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O país das oportunidades perdidas e incompetência ambidestra

O ambiente de negócios burocrático, desconexo e altamente custoso do Brasil afasta essas empresas e investimentos tão necessários ao crescimento e emprego do País.

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Já tem algum tempo que as duas maiores economias do mundo estão em rota de colisão. Estados Unidos e China vêm travando uma batalha comercial que remonta ao governo Donald Trump. De um lado, os EUA desejam reduzir a dependência de suas empresas da manufatura na China.

De outro, chineses buscam continuar abastecendo o mundo com produtos variados, trazendo até si boa parte das cadeias produtivas globais.

De forma geral, a China começa a ser buscada por empresas e organizações na década de 1980. Transferir a produção para o país asiático se tornou uma estratégia de redução de custos relevante para grande parte das empresas multinacionais.

Além dos esforços de Trump, para trazer novamente aos Estados Unidos empresas que haviam migrado para a Ásia, veio a Covid-19.

Como forma de conter o vírus, chineses vêm implementando uma política de Covid-19 zero bastante chocante, como vimos semana passada.

Foi justamente essa política que, ao fechar cidades inteiras por cerca de duas semanas, causou uma intensa disrupção nas cadeias globais de valor.

Empresas de variados setores em todo o mundo ficaram sem peças, produtos e insumos, uma vez que grandes cidades chinesas estavam simplesmente trancadas em restrições muito semelhantes àquelas vistas em filmes de ficção científica.

Essa dependência toda que o mundo tem da China acendeu um alerta em grandes potências: está na hora de escolher outros destinos. Foi sabendo disso que grandes empresas como Apple e Intel já moveram parte de suas produções para a Índia.

Aqui entra o Brasil e as oportunidades que desperdiçamos: na segunda-feira, 5 de dezembro, o presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva reuniu-se com Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional dos Estados Unidos.

Na pauta da conversa estava justamente aquilo que precisamos para destravar o crescimento e a geração de empregos no Brasil: trazer empresas globais da China para cá.

Se isso de fato ocorresse, teríamos não apenas mais empregos e mais crescimento, mas um importante incremento na industrialização – que vem caindo nas últimas décadas. Essa possibilidade, no entanto, não se concretizará.

O ambiente de negócios burocrático, desconexo e altamente custoso do Brasil afasta essas empresas e investimentos tão necessários ao crescimento e emprego do País.

Apenas em termos aduaneiros, são mais de 3.600 normas distintas que tornam operações de embarque e desembarque de mercadorias um esforço muito superior ao que ocorre em uma boa parte dos países em desenvolvimento.

Triste é que esse cenário adverso vem se desenhando há décadas, e não houve governo – independentemente da ideologia ou do posicionamento – que fosse capaz de simplificar e abrir o País. Ao que parece, a incompetência é ambidestra.

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A paralisação do Carf e o impacto no contencioso tributário administrativo federal

06/02/2025 07h45

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Desde novembro de 2024, os auditores da Receita Federal do Brasil (RFB) deflagraram uma greve nacional reivindicando reajustes salariais e melhorias na estrutura da instituição. Nos últimos meses, o movimento se intensificou, atingindo agora o Conselho de Administração de Recursos Fiscais (Carf), com a adesão crescente de conselheiros da Fazenda Nacional. Esse cenário tem gerado uma preocupação cada vez maior, uma vez que a paralisação impede a realização de julgamentos, atrasando a solução de litígios tributários e criando um ambiente de incerteza, principalmente para os contribuintes.

A impossibilidade de funcionamento desse tribunal administrativo decorre da estrutura paritária do Carf, que exige a participação tanto dos conselheiros da Fazenda quanto dos representantes dos contribuintes para a deliberação dos casos. Embora os conselheiros indicados pelos contribuintes sigam cumprindo seus compromissos, a ausência de seus pares fazendários inviabiliza os julgamentos. Como consequência, há um acúmulo significativo de processos, incluindo disputas fiscais de grande valor – e que continuam sem resolução.

Essa paralisação também agrava uma questão sensível para o setor empresarial: inúmeras empresas aguardam os julgamentos no Carf visando anular autuações fiscais que foram lavradas de maneira arbitrária e abusiva, sem a devida análise técnica e o necessário controle de legalidade pelas fiscalizações. Em muitos casos, essas autuações geram passivos indevidos e criam um ambiente de insegurança para os negócios, uma vez que a falta de julgamento impede a correção de distorções e injustiças no contencioso tributário. A morosidade forçada pela greve amplia os prejuízos para as empresas, que veem seus direitos postergados indefinidamente.

O Carf já enfrenta uma pauta de julgamentos excessivamente lenta em função do grande volume de processos em tramitação e da complexidade das demandas tributárias. A morosidade desse tribunal administrativo é um problema crônico, que resulta em anos de espera para a análise definitiva dos casos, comprometendo a previsibilidade jurídica e financeira das empresas. Com a paralisação dos conselheiros da Fazenda, esse cenário se agrava criticamente, criando um verdadeiro colapso na tramitação dos processos. O acúmulo de litígios fiscais continuará crescendo, tornando ainda mais distantes as decisões que poderiam corrigir autuações indevidas e garantir a regularização da situação tributária dos contribuintes.

Além do impacto direto sobre a tramitação dos processos, a problemática gera um contraste preocupante entre os próprios conselheiros. 

Enquanto os conselheiros auditores da Fazenda (que têm remunerações elevadas) optam pela paralisação, os representantes dos contribuintes (que recebem valores substancialmente menores) acabam sendo forçados a compartilhar dos efeitos da greve, mesmo sem terem aderido ao movimento. Essa assimetria não apenas compromete o equilíbrio da atuação do Carf, mas também reforça um cenário de insegurança jurídica para as empresas e os demais contribuintes que dependem das decisões do Tribunal para regularizar suas pendências fiscais.

A ausência de uma manifestação oficial do Carf sobre o tema até o presente momento apenas amplia as incertezas e levanta questionamentos sobre os impactos futuros dessa paralisação. O direito à greve é legítimo, mas é essencial que seus efeitos sobre o funcionamento da administração tributária sejam minimizados para evitar prejuízos desproporcionais ao sistema e à economia do País. Medidas urgentes precisam ser adotadas para que os julgamentos sejam retomados com regularidade e para que a previsibilidade do contencioso administrativo federal seja restabelecida.

ARTIGOS

O agronegócio brasileiro é importante para o G20 reduzir a fome no mundo

06/02/2025 07h30

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Será importante que avancem, já neste ano, as ações da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, lançada na cúpula do G20, realizada no Rio de Janeiro (RJ), no fim de 2024. O encontro, sob a presidência do Brasil, ganhou significado ímpar na história do grupo, ao abordar um dos desafios mais críticos da humanidade: a segurança alimentar. A expectativa é de que a iniciativa – proposta por nosso país, protagonista global do agro – tenha êxito, de modo que seja possível avançar expressivamente nessa agenda até 2030.

Foi bastante promissor o engajamento inicial de 80 nações ao projeto, visando enfrentar uma situação já muito grave e que vem piorando nesta década, em contraste com as metas estabelecidas pelos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidos (ONU). Trata-se de uma inadiável prioridade, pois segundo dados da própria ONU cerca de 828 milhões de pessoas enfrentaram a fome em 2023, um aumento preocupante em relação aos anos anteriores. Além disso, aproximadamente 2,3 bilhões viviam em insegurança alimentar moderada ou grave.

As ações propostas na cúpula do G20 são consistentes para enfrentar esses desafios. Entre as principais iniciativas, entendo que as mais relevantes sejam a transferência de renda para 500 milhões de pessoas em países de baixa renda até 2030, a expansão de refeições escolares de alta qualidade para 150 milhões de crianças em regiões com alta taxa de pobreza infantil e a implementação de programas de inclusão socioeconômica de 100 milhões de pessoas, com foco especial nas mulheres. A origem dos recursos também está fundamentada de modo adequado, com financiamento por parte de organismos multilaterais de fomento como o Banco Mundial (Bird) e o Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), que se mostraram dispostos a oferecer crédito e doações.

Resta esperar que as medidas sejam cumpridas em termos concretos, ao contrário do que se observa, por exemplo, no contexto do combate ao aquecimento global, cujo Acordo de Paris segue patinando desde a sua instituição, em 2015, sem que os países ricos respeitem de modo pleno o compromisso assumido quanto ao aporte de recursos. Enquanto a questão segue sendo discutida e causando controvérsias, como na COP-29, no Azerbaijão, a elevação da temperatura da Terra vai se acentuando, causando cada vez mais enchentes, tufões e secas prolongadas, entre outros fenômenos.

Além da proposta do Brasil ao G20, o País já vem contribuindo muito neste século para reduzir a fome, por meio do avanço do nosso agronegócio, que assumiu a posição de destaque no cenário global. Cabe ressaltar que somos uns dos maiores exportadores de alimentos, fornecendo comida para cerca de 1,5 bilhão de pessoas com a nossa produção de soja, milho, feijão, carnes bovina, suína e de frango, entre outros itens.

Tal eficiência resulta de décadas de inovação e desenvolvimento de tecnologias, possibilitando que tenhamos agricultura e pecuária sustentáveis. A adoção do chamado plantio direto, a rotação de culturas, o uso de bioinsumos, o aumento da produtividade, permitindo colher mais em áreas cada vez menores, o desenvolvimento dos créditos de carbono e o nosso Código Florestal rigoroso fazem do agro brasileiro uma referência mundial também em termos ambientais. 

Nesse aspecto, cabe destacar a importância do setor no processo de transição energética, como um dos maiores produtores mundiais de etanol e outros biocombustíveis, fator que se soma à criação da tecnologia dos motores flex e, mais recentemente, ao desenvolvimento dos carros híbridos.

No entanto, o agronegócio brasileiro ainda enfrenta alguns obstáculos que precisam ser superados para garantir o seu avanço contínuo. Entre os principais desafios estão a infraestrutura logística precária, em especial no setor de transportes, que pressiona os custos e provoca desperdícios de produtos, e a dificuldade de acesso a crédito para financiamento das safras, principalmente para pequenos e médios produtores, os quais, aliás, são um dos focos prioritários da proposta do Brasil ao G20. Também penso ser necessário promover a capacitação dos produtores rurais e ampliar cada vez mais o acesso do campo à inovação.

A Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, se efetivada em termos práticos pelas nações signatárias, pode representar um grande passo na luta contra esses flagelos de nossa civilização. Com o aporte dos recursos anunciados no Rio, a implementação de políticas públicas eficazes, os investimentos em tecnologias sustentáveis e o fortalecimento permanente do agronegócio é possível vislumbrar, com responsável otimismo, um futuro no qual a insegurança alimentar e a miséria sejam erradicadas, garantindo uma vida digna para bilhões de pessoas em todo o planeta.

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