discurso algumas pessoas na plateia gritaram "governadora".

"Nesta política do Brasil precisa ter coragem. E coragem não me falta", declarou.

No caso de Alckmin, a prioridade é repetir a chapa com Lula para o Palácio do Planalto. Ele afirmou que o petista salvou a democracia ao derrotar Bolsonaro em 2022 e foi o orador mais aplaudido ao iniciar seu discurso cumprimentando a plateia com "companheiros e companheiras", marca do presidente.

Além dos três, o ministro do Empreendedorismo, Márcio França (PSB), já manifestou o desejo de ser candidato ao Palácio dos Bandeirantes. Ele não compareceu ao evento.

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