Um dia depois de os governos brasileiro e argentino terem assinado um memorando para importação de até 30 milhões de metros cúbicos de gás natural por dia do país vizinho, o governador Eduardo Riedel deixou claro que pretende "peitar" o colega tucano do Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite, para que este gás argentino chegue ao Brasil por Mato Grosso do Sul.
Este acordo foi assinado pelos ministros Alexandre Silveira, de Minas e Energia, e Luis Caputo, da Economia da Argentina, durante um evento paralelo à cúpula do G20, no Rio de Janeiro (RJ). A previsão é de que o Brasil importe gás proveniente de Vaca Muerta, uma das maiores reservas argentinas, para ampliar a oferta e reduzir os custos no mercado brasileiro.
E, segundo o governador Eduardo Riedel, existem quatro possibilidades para que este gás chegue ao País. Duas delas seriam pelo Rio Grande do Sul e as outras duas, por Mato Grosso do Sul. A primeira seria pelo Gasbol, que entra no Brasil em Corumbá. A outra, seria por Porto Murtinho.
No primeiro caso seria necessário ampliar a rede de gasodutos na Bolívia para conseguir trazer o gás produzido no sul da Argentina até o Gasbol, ainda na Bolívia.
A outra alternativa seria a construção de um gasoduto novo saindo da Argentinda e atravessando o chaco paraguaio até a região de Porto Murtinho. Dali seria necessário construir um novo ramal e solo brasileiro até a região de Miranda, para conectar-se ao Gasbol.
Caso a opção seja a entrada pelo Rio Grande do Sul, também haveria necessidade de construir novos gasodutos, tanto na Argentina quanto em território brasileiro e estes trechos seriam mais extensos e onerosos.
Por isso, afirmou o governador na manhã desta terça-feira, "nossa gestão é que essa entrada de gás seja pelo Mato Grosso do Sul. Nós teríamos muitos ganhos se entrasse por aqui e vamos trabalhar para isso".
Uma das vantagens é a arrecadação de impostos, já que todo o ICMS é cobrado na entrada do gás no Brasil, pelo menos até a implantação definitiva da reforma tributária.
Em média, neste ano, o ICMS do gás gera em torno de R$ 50 milhões mensais aos cofres estaduais, mas o volume já chegou a ser mais que o dobro disso. Caiu porque a oferta de gás boliviano caiu para a casa dos 12 milhões de metros cúbicos por dia. Pelo Gasbol poderiam ser importados até 30 milhões de metros cúbicos por dia.
Além disso, enfatiza o governador, o simples fato de haver a disponibilidade de gás acaba atraindo investidores. Exemplo disso é a fábrica de fertilizantes que a Petrobras está construindo em Três Lagoas e que finalmente deve ser concluída a partir do próximo ano.
Conforme a previsão do acordo firmado nesta segunda-feira no Rio de Janeiro, inicialmente devem ser importados 2 milhões de metros cúbicos por dia. O volume será ampliado gradualmente, alcançando 10 milhões de metros cúbicos em três anos e chegando a 30 milhões até 2030, o equivalente a quase um terço do consumo diário atual no Brasil.
"Vaca Muerta é um grande potencial de gás. Então, o Brasil está corretíssimo em assinar esse acordo com a Argentina", opinou o governador, sem se estender sobre a relação conflituosa entre os governos brasileiro e argentino.
A assinatura ocorreu mesmo sob o comando do presidente argentino Javier Milei, de extrema direita, que ameaçava romper as relações comerciais com o que ele classifica com o governo comunista brasileiro.