Equipamento da Apple era usado em quadrilha alvo de operação da Polícia Federal na semana passada
Se você pensa que as AirTags, aquele aparelho produzido pela Apple que ajuda a ajudar sua mala, quando você viaja de avião, ou rastreia o seu pet, para não perder ele de vista, pode ser utilizada apenas para o bem, pode estar enganado.
Na última quinta-feira (7), um grupo de traficantes internacionais que no Brasil atua em Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, utilizam o aparelho da Apple para acompanhar se a cocaína está a caminho de seu destino.
A droga, produzida em Colômbia, Peru ou Bolívia, que passa pelo Paraguai e pelo Brasil, tem como destino países europeus, como a Espanha, e também asiáticos, como China e Coreia do Norte.
O grupo que usa as Air Tags usava bolsas à prova d’água ao lado da cocaína para acompanhar a “encomenda” ilegal. E foi justamente os dados de acesso do aparelho, produzido pela Apple - que levaram a PF à quadrilha que traficou mais de uma tonelada de droga em dez meses.
Na operação desencadeada na semana passada, a Polícia Federal cumpriu mandados em 39 endereços no Estado de São Paulo capital, Santos, Guarujá, São Vicente, Praia Grande, Bertioga, Caraguatatuba e Paraibuna -, Rio de Janeiro - Duque de Caxias -, Pará - Belém e Barcarena - e Maranhão - São Luís. Todos são ligados ao Primeiro Comando da Capital (PCC).
O esquema
Os alvos das ordens de prisão incluem supostos expoentes da organização criminosa, como Marcel Santos da Silva, Juan Santos Borges Amaral, Carlos Alberto de Almeida Melo (“Barbinha”), Francisco Frutuoso Neto (“Manga” ou “SSCP”), Julio Enrique Ramirez Ochoa (“Gringo”), Luan Santos Dantas (“Fé em Deus”), Ryan Kageyama Santos, Sergio Luiz Alves dos Santos (“Braço”), Valmir de Almeida e Rodrigo Borges Amaral.
A Polícia Federal (PF) ainda investiga a participação de outras pessoas nos crimes, revelando que o relacionamento da quadrilha “é extremamente amplo, alcançando funcionários e seguranças do Porto de Santos”. Os nomes de Marcel e Juan foram descobertos após a apreensão de 100 quilos de cocaína, em janeiro, na Coreia do Sul, escondidos no compartimento subaquático do navio M/V Hyundai Oakland.
A embarcação havia partido do Porto de Santos com bolsas de lona à prova d’água escondidas dentro da válvula de entrada, nas quais foram encontrados oito AirTags — sete comprados e provavelmente instalados em Hong Kong, e um adquirido na Flórida (EUA), mas instalado no Brasil.
Com o e-mail vinculado aos AirTags em mãos, a PF obteve mensagens, documentos, fotos, históricos de buscas, contatos e endereços, que identificaram Juan e Marcel como líderes de um “complexo núcleo criminoso” na baixada santista, com ramificações no Paraná e Mato Grosso do Sul, destinado ao envio de cocaína para o exterior. Um dos principais métodos da quadrilha seria a ocultação da droga nos cascos de navios, com a ajuda de mergulhadores.
A partir da investigação sobre Juan e Marcel, os agentes chegaram a Julio Enrique Ramirez Ochoa (“Gringo”), apontado como o mergulhador responsável pela inserção da droga apreendida na Coreia do Sul. Em uma das conversas entre Juan e Marcel, Marcel perguntou se “Gringo” já havia “pulado”, ao que Juan respondeu que ele “estava descendo”.
Apreensão em Bataguassu
A PF conseguiu ainda ligar a quadrilha a uma série de outros eventos de tráfico de drogas. Entre eles, a apreensão de cinco quilos de cocaína no navio Cosco Shipping Seine, no Porto de Xangai, na China; a apreensão de 400 quilos de maconha em Bataguassu (MS), que levou à prisão de um investigado acompanhado de um menor de idade; e a apreensão de 289,3 quilos de cocaína a bordo do navio Trans África, em Las Palmas, Espanha.
Outras operações resultaram na apreensão de 114,6 quilos de cocaína no navio Feng Huan Feng, em Santos, e 39 quilos a bordo do navio Orchid, em Belém do Pará.
Para transportar a droga aos navios, a quadrilha utilizava uma lancha, a “San Piter”. A PF rastreou viagens feitas pela embarcação, incluindo uma entre a baixada santista e o porto de Paranaguá (PR). Além disso, foi identificado um entreposto usado pelo grupo entre Iguape e Ilha Comprida (SP), e possíveis bases em Paraibuna (SP), Barcarena (PA) e Fortaleza (CE).
Ao analisar o caso, o juiz Roberto Lemos dos Santos Filho, da 5ª Vara Federal de Santos, ressaltou a gravidade dos crimes, observando que os investigados transportaram mais de 670 quilos de cocaína em compartimentos subaquáticos de embarcações transatlânticas e trouxeram 400 quilos de maconha do Paraguai, movimentando mais de uma tonelada de entorpecentes em território nacional em apenas 10 meses.
O magistrado também destacou o “risco real de reiteração delitiva”, com “fortes indícios” de que o grupo estava planejando novas remessas de cocaína para o exterior, uma partindo de Caucaia (CE) ou São Luís (MA) e outra de Rio Grande (RS).
Assine o Correio do Estado