A notícia de que Carolina Soares, 17 anos, estava grávida mexeu com a vida de toda a família. Hoje, ao lado do namorado, o estudante Flávio Alves da Nóbrega, 16 anos, a jovem mãe já carrega o casal de gêmeos nos braços e, junto, as responsabilidades da maternidade prematura.
“Aconteceu por um descuido e não está sendo fácil. Não tivemos apoio da família logo de início e ainda tive que parar de estudar e trabalhar”, conta Carolina. O pai também lembra das dificuldades quando a namorada anunciou que seria mãe. “Ninguém aceitou, muitos diziam que não conseguiríamos levar adiante a gravidez”, diz.
Histórias como a de Carolina e Flávio se repetem a cada dia. Segundo o Censo 2010, Mato Grosso do Sul está entre os cinco estados com maior índice de mães na faixa etária abaixo de 20 anos, juntamente com Acre, Tocantins, Alagoas e Pará. Cerca de 440 crianças e adolescentes, de 12 a 15 anos de idade, já tiveram o primeiro filho, um percentual de mais de 21% da maternidade total de crianças nascidas.
A coordenadora do Programa de Planejamento Familiar da Secretaria de Estado de Saúde de Mato Grosso do Sul, médica ginecologista e obstetra Maria Auxiliadora Budib, explica que o início da vida sexual está relacionado aos meios cultural e familiar nos quais a adolescente está inserida. “Na Idade Média muitas meninas casavam-se ainda mais novas, com até dez anos de idade. Hoje, em nosso país, a primeira relação sexual das meninas ocorre entre os 15 e 17 anos”, destaca.
Sobre os riscos da gravidez na adolescência, a obstetra ressalta que são grandes as possibilidades de ocorrerem problemas, já que o corpo da jovem ainda não está preparado para todo o ciclo gestacional, além de imaturidade psíquica para encarar a maternidade na fase da adolescência.
“Na tentativa de esconder a gravidez dos pais e dos amigos, geralmente a adolescente inicia tardiamente o pré-natal, o que agrava os eventuais riscos da gestação de alto risco”, explica a ginecologista. Conforme Budib, o pré-natal feito com regularidade previne complicações, além de detectar doenças genéticas ainda durante a gravidez e antecipar o conhecimento da saúde tanto do feto quanto da mãe.
Para evitar a gravidez precoce ou indesejada, a médica aconselha o uso de métodos contraceptivos, principalmente do preservativo, que pode ser associado a outro meio de proteção que a adolescente achar mais adequado como pílula, injeção, DIU (Dispositivo Intra-Uterino), adesivo ou anel vaginal.
Prevenção e atendimento
Com o objetivo de ajudar crianças e adolescentes grávidas a encarar com mais tranquilidade essa nova etapa, em 2008, foi instituída em Mato Grosso do Sul, por meio da lei estadual 3.526, de autoria da deputada Dione Hashioka (PSDB), a Política de Prevenção e Atendimento à Gravidez na Infância, Adolescência e Juventude.
A proposta abrange ações especializadas na área de saúde das gestantes e por meio da educação com trabalhos de orientação, acompanhamento pré-natal durante e após o parto, direitos do recém-nascido, registro civil de nascimento, promoção de debates e ações multilaterais pelos órgãos da administração pública, entre outros.
Segundo a gerente técnica do Programa Estadual de Saúde do Adolescente e do Jovem, Vera Lúcia Silva Ramos, a nova proposta está incorporada a outros programas já existentes no Estado no que tange ao atendimento à gravidez na adolescência e que trata da prevenção a outros problemas que afetam os jovens como o vírus HIV/Aids.
A médica Maria Auxiliadora Budib ressalta que, além do apoio do Estado, o gravidez na adolescência requer, acima de tudo, a atenção da família, pois a maioria das meninas se encontra fragilizada devido à situação. “A adolescente já vive inúmeros conflitos próprios da faixa etária e precisa ainda mais deste apoio para um seguimento pré-natal correto, um parto tranquilo e também para que não haja evasão escolar, acarretando baixa escolaridade e baixa estima por parte desta mãe”, frisa.
No caso de Carolina, o bem estar apenas se estabeleceu no ambiente familiar com a chegada dos gêmeos Pedro e Manuela há pouco mais de um mês. “Sei que a vida vai ficar mais difícil agora, mas não me arrependo. Já não consigo me ver sem eles”, afirma. Mas ela alerta as jovens que ainda não passaram pela experiência. “Para essas adolescentes eu aconselho pensar bem porque a maternidade é infinitamente mais complicada nessa fase”, explica a adolescente, que pretende retomar os estudos e o trabalho no ano que vem.
Fonte: Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul