Desde quinta-feira (8), uma frente fria derruba as temperaturas em Campo Grande, exigindo que as atenções se voltem ainda mais às pessoas em situação de vulnerabilidade social.
Nos últimos quatro dias, a Secretaria Municipal de Assistência Social (SAS), através do Serviço Especializado em Abordagem Social (Seas), realizou 150 abordagens sociais junto às pessoas que utilizam espaços públicos como moradia, ofertando serviços e acolhimentos.
No entanto, a maioria das abordagens (78) tiveram recusa, sendo apenas 72 pessoas acolhidas e 107 cobertores distribuídos.
Ao Correio do Estado, a SAS ressaltou que "as equipes de abordagem da Política de Assistência Social fazem a oferta dos serviços à pessoa em situação de rua, que tem por opção aceitar ou não os serviços da Rede", e que as recusas de atendimento "são um direito garantido pela Constituição Federal de 1988, em seu Art. 5º, Inciso XV".
A pasta informou que o serviço é oferecido de forma contínua, nas sete regiões de Campo Grande, e que as ações foram intensificadas desde o início da frente fria, principalmente na região central e em viadutos, pontes, entroncamentos, praças e onde há concentração maior dessa população.
"Os usuários que aceitam o acolhimento são levados para uma de nossas quatro unidades, onde têm a possibilidade de realizar sua higiene pessoal e receber um atendimento psicossocial, além de 4 refeições diárias", diz nota.
Durante o fim de semana, foram utilizados dois micro-ônibus, uma van e três veículos para a realização dos atendimentos e encaminhamentos.
A população pode contribuir com o trabalho de assistência social realizando denúncias pelos telefones (67) 996606539 e 996601469. Dessa forma as equipes podem ir até o local e fazer a oferta dos serviços da rede de Assistência Social do município.
Frio chegou a matar
No último sábado (10), um homem de 60 anos, que não teve o nome divulgado, foi encontrado morto no bairro Jardim Noroeste, em Campo Grande. A principal suspeita é de que ele tenha morrido em decorrência do maior frio do ano na capital.
A vítima estava com a coberta molhada, deitada em frente a um estabelecimento, na Rua Vaz de Caminha. Ao chegar no local, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) encontrou outras duas pessoas em situação de rua ao lado do corpo. Eles informaram que o homem havia se juntado a eles na noite de sexta-feira (9), molhado devido à chuva, informando apenas que era policial aposentado e que a família era de Paranaíba.
Segundo o Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet), durante a madrugada (meia-noite até às 5h) a temperatura na capital variou entre 4.8°C e 6.4°C, e a sensação térmica ficou abaixo de 0ºC.
Outros casos
No dia 12 de junho, um homem de cerca de 60 anos, que vivia em situação de rua, foi encontrado morto no Bairro Moreninhas, em Campo Grande. A principal suspeita é de que a morte teria sido causada pelo frio intenso.
No ano passado, também em junho, outro homem que vivia na rua, identificado como Nelson, morreu na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) Leblon, localizada na rua Benjamin Adese, bairro Jardim Leblon, em Campo Grande. Ele havia sido encontrado caído no chão em via pública, e apresentava sinais de hipotermia, alcoolismo e acidente vascular encefálico/morte cerebral. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde (Sesau), foi levado para a UPA Leblon pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu), com sinais vitais instáveis, que evoluiu para parada cardiorrespiratória.
Vulnerabilidade
Segundo dados do Cadastro Único de Mato Grosso do Sul, apresentados em janeiro deste ano, o estado tem 1.545 mil moradores de rua, o triplo do que tinha há sete anos, em 2017, quando o MS registrou 498 pessoas em situação de rua.
Ainda de acordo com o CadÚnico, desses quase 1,6 mil moradores de rua que vivem no estado pantaneiro, as maiores concentrações estão em Campo Grande, com 891, Dourados em seguida com 184 e, na terceira posição, Três Lagoas com 149.
Além dos problemas familiares e financeiros, a pandemia da covid-19 também contribuiu para o aumento desses números, já que muitos passaram a estar desempregados ou, infelizmente, não suportaram a morte de parentes ou amigos pela doença.
Colaborou: Felipe Machado