O esfriamento do mercado imobiliário é reflexo das consequências da política econômica, que ainda não teve alteração substancial, mesmo após os ajustes fiscais.
A crise na construção civil é uma realidade há meses no País. Projetos foram suspensos, trabalhadores demitidos e o que está à venda, permanece, sem compradores à vista. Com tantos imóveis à disposição, não é de se estranhar que a retração também não tardaria a chegar ao mercado de locação. Reportagem publicada na edição de hoje do Correio do Estado mostra que há estoque de imóveis no mercado em Campo Grande e índice de inadimplência que chega a 10%, segundo o presidente do Sindicato dos Corretores de Imóveis de Mato Grosso do Sul (Sindimóveis-MS), James Antônio Gomes. Embora seja percentual aparentemente baixo, demonstra que muitos estão deixando de pagar contas consideradas prioritárias por falta de condições.
Em Campo Grande, o preço dos aluguéis teve reajuste de 7,5% nos últimos doze meses, índice que fica abaixo da inflação do período, que é de 9,39%. Mesmo assim, o mercado na capital está percebendo redução no fechamento dos contratos e, para evitar que o cenário fique pior, o valor de locação está sendo reduzido, na tentativa de atrair novos inquilinos. Profissionais do setor também citam outra mudança que comprometeu, e muito, as negociações: no segundo semestre do ano, era esperado aumento nas locações, por causa de público específico: estudantes universitários de outras cidades. Cortes do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) o fim dos vestibulares de inverno (com cursos no meio do ano), o número estudantes de fora caiu. Os que vem para Campo Grande optam em dividir o imóvel com mais três ou quatro pessoas, para economizar.
A saída é tentar administrar a situação, já que profissionais do ramo imobiliário admitem que não sabem quando haverá mudança no cenário. O esfriamento do mercado é reflexo das consequências da política econômica, que ainda não teve alteração substancial, mesmo após os ajustes fiscais do governo federal. O quadro pessimista abala a confiança dos consumidores, que tendem a não fazer novas dívidas e, pior, aumenta a inadimplência em vários setores. Em outra reportagem do Correio do Estado, divulgada há algumas semanas, foi mostrada a desocupação de imóveis na região central de Campo Grande. Comerciantes não conseguiram pagar pelo valor do aluguel e, com outras dívidas, encerraram as atividades. Para os que conseguiram ainda manter a atividade, a estratégia adotada foi transferir o negócio para bairros, com locação mais barata, além do corte de funcionários e outros gastos. No caso de compra e venda, as empresas suspendem lançamento de novos projetos, até que o estoque seja comercializado, o que, a médio prazo, não deve acontecer. O governo federal estima que os efeitos do ajuste comecem apenas em 2016, mas está difícil acompanhar essa estimativa positiva da forma que a economia reage.
No quadro atual, especialistas do setor apontam, uma vantagem, pelo menos, para quem está prestes a encerrar o contrato: é uma boa hora para tentar renegociar valores, desde que tenha histórico favorável de bom pagador e de ter responsabilidade com imóvel. Para o locatário, é alternativa para não ver o inquilino sair e ficar com imóvel desocupado, sem prazo para ser alugado.