Vai ter chamamé. Mas vai ter também guarânia, katchaka e outros estilos musicais que estão na origem da cultura de fronteira de Mato Grosso do Sul.
O 1º Festival Internacional do Chamamé (FIC), que começa nesta sexta-feira, foi lançado oficialmente na noite de sábado (5), no Cine Teatro Ney Machado Mesquita, em Porto Murtinho, com o anúncio da programação oficial do evento e a promessa de ir além da dança e da música.
O FIC, a ser realizado de 11 a 14 de novembro na cidade localizada a 440 km de Campo Grande, na fronteira com o Paraguai, leva a assinatura do Instituto Chamamé MS e da prefeitura do município.
O lançamento marcou a inauguração do Cine Teatro e o encerramento da pesca, com início do período de defeso em todo o território estadual.
Ao longo de quatro dias, Porto Murtinho vai se colocar como a capital internacional do chamamé – mesmo ante a realização de outros festivais internacionais do gênero desde 2017 na Capital e em outras localidades –, com uma profusão cultural de ritmos, sabores, danças e artesanatos da fronteira, além de seminário e oficinas.
ATRAÇÕES
A estimativa é de que o festival mobilize aproximadamente 800 pessoas, sem contar o público, estimulando, assim, o intercâmbio cultural transfronteiriço.
No total, 37 grupos vão se apresentar, incluindo sete atrações de dança, com artistas paraguaios e argentinos, além dos nomes locais de MS, do lado de cá da fronteira.
Entre os destaques estão alguns pesos pesados da cena chamamezeira, a exemplo de: Castelo & Elinho Filho, de Mato Grosso do Sul; Fuelles Correntinos, da Argentina; e a Banda y Ballet Folklórico Municipal de Asunción e Mirta Noemí Talavera, ambos do Paraguai.
De carreira internacional, o multi-instrumentista sul-mato-grossense Marcelo Loureiro, um virtuose na harpa e diversos outros instrumentos de cordas, também é presença confirmada no FIC. A produção promete uma iniciativa “plural”, com espaço para o que chama de “ritmos correlatos” – como a guarânia, o rasqueado e a katchaka – dividindo os holofotes com o chamamé.
Nos estandes de artesanato, ganharão vitrine tanto a produção local quanto a de cidades vizinhas.
Poderão ser apreciadas e adquiridas obras e objetos de indígenas kadiwéu, da etnia ayoreo, do Paraguai, e de artesãos da Argentina.
NA ROTA DA ROTA
O 1º Festival Internacional do Chamamé realiza-se na iminência de uma conectividade cultural e econômica sem precedentes, que vem sendo vislumbrada com a concretização da Rota Bioceânica.
O município de Porto Murtinho é considerado o guardião do Rio Paraguai e o portal da Rota Bioceânica.
Uma ponte de 1.300 metros entre o município sul-mato-grossense e a cidade paraguaia de Carmelo Peralta, mais que um símbolo, será importante elo no contexto da Rota Bioceânica. De olho nas perspectivas e aproveitando o ambiente de envolvimento do FIC, nos dias 12 e 13 de novembro – sábado e domingo – será realizado o Seminário Internacional Portal da Rota Bioceânica: Cultura, Turismo e Logística.
Representantes do Brasil, do Paraguai e da Argentina estão escalados para tomar parte nas rodadas de diálogo, análise e projeções futuras do seminário.
O prefeito de Porto Murtinho, Nelson Cintra, avalia que o evento vai movimentar o comércio, a cultura e o turismo, alavancando a economia com a visita de novos empreendedores interessados em conhecer a Rota Bioceânica e a região fronteiriça.
Presidente do Instituto Chamamé MS, Orivaldo Mengual observa que Porto Murtinho assume papel estratégico para a implementação da Rota Bioceânica, ao promover encontros com painéis, debates e apresentações “em torno da cultura, do turismo e dos investimentos em logística que já estão ocorrendo”, além de se apresentar como palco para uma rica programação de shows e espetáculos, feira de artesanato e atividades formativas, “construindo um ambiente” para relacionamentos, convivência, intercâmbios e negócios.
PATRIMÔNIO E BEM
Reconhecido desde dezembro de 2020, pela UNESCO, como Patrimônio Imaterial da Humanidade e, desde junho de 2021, como Bem de Natureza Imaterial de Mato Grosso do Sul, o chamamé é uma tradição que passa de geração em geração.
“Com o festival em Porto Murtinho, damos uma outra dimensão para essa cultura, dimensão que nos permite refletir sobre nossa história, nossos laços e o bem comum de nossas comunidades transfronteiriças”, avalia o presidente do Instituto Chamamé MS.
“Será uma referência de encontros culturais, de relacionamentos entre irmãos, revelação de histórias e da história que nos une, exemplo para novas gerações de valorização de um bem cultural fundamental, que é o chamamé. Signo legítimo da união cultural dos povos desta região fronteiriça, expressão cultural que envolve música, canto e dança e festas tradicionais, originado na Argentina e que teve grande popularidade, encontrando novos e fundamentais criadores em Mato Grosso do Sul, como Zé Corrêa”, reforça Orivaldo Mengual.
O prefeito Nelson Cintra reforça que o chamamé sempre esteve presente na cultura local, por influência da Argentina e do Paraguai. Para Cintra, o desafio é fazer com que as novas gerações se encarreguem de dar continuidade a este legado.
“Nosso objetivo é resgatar e estimular as novas gerações a incluí-lo em seu repertório”, afirma.



Pedro Kemp e Nancineide Gonçalves
Camila Queiroz


