O Dia Mundial das Áreas Úmidas serve como um lembrete do papel crucial desse ecossistema na manutenção da vida. As áreas úmidas são muito mais do que apenas paisagens alagadas, elas são paraísos de biodiversidade, reguladores climáticos e centrais para a segurança hídrica. No entanto, elas continuam a ser mal compreendidas, subvalorizadas e subprotegidas. Com 35% de perda global desde 1970, as áreas úmidas são o nosso ecossistema mais ameaçado, desaparecendo três vezes mais rápido do que as florestas.
Neste ano, a Wetlands International destaca o Pantanal. Essa vasta planície aluvial está localizada na Bacia do Alto Paraguai e é profundamente influenciada pelos rios que cruzam a região. É a maior área úmida tropical do mundo, um exemplo vivo tanto de riqueza ecológica quanto de vulnerabilidade. Estende-se pelo Brasil, pela Bolívia e pelo Paraguai, com 70% de seu território localizado em solo brasileiro. E depende de três dos biomas mais importantes do Brasil – a Amazônia, o Cerrado e a Mata Atlântica – para recursos como água, fluxo de sedimentos e nutrientes.
O Pantanal abriga mais de 4.700 espécies de animais e plantas, incluindo grandes populações de espécies ameaçadas, como onças, tuiuiús e araras-azuis. Mais importante, ele fornece locais essenciais para a formação de ninhos e a alimentação para aves migratórias e peixes. Como todas as áreas úmidas do mundo, o Pantanal fornece serviços ecossistêmicos importantes, como o sequestro de carbono e a regulação e a purificação da água.
Além disso, sustenta atividades econômicas para populações locais, desde a pecuária até o turismo. Infelizmente, o bioma enfrenta ameaças crescentes como desmatamento, incêndios descontrolados e mudanças climáticas. Práticas agrícolas insustentáveis em larga escala – principalmente em áreas de planalto, envolvendo o uso de agroquímicos e da irrigação nas terras baixas, atividades de dragagem ao longo dos rios e a introdução de espécies exóticas para pastagem –, têm degradado ainda mais a região.
Essas atividades reduziram severamente a resiliência da região às ameaças naturais. Em 2020, por exemplo, os incêndios destruíram mais de 30% da área total do bioma. Esses desafios ressaltam a necessidade urgente de medidas protetivas mais fortes e da adaptação de práticas econômicas às realidades de um clima em transformação.
Na Wetlands International, trabalhamos na restauração e na proteção do Pantanal por meio do Programa Corredor Azul. Junto a parceiros, lançamos o Sistema de Inteligência do Fogo em Áreas Úmidas (Sifau), implementamos um sistema de alerta precoce de incêndios, apoiamos brigadistas locais com equipamentos e treinamento e trabalhamos com comunidades para melhorar o manejo de viveiros e áreas reflorestadas. Também somos um parceiro central do Freshwater Challenge, uma iniciativa global para acelerar a restauração de rios e áreas úmidas degradados e proteger ecossistemas de água doce ainda intactos.
COP
Neste ano, o Brasil será o anfitrião da COP-30. Esse será um momento-chave para governos, empresas e financiadores reconhecerem a vulnerabilidade das áreas úmidas diante da crise climática e priorizá-las em compromissos, ações e investimentos voltados à mitigação e à adaptação climática.
Na preparação para a COP-30, a 15ª Reunião da Conferência das Partes Contratantes da Convenção de Ramsar sobre Zonas Úmidas (COP-15) será um marco crítico para destacar as áreas úmidas como soluções climáticas. Organizada pelo Zimbábue e marcada para o fim de julho, governos e outras partes interessadas poderão fortalecer compromissos, adotar políticas transformadoras e mobilizar o financiamento para a conservação e a restauração de áreas úmidas.
O Dia Mundial das Áreas Úmidas é mais que uma celebração, mas um chamado à ação – um apelo para que os líderes priorizem a saúde das áreas úmidas para a preservação da biodiversidade –, à mitigação climática e à segurança hídrica. É um chamado para proteger as áreas úmidas para o nosso futuro comum. A hora de agir é agora.