Que tal conhecer Campo Grande de um jeito diferente, caminhando pelas antigas ruas do centro, identificando sítios históricos, monumentos e edificações ao lado de um especialista que conhece, e muito bem, a trajetória da cidade? Essa possibilidade existe, e você poderá aproveitá-la a partir deste sábado.
É quando será retomado o projeto Campão a Pé – Percurso Histórico e Cultural, criado e coordenado pelo arquiteto e urbanista João Santos e premiado com recursos do Fundo de Investimentos Culturais (FIC), da Fundação de Cultura de Mato Grosso do Sul (FCMS), totalizando um investimento de R$ 98,5 mil.
Trata-se de uma bela oportunidade de percorrer a pé o centro histórico da Capital e descobrir ou redescobrir espaços, paisagens, edifícios, histórias e memórias. Serão 36 percursos distribuídos em nove meses, que ocorrerão aos sábados pela manhã, com limitação de 20 vagas por percurso.
Os ingressos podem ser adquiridos gratuitamente por meio da plataforma Sympla (sympla.com.br/produtor/campaoape). Para o primeiro roteiro (17/12), a saída será em frente ao Sesc Cultura, na Avenida Afonso Pena.
O roteiro das visitas é fixo: são percorridos 14 pontos oficiais do Campão a Pé, fora a degustação que a caminhada proporciona.
GPS DO PASSEIO
“A gente começa pelo Sesc Cultura, dali vamos para a estátua de Manoel de Barros, daí à Casa Modernista, na Barão, o Bar do Zé, a 14 de Julho, onde a gente fala um pouco sobre o Edifício Nakao, do Hotel Americano a gente desce para a Calógeras e falamos sobre o edifício dos Correios, a antiga Casa da Memória, que era a casa de Arnaldo Estêvão de Figueiredo, ali na Calógeras com a Barão”, antecipa João Santos.
“Dali a gente vai para a Casa do Artesão, na Afonso Pena com a Calógeras, Loja Maçônica, depois a gente desce para a Morada dos Baís, Colégio Oswaldo Cruz, Praça das Índias e finalizamos nosso percurso no Mercado Municipal”, diz o arquiteto e urbanista, que calcula uma duração de duas horas “a duas horas e pouquinho” para se cumprir todo o trajeto.
“A gente fala um pouco sobre as edificações, suas histórias, a gente contextualiza dentro da própria história da cidade, falamos um pouco sobre as nossas vivências, sobre o patrimônio cultural. A ideia é que a pessoa tenha uma imersão nessa cidade que muitas vezes a gente não percebe. A ideia é que a gente tenha uma percepção da nossa cidade a partir do ato de caminhar”, afirma o também professor de história.
FOCO NO MORADOR
Sem ainda ter esse nome, que passa a batizar o projeto somente em 2019, o Campão a Pé teve início em 2018.
“Comecei com os meus alunos, dava aulas na Facsul para o curso de Arquitetura e Urbanismo, e depois tive uma ação com o Sesc no centenário da Morada dos Baís, em 2018. Daí esse projeto continuou no âmbito da faculdade e, em 2021, eu resolvi tirar do ambiente acadêmico e levar para uma ação mais estruturada”, conta Santos.
“Foi quando eu coloquei o projeto no Airbnb. Depois, a gente foi para o Campão Cultural e desenvolvemos dois percursos no festival, um da ferrovia e um do centro, que é o carro-chefe desse projeto de agora”, diz o mentor do Campão a Pé.
A ideia, segundo João Santos, sempre foi o foco no morador, “no residente da nossa cidade, o cidadão campo-grandense”, justamente com o intuito de despertar o interesse ou sensibilizar esse morador para com o patrimônio cultural, “para nossa história, para nossa memória”, principalmente da região central.
“O que eu ouço muito nos percursos é: ‘Eu nunca tinha visto este prédio, eu nunca tinha visto este detalhe, eu não sabia dessa história’. Então, o projeto é de educação patrimonial, e a minha ideia, a minha vontade, os meus anseios, é que a pessoa, depois de realizar esse percurso, consiga divulgar, difundir, disseminar as informações e as boas novas que ela conheceu e ouviu para mais pessoas”, argumenta Santos.
“Para que a gente possa ter esse sentimento de pertencimento, enxergar na nossa cidade o potencial cultural, turístico, social, de como a nossa história é importante, relevante, fugir um pouco da ideia de que Campo Grande não tem nada para fazer, que Campo Grande não tem história ou algo do tipo como a gente já ouviu falar por aí. O nosso patrimônio é nosso, é a nossa referência cultural, é aquilo que nos faz enquanto campo-grandenses, pertencendo à nossa história”, prossegue.
SÁBADO A PÉ
O urbanista reitera, a cada fala, a expectativa de que o projeto sirva como um fator de sensibilização.
“Sensibilizar o morador local para a nossa história, para a nossa memória, para o nosso patrimônio cultural, que está ali, todos os dias, sendo palco para o nosso dia a dia e que muitas vezes a gente não consegue ver”.
Para o arquiteto e urbanista, andar a pé é uma forma de a população reconhecer esses espaços.
“De ônibus, a gente não consegue perceber a cidade, de carro, a gente não percebe a cidade, de bicicleta, a gente começa a perceber a cidade, mas nós não temos ciclovias, então isso dificulta. Agora, a pé é impossível [não perceber], as pessoas estão andando, os edifícios estão na altura do observador e a gente consegue perceber e sentir a cidade”, analisa.
“Eu gosto de fazer esse percurso com a cidade pulsando, então por isso é no sábado de manhã. Enfim, a gente está com muita vontade, garra, para que as pessoas consigam visitar, fazer o percurso, levar um visitante, a gente está chegando no fim do ano, muita gente vem visitar a família, então pode levar a família”, incentiva o arquiteto e urbanista.
“A gente quer que a pessoa receba alguém de fora e diga: ‘Olha, vamos fazer o Campão a Pé que você vai conhecer um pouco da nossa cidade”. Eu já recebi turistas de Minas, do Rio, de São Paulo, e o que percebo é que as pessoas desconhecem o que tem para fazer em Campo Grande, o que se pode fazer conhecendo um pouco da nossa história”, revela.
CURRÍCULO
João Santos é licenciado em História pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), graduado em Arquitetura pela Uniderp e mestre em Conservação e Restauração de Monumentos e Núcleos Históricos; ou seja, possui uma formação bem específica para trabalhar com o patrimônio cultural edificado.
“E agora estou no doutorado pela Universidade Federal da Bahia [UFBA] e desenvolvo pesquisas na área do patrimônio ferroviário e dos edifícios ferroviários, tendo como recorte a rotunda de manutenção, uma edificação que é própria para manutenção e reparos de locomotivas e de vagões e que a gente tem aqui em Campo Grande”, conta Santos.
“Sou produtor cultural, desenvolvo pesquisas, ofereço consultorias, tenho um pouco de experiência na área de gestão do patrimônio cultural porque fui chefe de divisão técnica do Iphan [Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional]. Agora, atuo no lado de cá do balcão, prestando serviços para o Iphan e desenvolvendo projetos de restauro e educação patrimonial”, finaliza.
Para acompanhar a programação das visitas e a agenda, basta seguir o Campão a Pé nas redes sociais: @campaoape (Instagram, Facebook e YouTube).