Artigos e Opinião

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Ruben Figueiró de Oliveira: "Bobos e querubins"

Ex-senador da República

Redação

31/08/2015 - 00h00
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Há muitos anos admiro as crônicas assinadas pela atilada cronista Dora Kramer. Nela encontro a precisão na análise de fatos políticos ocorridos no cenário buliçoso quão temerário da política nacional, dando-lhes a dimensão bem mensurada de seu alcance. Numa delas, afirmou a articulista, que no mundo da política não há bobos e querubins, ou seja, não há anjos, só valsam quem tem olhos bem vivos, todos são hábeis artistas.

A observação de Dora Kramer acertou na mosca. Quem lê ou ouve notícias sobre o que ocorre nas lambanças do atual cenário político e econômico do país acentuados pelo embalo das manifestações populares, como a ocorrida no último dia 16 de agosto, percebe que as lideranças maiores dos diferentes partidos estão se aliando na perspectiva de que algo de efeito político transcendente, não surpreendente, ocorrerá antes de 2018. Tal abalará as posições dos que detém o poder da República, nada porém que afete as estruturas básicas das instituições republicanas. 

Talvez seja uma vã intuição. Tenho para mim que todas as cabeças tidas como brilhantes e que tem poder político no País desejam a queda da presidente Dilma, por ato de vontade própria pela renúncia ou por decisão congressual. Assim indicam as conversações de bastidores tão comuns nos gabinetes e nos restaurantes refinados onde se reúnem a patota política da capital da República, a começar pela “companheirada” do PT sob inspiração do seu “brahma”. O atual vice, Michel Temer, na Presidência da República, seria um excelente alvo para a metralha oposicionista da petezada saudosa daqueles tempos irresponsáveis de falar mal de tudo e de todos. O objetivo é recuperar o terreno oposicionista e daí reconduzir Lula ao Planalto.

O PMDB, no poder efêmero de dois anos, armar-se-ia com posições sólidas para continuar, seja que partido vencer as eleições presidenciais de 2018, com sua posição parasitária nos intestinos do poder, política de lucros sem desgastes de ser poder. O PSDB, que hoje deveria ser abertura natural para a imensa parcela do eleitorado, mostra-se sem capacidade estratégica de firmar seu rumo. Tudo porque está lhe faltando unidade entre seus dirigentes maiores. Exceptua-se FHC, que já percebeu a tibieza que rola no espaço de decisões de seu partido. Prega a unidade de propósitos e ações, desambição para sobrepor às divergências de opiniões para prevalecer o propósito da reconquista do poder após esses 16 anos que amargam a longa estrada que foi imposta ao seu partido, onde só respira poeira.

O exercício da política tem uma propulsão que lhe é imanente, dinâmica, que os bobos e querubins, anjos em meio dos satanazes que dominam a política nacional, não tem condições de se equilibrar e sucumbem no mar de artes e safadezas daqueles.

Editorial

Fato e opinião: diferença que sustenta a verdade

Separar fatos de opiniões é mais do que um exercício intelectual, é um passo necessário para preservar a democracia, a informação qualificada e a própria lógica

16/05/2025 07h15

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Uma das distinções mais fundamentais no campo do jornalismo – e também na vida em sociedade – é a que separa fato de opinião. O fato é uma informação objetiva, passível de verificação por meio de documentos, registros ou observações. Não depende da visão de quem relata. Já a opinião é uma interpretação subjetiva, vinculada a crenças, sentimentos ou julgamentos individuais. O fato pode ser checado; a opinião, debatida. No entanto, essa diferença essencial parece cada vez mais ignorada.

Vivemos um tempo de confusão cognitiva coletiva, em que muitas pessoas têm dificuldade de identificar o que é constatação e o que é interpretação. Esse problema é agravado por redes sociais, onde os conteúdos circulam sem mediação e sem compromisso com a verdade. Notícias falsas, opiniões disfarçadas de fatos e discursos sem base concreta ganham o mesmo espaço – e o mesmo peso – que análises técnicas e dados verificados.

Por isso, nesta edição, destacamos um fato: desde que a Lei do Pantanal foi sancionada, o desmatamento no bioma caiu. A queda registrada é, inclusive, a maior entre todos os biomas brasileiros. Trata-se de um dado objetivo, apurado por fontes técnicas de monitoramento ambiental. Independentemente da opinião de qualquer grupo político, setor econômico ou indivíduo, o resultado é mensurável: o ritmo de supressão vegetal diminuiu.

É interessante observar que a lei foi aprovada justamente em um contexto de alta no desmatamento, ou seja, ela foi uma reação a uma realidade ambiental crítica. E teve efeito concreto: com regras mais claras, restrições maiores e monitoramento por satélite, ficou mais difícil desmatar. A legislação passou a funcionar como uma barreira efetiva à destruição do bioma, e os números refletem isso.

É claro que há quem discorde da existência da lei, de seu conteúdo ou de sua rigidez. Isso é opinião, e opiniões são bem-vindas – desde que reconhecidas como tal. O que não se pode fazer é negar o efeito que uma norma mais rígida teve sobre o desmatamento. Isso não é mais uma questão de perspectiva, mas de evidência.

A legislação ambiental, como se vê, não é inimiga da produção ou do desenvolvimento. É instrumento de equilíbrio e de ordenamento. E, quando ela funciona, como agora no Pantanal, o resultado positivo é algo que precisa ser reconhecido como fato, não como narrativa.

Separar fatos de opiniões é mais do que um exercício intelectual, é um passo necessário para preservar a democracia, a informação qualificada e a própria lógica. Sem isso, corremos o risco de viver em um país onde qualquer crença pode se impor como verdade – ainda que desmentida pela realidade.

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ARTIGOS

Quando a esquerda vai voltar a ter pautas próprias?

14/05/2025 07h45

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Agora é essa conversa da camisa da seleção. Minhas redes sociais, cheias de amigos e conhecidos progressistas (dos lulistas aos marinistas, dos saudosistas aos pós-modernos), todos ulularam de satisfação: “Agora eu compro!”; “Vamos pra rua de camisa vermelha da seleção!”; “Quero ver a cara dos patriotas!”.

Gente, que pobreza de ideias é essa? Sou do tempo em que a gente comprava a camisa vermelha na barraquinha da Rua XV, junto com o broche do Henfil com a graúna indignando-se com alguma coisa. Mas na hora da Copa era a amarelinha ou a azul do manto de Nossa Senhora, a padroeira, porque futebol é crença e também é sofrimento.

Quem pautou essa bizarrice de tornar a sagrada camisa do penta em símbolo de passeata política foram os caras do “mito”. Uma tristeza, uma apropriação indébita, uma profanação cultural com o símbolo máximo do nosso futebol, envergada com galhardia por um Pelé, um Garrincha, um Gerson, um Rivelino, Tostão, Sócrates, Falcão, Júnior, Zico. Ah, tantos nomes gloriosos e inesquecíveis. 

A esquerda fica empolgada com essa peraltice da CBF porque perdeu o rumo de sua própria narrativa e vive hoje como a cacatua de uma tia minha, que só sabe repetir as palavras que ela ensina. Muito malandra, minha tia ensina frases para desconcertar as visitas, como “Já não está tarde, comadre?” ou “Ai, que tá na hora da minha novela!”. Essa última, minha tia jura que ela repete, mas nunca ouvi. De qualquer forma, achei genial. Para uma cacatua, não para as forças progressistas do País.

Será que acabaram as pautas? Estaremos mesmo com nossos problemas todos resolvidos e nos resta apenas ficar arengando com os bolsonaristas, respondendo às provocações deles? E olha que isso eles fazem muito bem. Esses dias, teve um vereador em Curitiba (PR)que disse que a Ku Klux Klan era contra as armas para os negros e (eita raciocínio louco esse!), por isso, os negros foram desempoderados. Tudo isso para defender uma homenagem aos CACs. E dá-lhe indignação na internet, mostrando o rostão do vereador, feliz e contente com o marketing indireto. 

O Brasil é um país de democracia deficitária. Tá tudo para ser feito – começando na escola, que deveria ter aulas sobre a Constituição como tem de Matemática. Ninguém tá satisfeito, porque nossa democracia é nota 6. Tá sempre passando raspando. Por isso, quem realmente se importa com ela deveria estar falando dela o tempo todo, sendo didático, lembrando das conquistas tão duramente alcançadas, como a saúde pública, a universidade pública, as políticas de atendimento aos mais pobres.

Mas também deveria estar falando do que falta, do que precisa ser feito, de como é importante garantir cidadania e bem-estar para todos e não só para os 140 mil que quase não pagam imposto. E tem de entender que conflito é da natureza da democracia e, por isso, criticar e ser criticado faz parte do jogo e que não dá para substituir um “mito” por outro, porque até os gregos já largaram mão desse negócio de mito há mais de 2.500 anos e a gente ainda fica nesse rame-rame.

O denuncismo sem proposta é, para dizer o mínimo, chato pra caramba. E há muito tempo os progressistas andam sem propostas visíveis. Sei que nos cursos de pós-graduação, nos fóruns acadêmicos e nas revistas especializadas circula muita ideia boa. Mas aqui no rés do chão, onde vivemos nós, simples mortais, na planície, é só baixaria, de todo lado. E agora tem mais essa história da camisa da seleção. Que tristeza!

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