Em Mato Grosso do Sul, uma operação contra o tráfico de drogas desencadeada nesta sexta-feira pela Polícia Civil do Distrito Federal (DF) mirou o núcleo familiar de Thiago Gabriel Martins da Silva, conhecido como o Especialista do Primeiro Comando da Capital (PCC). Porém, dois dias antes dos mandados serem cumpridos, familiares dele foram exonerados do governo do Estado.
Suzi Adriana Martins, a qual, segundo fontes do Correio do Estado, seria mãe de Thiago Gabriel, e Rodrigo José Martins da Silva, irmão do Especialista do PCC, ocupavam cargos públicos comissionados na administração estadual.
A mãe ocupava o cargo de gestão e assistência na Secretaria de Estado da Casa Civil desde maio de 2023, com o salário de R$ 3.272,60 (sem descontos). Já o irmão do traficante recebia mais R$ 7.645,33, contando o salário fixo e as remunerações eventuais, sob o cargo de gestão operacional e assistência.
A nomeação dele ocorreu em julho de 2022, para atuar pela Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Mato Grosso do Sul (Agems).
Ambos, porém, foram exonerados do cargo nesta quarta-feira, conforme consta em publicação no Diário Oficial do Estado.
INVESTIGAÇÃO
Segundo as apurações, Thiago Gabriel era o líder local do PCC e fornecia entorpecentes para uma organização criminosa muito bem estruturada, com diversos núcleos comandando o tráfico internacional de drogas.
Em Mato Grosso do Sul o grupo de Thiago Gabriel era chamado de Núcleo Sinaloa, em alusão a um grande cartel de drogas do México e comandado pelo Especialista do PCC. Porém, após a sua prisão em 2023, na Bolívia, onde foi encontrado em um avião lotado de cocaína e com explosivos e coletes à prova de balas,
o Sinaloa teria passado a ser gerenciado por seus familiares – alguns deles alvos da ação desta sexta.
Ao todo, cinco pessoas residentes em Campo Grande foram presas na ação, contudo, todas elas estavam no Rio Grande do Norte, onde a família tem uma pousada.
Na Capital, a Delegacia de Repressão a Roubos a Banco, Assaltos e Sequestros (Garras), em apoio ao Departamento de Combate à Corrupção e ao Crime Organizado (Decor), cumpriu seis mandados de busca e apreensão na região das Moreninhas.
Entre os alvos presos estaria Ronaldo Cardoso, que é suplente de vereador pelo Podemos e conhecido como Ronaldo da Cab, 45 anos, que em 2024 obteve 1.163 votos.
Ele foi preso com o enteado, Pedro Jorge Martins da Silva. A ligação deles com Thiago Gabriel vem de Suzi, que é esposa de Ronaldo e mãe de Pedro.
Além disso, as informações apontam que outro alvo da operação em Campo Grande foi a advogada Aline Gabriela Brandão, filha de José Cláudio Arantes, mais conhecido como Tio Arantes, apontado como uma das principais chefias do PCC em Mato Grosso do Sul e preso desde 2023.
Essa filha de Tio Arantes foi casada com Thiago Gabriel, o qual, por sua vez, seria o fornecedor da cocaína que a quadrilha levada para o DF e distribuía, posteriormente, a outros estados brasileiros.
Conforme relatado, Thiago Gabriel foi preso na Bolívia, em agosto 2023, ocasião em que foi capturado com colete à prova de balas, granadas de uso restrito e uma aeronave carregada com 406 kg de cocaína.
Na apreensão, também foram encontradas armas de grosso calibre.
MORTE
Antes de ser preso, em 2021, Thiago Gabriel é acusado de ter assassinado o garagista Carlos Reis de Medeiros de Jesus, 52 anos, conhecido como Alma, além de ter sumido com o corpo da vítima.
O crime teria sido motivado por uma dívida antiga de Alma com o pai de Thiago Gabriel, José Venceslau Alves da Silva, conhecido como Celau, que morreu em 2020.
Durante as investigações do crime, Rodrigo José Martins da Silva, que na época tinha 19 anos, chegou a ser apontado pela polícia como participante do crime, porém, ele não chegou a se tornar réu pelo assassinato. Por esse crime, Thiago Gabriel ainda não foi julgado.
FUNCIONAMENTO
De acordo com a Polícia Civil, a droga era adquirida na fronteira de Mato Grosso do Sul com a Bolívia e o Paraguai e levada para o DF, de onde era comercializada.
O dinheiro era lavado por meio de uma fintech sediada em São Paulo – base do PCC –, onde foi movimentado cerca de R$ 300 milhões em apenas três meses, de acordo com a Polícia Civil do DF.
Ao todo foram, expedidos 19 mandados de prisão temporária e 80 de busca e apreensão. Além de Brasília (DF) e Campo Grande, outros mandados foram cumpridos em São José (SC); Várzea Grande (MT); Goiânia, Aparecida de Goiânia, Anápolis, Luziânia, Formosa e Águas Lindas (GO); Parnamirim e Tibau do Sul (RN); e Maceió (AL).
Saiba
Ronaldo Cardoso, 45 anos, chegou a desaparecer em novembro de 2024, logo após as eleições municipais. E foi a esposa dele, Suzi Adriana Martins, quem comunicou a imprensa do sumiço do marido. Na época, segundo Suzi, ele teria emprestado dinheiro com agiotas para a campanha como vereador para a Câmara Municipal de Campo Grande. Meses depois, em janeiro, ele retornou e afirmou que estava em uma clínica de reabilitação.