Por que é importante pensar sobre o ralo de sucção da piscina que você utiliza com sua família e seus amigos? Conheça ou relembre uma história recente. Localizado a pouco mais de 100 quilômetros de Campo Grande, o município de Dois Irmãos do Buriti foi cenário de uma tragédia no dia 12 de fevereiro que poderia ser evitada, porém é mais comum do que se imagina.
Durante o aniversário da avó em uma casa de festas, Mariana dos Anjos Faria, de apenas nove anos de idade, morreu afogada depois de ter os cabelos sugados pelo ralo da piscina do espaço.
Uma empresa paranaense, a Cyan, vem aperfeiçoando a tecnologia dos ralos de piscina e quer mudar as estatísticas de afogamentos e de mortes relacionadas, com detalhes como a mudança do local onde o equipamento é colocado dentro da piscina.
Um brasileiro morre afogado a cada 90 minutos, de acordo com a Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (Sobrasa).
Na faixa etária de um a nove anos, 59% dessas mortes ocorrem em piscinas. Para reforçar a gravidade da estatística, a maioria das crianças de quatro a 12 anos que sabem nadar se afogam pela sucção da bomba, justamente o que ocorreu com Mariana.
Já segundo o Ministério da Saúde, no Brasil, são declarados, por dia, 17 óbitos por afogamento em piscinas – e três deles são de crianças.
Em dezembro, outra história parecida, no interior do Piauí, acabou tendo, felizmente, um fim diferente. Um vídeo que mostrava uma menina de 13 anos se afogando em uma piscina viralizou na internet.
Maria Rita ficou cerca de dois minutos submersa após ter os cabelos sugados pelo ralo, enquanto brincava com as amigas em uma piscina na cidade de Água Branca.
Ela ficou com a cabeça presa debaixo da água e chegou a ficar desacordada. Para resgatá-la, o pai de uma das amigas precisou cortar o cabelo da jovem, que foi retirada da piscina e reanimada no local. Ela foi encaminhada ao hospital, onde fez exames e logo foi liberada.
NORMA TÉCNICA
Como o próprio nome indica, o ralo de sucção foi feito para sugar. Mas ele não sorve somente a poeira e a sujeira. Tudo que se aproxima acaba absorvido por esse equipamento: cabelos, dedos, colares, relógios, peças de roupas, etc.
E o impacto da ação ainda conta com a “ajuda” da força da água, dificultando que as pessoas, sobretudo as crianças, tenham possibilidades de emergir.
Sabendo que os ralos de sucção são como “armadilhas” no fundo da piscina e estão diretamente relacionados com vários casos de acidentes e de afogamentos, a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) determinou, por meio da NBR nº 10.339 de 2018, que esses dispositivos sejam comercializados com materiais que oferecem segurança, com tampa antiaprisionamento interligada ao skimmer (ou “coadeira”, que serve para aspirar) e este interligado à motobomba.
Mas, na prática, não é assim que funciona, mesmo porque não há uma fiscalização dos ralos de sucção.
INIMIGO OCULTO
“E, para agravar ainda mais a situação, quanto mais vazão de água, maior é o risco de acidentes. E é bem comum que os proprietários de piscinas coloquem cascata, chafariz, hidromassagem e toboágua. Assim, se a demanda de água aumenta, há um acréscimo também de sujeira.
E o ralo de sucção entende que tem que sugar mais e mais, tornando-se um inimigo oculto”, afirma Bráulio César Bandeira Aleixo, que desenvolveu uma solução inteligente para evitar que o ralo da piscina, necessário para a filtragem da água e sua limpeza, seja tão trágico.
Mesmo que o ralo da piscina esteja protegido com grade ou outro aparato, se porventura estiver quebrado, fora do local adequado, desgastado pela ação do tempo ou tiver sofrido algum tipo de dano, o risco de acidentes aumenta consideravelmente.
Uma grelha quebrada, por exemplo, pode fazer com que objetos ou membros (dedo, braço, perna...) fiquem presos no ralo. Há quem diga que uma tampa mais moderna, com aberturas menores, é mais apropriada, mas não há 100% de garantia.
RISCO ZERO
Depois de dois anos de pesquisa, o dispositivo criado por Bráulio Aleixo e sua empresa tem, justamente, o objetivo de prevenir acidentes e salvar vidas. Segundo ele, o equipamento “zera o risco de mortes por sucção”.
Atendendo a todas as determinações da ABNT, o dispositivo tem um diferencial: em vez de ser acoplado no fundo da piscina, é colocado nas laterais, acabando de uma vez por todas com o perigo representado pela sucção em direção ao fundo.
SENSOR DE MOVIMENTO
“Temos como objetivo desenvolver soluções seguras, que se atentem à vida humana”, diz Aleixo.
Em parceria com a Universidade Tecnológica Federal do Paraná, ele está desenvolvendo um sistema de automação, com sensores de movimento duplo, que têm como objetivo detectar qualquer anormalidade na piscina quando a área de lazer estiver fechada, como a queda acidental de uma criança, com imediato acionamento de alarme para a situação de risco.
“A segurança dentro de uma piscina merece atenção especial, então investir em dispositivos que alertam para perigos em piscinas é uma atitude consciente de precaução”, comenta Aleixo, ao explicar o funcionamento do aparelho.
“Trata-se de um dispositivo eletrônico, capaz de responder a um estímulo físico ou químico de maneira específica, disparando um alarme toda vez que detectar quedas acidentais de corpos em piscinas, inclusive via aplicativo”, finaliza.




