Edson Arantes do Nascimento, o Rei Pelé, morreu aos 82 anos na quinta-feira (29), em São Paulo. Porém, como diz o ex-companheiro de Pelé no Santos em 1967, Carlos Videira, conhecido como Copeu, “o legado [de Pelé] não tem como esquecer”.
Copeu é baiano e jogou durante anos em times paulistas, incluindo o Santos, quando foi companheiro de Pelé. Apesar da breve passagem, de seis meses, o ex-jogador se lembra bem de como era ter o Rei na equipe.
“Ele era um jogador de uma educação monstra. Impressionante a humildade dele. Dificilmente dava dura por algum erro nosso, às vezes ele até cobrava quando a gente não passava a bola para o outro não fazer o gol. ‘O que é que você está falando aí, o que você tá chiando aí?’, ele reclamava com o cara que estava querendo reclamar com a gente. E quando ele via que o jogador não tinha uma boa conduta, dava conselho. Para mim, ele nunca deu conselho, porque enxergava coisas boas na minha pessoa”, relata Copeu.
Apesar das dificuldades da época, Copeu iniciou sua carreira no Campeonato Baiano, mesmo com sua mãe sendo contra. “Minha mãe me batia para eu não ser jogador. O que eu fiz? Fui na Igreja do Bonfim e abracei a Deus”, conta.
Seis meses depois, passou em uma seletiva para o Palmeiras, ficou três meses e foi emprestado para o São Bento, de Sorocaba (SP), onde jogou por quatro anos, até ir para o Santos.
Após o período no Peixe, o ex-jogador voltou para o Palmeiras, onde ficou até 1971 e conquistou o Torneio Roberto Gomes Pedrosa, o Brasileirão da época.
Depois, Copeu teve passagens pelo Sport, em 1972, e pelo Remo, por seis meses, antes de vir, em 1973, para o Comercial, que disputaria o Campeonato Brasileiro.
O time sul-mato-grossense foi reforçado com jogadores experientes. Antes de participar do Brasileiro, o Comercial teve de jogar duas partidas contra o Operário, para decidir quem disputaria o campeonato nacional, e venceu as duas, com gols de Copeu, que hoje é o maior artilheiro da história do time, com 78 gols.
A PARTIDA
O ex-jogador do Comercial comenta que o time estava nervoso antes de enfrentar o Santos. Além da tensão habitual de qualquer jogo, tinha a tensão de jogar contra o time de Pelé.
“Depois de 10, 15 minutos, aí já era diferente. Você já estava aquecido, a adrenalina estava lá em cima e o coro comia. Quem podia mais, chorava menos, e nesse dia, graças a Deus, nós choramos menos”, comenta Copeu.
O técnico do Comercial da época era o Bauer, que também tranquilizou os jogadores antes da partida, lembrando ao time dos atletas experientes em campo, que já tinham jogado contra o Santos.
“Saiu o escanteio e eu chegava em cima da bola e às vezes não tomava muita distância para bater o escanteio, acho que aí que nós pegamos a defesa do Santos desprevenida. Do jeito que eu cheguei na bola, que coloquei, eu bati o escanteio e o Gil veio de encontro, meteu a testa na bola, parecia um chute, e fez o gol”, relembra.
O Santos veio com tudo no segundo tempo, e Pelé quase empatou o jogo para o time paulista.
“O nosso melhor jogador em campo foi o goleiro. Ele veio do Atlético Mineiro, o Careca. Mas o que esse homem pegou de bola! O Santos veio com tudo, quase que eles empataram o jogo, porque o [Agustín] Cejas [goleiro do Santos] pegou o pênalti. Parecia que ele [Pelé] sabia que o goleiro ia pegar. Ele ficou do lado esquerdo, bem aberto, na hora que o Cejas pegou a bola, jogou nele. Se não fosse o nosso goleiro, tinha empatado o jogo. Ele deu uma arrancada, que era o estilo dele”, comenta aos risos.
O pênalti perdido, que poderia ampliar a vitória do Comercial, foi dado em uma jogada de Copeu. “Essa bola eu peguei do lado esquerdo e tentei driblar o Carlos Roberto; no que eu driblei e entrei dentro da área, ele me derrubou”, detalha sobre como foi marcada a penalidade. Quem fez a cobrança foi Gil, mas ele bateu mal na bola.
PELÉ
“Você já entrava perdendo de 1 a 0”, diz Copeu, sobre como era enfrentar o Rei em campo. O ex-jogador teve as duas experiências, de ser adversário e companheiro de equipe de Pelé, que, ao chegar das partidas, corria para ver o jogo do Santos. Memórias boas de Pelé como parceiro também estão vivas na mente de Copeu.
“No jogo contra o Internacional, não lembro se foi na Vila Belmiro ou no Pacaembu, ganhamos de cinco. Ele tocou a bola para mim, e do mesmo jeito que ele tocava a bola para mim, eu tinha que devolver para ele. Mas quando eu dominei, que levantei a cabeça e vi um monte de jogador atrás dele, falei: ‘Não, vou chutar no gol’. Clareou o gol assim e eu chutei e fiz o gol. Se eu não tivesse feito, ele ia chiar para caramba”, brinca.
O velório do Rei do Futebol será na Vila Belmiro, em Santos, começará na segunda-feira (2) e vai até terça-feira, quando terá um cortejo pela cidade.
A cerimônia de despedida será aberta ao público.
Pelé escolheu o cemitério vertical Memorial Necrópole Ecumênica, onde comprou um lóculo no nono andar, com vista para o Estádio Urbano Caldeira, a Vila Belmiro.