A década de 1980 foi a que registrou maior movimentação de pessoas no Terminal Rodoviário Heitor Eduardo Laburu, tanto para embarque e desembarque quanto nas 236 lojas que integram o condomínio. “Nesta época, Campo Grande era um ponto de passagem dos viajantes”, recordou o administrador Carlos Alberto Laburu. “Além de ser um terminal rodoviário, era um ponto de encontro da família, que desembarcava e permanecia a tarde toda aqui por conta do Cine Center e da menina dos olhos do condomínio, que era o Cine Plaza. Já as crianças tinham o lazer, brincando nos largos corredores”, comentou Carlos, que considerou a rodoviária como uma grande loja aberta. Além disso, foi nessa época que a Rodoviária funcionou como sede da administração municipal, abrigando o gabinete do então prefeito Marcelo Miranda Soares e diversas secretarias. Carlos explicou que, quando da construção da estação, a família Laburu era dona de 75% do espaço, mas atualmente a Prefeitura de Campo Grande é a responsável pela maior parte da área de 31 mil metros quadrados construídos num terreno de 12 mil metros quadrados. “Eu era criança quando meu pai (Luiz Alberto Laburu) comentou que chegaram a trabalhar 700 homens na obra no final da década de 1960”, revelou o administrador, contando que na época a família priorizou mão de obra local. Atualmente, são 150 proprietários, incluindo a prefeitura. Declínio A redução no fluxo de passagei ros começou em 1994, quando as empresas aéreas passaram a oferecer facilidades na compra de passagens. Outra justificativa para o declínio foi a opção de financiamento de veículos de passeio. Para Carlos, crimes ocorridos no entorno da rodoviária eram atribuídos à estação, o que denegria a imagem do local. “Prostitutas e mendigos sempre são associados ao prédio”, exemplificou. Pelo menos 55 trabalhadores que atuam no setor de limpeza e fiscalização de plataforma serão demitidos com a desativação da área de embarque e desembarque. O setor administrativo permanecerá no prédio até o final de fevereiro para resolver questões trabalhistas dos funcionários e informar à população endereço e telefone da nova rodoviária. Família Os irmãos Heitor Eduardo e Luiz Alberto Laburu venceram a licitação para a execução do prédio da rodoviária de Campo Grande em dezembro de 1967, e em 1968 iniciaram a obra. O empresário Heitor foi o idealizador da construção, mas faleceu quatro dias antes da entrega da primeira fase da rodoviária. Na ocasião, ele vinha com a família de São Paulo para Campo Grande quando se envolveu num acidente próximo a Anhanduí, que vitimou sua esposa Laís Dalila e os filhos Heitor e Ana Cláudia. “Graças a Deus sobreviveram as minhas primas Ana Beatriz e Ana Lúcia”, destacou Carlos, filho de Luiz Alberto. Nas fotografias que registraram o lançamento da primeira parte da obra, que ocorreu dias depois das mortes, o irmão Luiz Alberto aparece sempre sério e de cabeça baixa. “Eles eram muito ligados. Na época houve uma comoção muito grande na cidade, por onde o cortejo passava os comerciantes baixavam as portas”. Carlos relembrou que a história da família Laburu no Estado teve início há cerca de 100 anos com a vinda de seu bisavô, o espanhol Dom Juan Villarodona para Ponta Porã. A família instalou lojas de roupas nos dois lados da fronteira com o Paraguai. Tempos depois, os irmãos Heitor e Luiz inauguraram a Casa Laburu em Campo Grande e posteriormente decidiram investir no ramo da construção civil. Diante da falta de registro com relação à história da família e também do Terminal Rodoviário Heitor Eduardo Laburu, um caderno especial do Jornal Correio do Estado foi o ponto de partida para que o jornalista Felício Amaral fizesse o resgate dos fatos. A pedido da família, o livro Da Partida ao Adeus – Os 37 anos do Terminal Rodoviário de Campo Grande – será lançado em fevereiro deste ano.