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Criatividade: o mito do dom

Essa ciência me abriu os olhos para o fato de que a busca pela excelência é gerenciável e pode ser construída e desenvolvida, inclusive a criatividade.

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Imagine-se assistindo a uma partida de futebol em um bar com os amigos e, de repente, você vê Neymar dando um drible incrível, deixando toda a defesa do time adversário desarmada: “Esse menino nasceu com uma criatividade incrível”, você pensa.

Após o jogo, na volta para casa, esperando o Uber, com o celular na mão, você pensa: “O cara que inventou esse aplicativo de transporte tinha o dom da criatividade”.

As cenas descritas acima não são incomuns. Com frequência, vemos e usamos a criatividade vinda de resultados do que outras pessoas fizeram e, imediatamente, caímos no mito do dom.

O mito do dom acontece quando imaginamos que toda a criatividade dessas pessoas é algo inato, intrínseco.

Que nascem com o talento como um “presente dos deuses” dado a elas.

Mas esta é uma grande armadilha. Na ideia de Nietzsche, declarar que alguém possui um dom ou é um gênio da criatividade, por exemplo, é o mesmo que afastar de nós mesmos a responsabilidade por nos tornarmos criativos, desenvolvermos um talento e construirmos nossa excelência em algo.

A criatividade, assim como muitas outras virtudes que reconhecemos em figuras que admiramos, pode ser treinada e desenvolvida. A maior prova disso encontrei no estudo conduzido pelo sociólogo estadunidense Daniel F. Chambliss, intitulado “The Mundanity of Excellence” (“A Mundanidade da Excelência”, em tradução livre).

Chambliss analisou a diferença entre nadadores de elite (medalhistas olímpicos) e aqueles que não passaram de campeonatos regionais. A grande conclusão do artigo foi que os grandes feitos de um ser humano e a conquista da excelência nada têm a ver com alguma característica extraordinária ou inata.

São antes, como escrito no estudo, “a confluência de dezenas de pequenas habilidades ou atividades, aprendidas ou com as quais nos deparamos, que são cuidadosamente treinadas e incorporadas como hábitos e, depois, encaixadas em um todo sintetizado”.

Essa ciência me abriu os olhos para o fato de que a busca pela excelência é gerenciável e pode ser construída e desenvolvida, inclusive a criatividade. Em meu livro, chamo essa habilidade de gerenciamento de consistência, que é a repetição acompanhada de um método, seguindo os seguintes passos:

  1.  Exponha-se a atividades criativas,
  2.  Escreva as etapas da atividade,
  3.  Identifique em quais dessas etapas estão os pontos que você pode aprimorar;
  4.  Teste novas estratégias para melhorar cada etapa.

Repita esses passos incansavelmente.

Sua criatividade é gerenciável e, se você tiver a consistência para desenvolvê-la, vai entender o que Steve Jobs estava analisando quando disse que “todas as coisas ao seu redor, as quais você chama vida, foram feitas por pessoas que não eram melhores que você.

E você pode mudar, pode influenciar, pode construir as próprias coisas para que outras possam usar”.

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A dor que cala e o silêncio de todos nós

13/02/2025 16h14

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Imagine. Era uma manhã como outra qualquer. Em algum lugar, uma mulher acordava com o coração acelerado, os olhos marejados de medo. Em algum lugar, uma mulher olhava para o homem ao seu lado e não via mais o companheiro, o pai de seus filhos, o amor de sua vida. Via um algoz. Em algum lugar, uma mulher respirava fundo, tentando encontrar coragem para mais um dia de sobrevivência. Em algum lugar uma mulher suspira fundo ao imaginar que pode ser agredida a qualquer momento. Em algum lugar uma mulher será próxima vítima.

Ela teme vir à público, denunciar. Teme por mais agressões antes que medidas se tornem efetivas. Alguém, não sem razão, fará a pergunta: Quantas vezes o sistema falhou em protegê-las? Pode invocar o argumento que a justiça, que deveria ser um porto seguro, muitas vezes se transforma em um labirinto burocrático, onde a vítima é revitimizada a cada depoimento, a cada julgamento adiado, a cada olhar de descrença.

O machismo brasileiro é um câncer enraizado. Ele está nas piadas que objetificam as mulheres, nas letras de música que as reduzem a corpos, nas igrejas que pregam a submissão, nas famílias que ensinam aos meninos que chorar é “coisa de menina” e que meninas devem ser “boazinhas” e “comportadas”. Está nas delegacias, onde policiais despreparados perguntam: “Por que você não se separou antes?” Está nos tribunais, onde juízes questionam: “Mas ela não provocou?” Está nas ruas, onde homens se sentem no direito de invadir o espaço das mulheres com assédios e ameaças.

E enquanto isso, os números não mentem: o Brasil é um dos países com mais feminicídios no mundo. O Estado do MS, infelizmente, também não fica atrás. São mulheres mortas por serem mulheres. Mortas porque ousaram dizer “não”. Mortas porque tentaram recomeçar. Mortas porque existiam. São assassinadas pelo simples fato de ser mulheres. E, muitas vezes, seus assassinos seguem impunes, protegidos por uma justiça lenta e por uma sociedade que ainda hesita em enxergar a gravidade do problema.

Onde está a luz no fim deste túnel de horrores?  Nas mulheres que se levantam, que denunciam, que apoiam umas às outras. Há homens que questionam o machismo, que educam seus filhos para o respeito, que entendem que a luta pela igualdade não é só das mulheres, mas de todos nós. Há leis que avançam, como a Lei Maria da Penha e a tipificação do feminicídio (em MS já existe essa tipificação), mas que precisam ser aplicadas com rigor e eficácia. E há luz nas campanhas incisivas a exemplo da #TodosporElas, criada pela desembargadora Jaceguara Dantas, com chancela dos três Poderes.

É necessário se engajar. Protestar. Gritar se preciso for. E se unir a outras mulheres. Ninguém, em sã consciência, deve se calar, naturalizar, muito menos ignorar. Mais do que nunca é preciso alento. Para além das jovens, mulheres na meia idade e até idosas está em jogo o futuro das nossas crianças, meninas que sonham. Elas não precisam carregar esta culpa.

A dor que cala é a dor de milhares de mulheres silenciadas. A justiça que falta é a que deveria protegê-las. Enquanto houver uma mulher com medo, enquanto houver um agressor impune, enquanto houver um sistema que falha, a luta não pode parar. Porque nenhuma vida a menos é aceitável. Porque todas merecem viver sem medo. Porque o silêncio já foi demais.

ARTIGOS

Um santuário ecológico chamado Pantanal

13/02/2025 07h45

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A maior planície alagada do planeta Terra, um presente do Criador para a humanidade e, particularmente, para o estado de Mato Grosso do Sul. Por isso mesmo, povo e governos têm o dever de zelar por essa maravilha do mundo, que corre o risco de desaparecer, por conta dos constantes incêndios florestais criminosos, motivados pela ganância e pela busca por fortuna.

Nas últimas cinco décadas, venho cobrando de nossos representantes no Congresso Nacional providências em relação à proteção do Pantanal, diante do perigo iminente de seu desaparecimento, da absoluta falta de fiscalização e, como consequência, da total ausência de proteção. Medidas paliativas têm sido adotadas, mas sem qualquer comprometimento real com a preservação desse ecossistema tão importante.

Nos últimos cinco anos, as queimadas criminosas quase dizimaram as espécies de vida natural do Pantanal, tanto vegetal quanto animal. Os pantaneiros são religiosos e, com suas orações, sempre contaram com a proteção divina, a força maior. Várias gerações foram desaparecendo, e homens e mulheres nascidos e criados no Pantanal anteviam o pior. O Rio Taquari é um exemplo do abandono e do descaso com algo tão valioso.

Enquanto as autoridades fechavam os olhos para esse grave problema, o desmatamento, sem qualquer fiscalização, abria caminho para o extermínio do Pantanal. Porém, em 2020, os incêndios superaram todas as expectativas, destruindo tudo o que encontravam pela frente. Dias e noites o fogo ardia, e nada podia ser feito. Homens e mulheres idosos choravam ao assistir tamanha destruição. Parecia que o Pantanal sucumbiria de vez. Parece que somente a fé em Deus conseguiu conter as chamas.

Os recursos materiais e humanos foram insuficientes para o combate ao gigantesco incêndio e, mesmo contando com a ajuda dos bombeiros dos estados vizinhos, pouco pôde ser feito. No entanto, o desastre serviu de alerta, pois críticas e sugestões surgiram de todos os segmentos da população e até mesmo de outros países. Felizmente, a sensibilidade do poder público atendeu a tantos apelos.

O jovem governador Eduardo Riedel entendeu a necessidade de tomar medidas de proteção ao santuário que é o Pantanal, aliviando milhares de seres humanos que nele vivem e que, finalmente, esperam vê-lo protegido dos criminosos predadores. Parabéns, governador.

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