A investigadora da Polícia Civil, Maria Campos, foi a primeira a depor no julgamento dos acusados de envolvimento na morte de Marielly Barbosa Rodrigues, 19, ocorrida durante um aborto clandestino há 11 anos.
O cunhado da vítima, Hugleice de Souza, e o enfermeiro Jodimar Ximenes Gomes são réus em júri popular que começou na manhã de hoje, em Sidrolândia.
Conforme a investigadora Maria Campos, que participou dos trabalhos na época do crime, cascas de bala encontradas no local onde o corpo da jovem foi desovado foi primordial para descobrir a autoria do crime.
Segundo ela, Hugleice estava sempre chupando Halls, inclusive costumava oferecer para a investigadora, e a casca da mesma bala estava no local onde o corpo foi encontrado, o que levantou suspeita que o acusado poderia estar envolvido.
Além disso, segundo o depoimento da investigadora, outras atitudes de Hugleice também eram suspeitas, como nervosismo excessivo e contradições.
Conforme a investigadora, a mãe e irmã de Marielly, além de Hugleice, que era casado com a irmã da vítima, foram as pessoas que foram até a delegacia registrar boletim de ocorrência pelo desaparecimento da jovem, em 2011.
Na delegacia, o telefone da investigadora foi repassado para Hugleice, para que eles entrassem em contato, já que ela é responsável por investigações de pessoas desaparecidas.
No entanto, ninguém ligou, mas Hugleice afirmou que ligou várias vezes e ela não atendeu.
Conforme Maria Campos, esse foi o primeiro indício de que ele poderia estar envolvido, pois sustentava a mentira.
Ainda conforme o depoimento da investigadora, durante os trabalhos investigativos, Hugleice estava sempre "colado" nela. "Tudo que eu ia fazer ele estava junto", disse a policial.
A mãe e a irmã da vítima, diferentemente, tentavam todos os meios para descobrir onde Marielly poderia estar.
Além disso, Hugleice elogiava o trabalho de Maria e constantemente oferecia Halls para ela, sempre da embalagem preta.
Maria Campos afirma que ficou desconfiada do motivo do acusado estar sempre tentando agradar e ganhar a confiança dela e passou a ficar atenta a ela.
Em perícia no telefone, foi descoberto que Hugleice ligava mais de 30 vezes por dia para Marielly, chegando a ter 45 ligações em um único dia.
Essa fato chegou a ser questionado para a família, mas a mãe disse que o motivo das ligações é que a jovem estaria planejando uma festa surpresa para o sobrinho, filho da irmã e Hugleice.
Posteriormente, quando o corpo da vítima foi encontrado em um canavial, em Sidrolândia, o acusado foi até o local e chegou a dizer para a polícia que o corpo não era da vítima, e deixou o local.
A investigadora afirma que um detalhe chamou a atenção dela: perto de uma pedra onde estava o corpo, havia várias cascas de halls preto.
Ela fez a ligação com o fato de Hugleice sempre estar chupando a mesma bala e "matou a charada".
No mesmo dia em que o corpo foi encontrado, assim que saiu do local, antes da polícia, Hugleice foi para casa, pegou a mulher e a sogra e foi para o Alto Taquari, no Mato Grosso.
Depois, as investigações avançaram e foi descoberto que o cunhado havia engravidado a vítima e a levado para fazer um aborto clandestino, que resultou na morte da vítima e o corpo foi desovado no canavial.
Hugleice voltou a Campo Grande e se entregou, chegando a fiar preso por um período, sendo solto depois.
Julgamento
Hugleice de Souza e o enfermeiro respondem por provocar aborto com o consentimento da gestante, mediante fraude, grave ameaça ou violência, com a qualificadora de resultar na morte da vítima, e por ocultação de cadáver.
Hugleice está preso no Mato Grosso, onde foi condenado em 2020 a 12 anos de prisão por tentar matar a esposa, irmã de Marielly, no estado vizinho.
Ele veio até Sidrolândia com escolta para o júri.
Já Jodimar responde em liberdade.
Mais testemunhas de acusação e de defesa serão ouvidas ao longo do dia, além dos acusados.
A sentença deve sair apenas no fim da tarde.