Cidades

"EQUÍVOCO"

Ex-ministro: cobrança no SUS é desastre e lembra a ditadura

José Gomes Temporão chefiou a pasta entre 2007 e 2010, no governo de Lula

FOLHAPRESS

16/08/2015 - 13h46
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"A proposta de cobrança no SUS é uma ideia desbaratada que não resolve nada. Politicamente é um desastre e conceitualmente é um equívoco: é radicalmente oposta ao que está na Constituição. Significa mais uma tentativa de colocar sobre as famílias brasileiras o ônus do financiamento da saúde."

A análise é do médico José Gomes Temporão, ex-ministro da Saúde (2007-2010) no governo Luiz Inácio Lula da Silva. Atual diretor-executivo do Instituto Sul-Americano de Governo em Saúde, ele diz ter ficado em "estado de choque" quando leu sobre o pacote encaminhado pelo Senado ao Planalto, que recebeu elogios do ministro da Fazenda.

"Quando vi a proposta, achei que estava delirando, voltando aos tempos da ditadura militar, com ideias desse tipo, como as de Leonel Miranda [ministro de 1967 a 1969], que propunha a privatização de toda a saúde brasileira", diz Temporão, 63, à reportagem.

Para ele, o projeto "soa mais como uma provocação do governo em relação à saúde pública. Não há ninguém no setor que sustente uma proposta que é absolutamente nefasta para a saúde no país". Lembra que, há uma semana, um congresso do setor pediu o aprofundamento no financiamento à saúde.

Na sua visão, a questão do financiamento da saúde pública necessita mudanças estruturais. "Tem a ver com financiamento da seguridade social, com uma reforma fiscal e tributária, com imposto sobre grandes fortunas, com impostos sobre produtos que afetam negativamente a saúde pública, como fumo, bebidas, pesticidas, motocicletas."

Também crítico à ideia de pagamento no SUS, o economista Carlos Ocké-Reis, do Ipea (Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada), identifica na proposta mais um movimento no sentido da mercantilização da saúde pública no país.

"Introduzir a prática de compra e venda de serviço dentro do SUS significa realinhar os incentivos econômicos dos prestadores. A literatura mostra que se acaba criando uma dupla porta e se oficializa uma qualidade diferenciada: quem paga tem acesso mais rápido e melhor dentro do sistema", declara.

Autor de "SUS, o Desafio de Ser Único" (Fiocruz, 2012), Ocké-Reis, 48, afirma que a experiência mostra que as políticas de co-pagamento são insuficientes e geram receitas irrisórias para o financiamento da saúde. "O objetivo é refrear a demanda. É mais uma política de contenção de custos do que de apropriação de receitas".

Na sua opinião, a cobrança é ineficaz como política de arrecadação e representa "um completo desastre para a equidade, pois amplia desigualdades", diz.

Nesse momento de aumento no desemprego e redução da massa salarial, a tendência é de que as famílias tenham dificuldade em permanecer nos planos de saúde, observa. Para ele, o governo deveria adotar medidas de reforço nas políticas sociais e de saúde, e não o contrário.

"O governo deveria entender a política de saúde como uma política anticíclica, fazendo com que as famílias gastassem menos com saúde", defende. Gasto público maior com saúde também ajudaria a reduzir a inflação do setor de serviços, com impacto na taxa total. "Reduzir os gastos das famílias com saúde, por meio de oferta pública, é outra forma de ataque à inflação", ressalta.

O economista enfatiza que o setor de saúde no país é cada vez mais concentrado, oligopolizado e internacionalizado. "A taxa de retorno tem sido extremamente atrativa. Não é à toa que o governo recentemente abriu esse mercado. Há interesse das operadoras internacionais no Brasil".

De acordo com ele, entre 2003 e 2011, o lucro líquido na área cresceu duas vezes e meia em termos reais, já descontada a inflação. "É um setor extremamente rentável, cuja margem líquida de lucro, no agregado, está entre 10% e 20%", diz.

Ocké-Reis identifica na própria abertura a estrangeiros sinais do retrocesso na saúde. "Isso escancara um setor que nem está regulado internamente. Não se discute os efeitos dessa internacionalização do ponto de vista do padrão de qualidade, dos prestadores médicos, da relação do púbico e do privado. Não se analisa seus efeitos sobre a internacionalização no balanço de pagamentos", alerta.

Ele fala de outro aspecto na questão do financiamento ao setor: a renúncia fiscal dada aos planos de saúde. Conta que acabou de concluir um trabalho com a Receita, apurando um total de R$ 10,5 bilhões de renúncia fiscal (R$ 6,5 bilhões na pessoa física e R$ 4 bilhões na pessoa jurídica).

"Isso poderia ser reduzido e o dinheiro ser transferido para o SUS na atenção primária e baixa complexidade", sugere.

Já o ex-ministro Temporão ressalta o fato de o custo privado ser a parcela maior no financiamento total da saúde. "É o contrário da Inglaterra, que tem um sistema universal, onde 85% do total são gastos públicos. Aqui 52% são privados. Isso afeta principalmente as famílias mais pobres, que têm que pagar para acesso a tratamentos e medicamentos que não conseguem obter na rede pública. Uma proposta desbaratada como essa [da cobrança] agrava essa situação", ressalta.

Para ele, há uma contradição central: "Temos um sistema que constitucionalmente se obriga a prover saúde para todos os brasileiros, de maneira universal e igualitária, com uma base de financiamento no qual a maior parte é privada. Sem uma profunda mudança nessa estrutura de gasto, ou seja, sem uma radical ampliação do gasto público, não vamos sair desse impasse", afirma.

Boletim

Criança de 8 anos morre de dengue em Mato Grosso do Sul

Menina não tinha comorbidades; No ano, Estado tem 11 vítimas da doença, sendo seis mulheres e cinco homens

19/05/2025 17h15

Dengue já matou 11 pessoas neste ano em MS

Dengue já matou 11 pessoas neste ano em MS Foto: Reprodução

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Uma criança de 8 anos morreu vítima de dengue em Mato Grosso do Sul. A morte da menina foi confirmada em boletim epidemiológico divulgado nesta segunda-feira (19) pela Secretaria Estadual de Saúde (SES).

Conforme os dados divulgados, a menina residia em Naviraí e não apresentava comorbidades. Ela começou a apresentar sintomas em 29 de abril e morreu no dia 4 de maio, mas a confirmação de que a causa foi dengue foi na última quinta-feira (15).

Com esta morte, Mato Grosso do Sul chega a 11 óbitos confirmados em decorrência da doença neste ano, além de outros nove que estão em investigação.

As mortes ocorreram nos municípios de Inocência, Três Lagoas, Nova Andradina, Aquidauana, Dourados, Ponta Porã, Coxim, Iguatemi, Paranhos, Itaquiraí e Naviraí.

Entre as vítimas, quatro delas possuíam algum tipo de comorbidade. Além da criança de 8 anos, todas as demais vítimas tinham idade acima de 65 anos.

Com relação aos casos, foram notificados 11.602 prováveis, sendo 4.517 casos confirmados.

Ainda conforme o boletim epidemiológico, dos 79 municípios do Estado, 53 estão em alta incidência de dengue. É considerada alta incidência quando o município registra acima de 300 casos por 100 mil habitantes.

Outras 19 cidades estão com média incidência e 7 têm baixa incidência, incluindo Campo Grande, que registrou 202 casos confirmados no ano.

Não há casos notificados em Jaraguari, Rochedo, Corguinho, Bandeirantes e Sete Quedas.

Em todo o ano passado, foram confirmados 16.229 casos de dengue no Estado, com 32 mortes.

Vacina

Ainda conforme o boletim, 167.101 doses do imunizante contra a dengue já foram aplicadas na população alvo.

Ao todo, Mato Grosso do Sul já recebeu do Ministério da Saúde 241.030 doses do vacina.

A vacinação contra a dengue é recomendada para crianças e adolescentes entre 10 e 14 anos, 11 meses e 29 dias de idade, faixa etária que concentra o maior número de hospitalização por dengue, dentro do quadro de crianças e adolescentes de 6 a 16 anos de idade.

Quem está fora da faixa etária classificada como prioritária pode procurar a vacina na rede particular.

A Qdenga previne exclusivamente casos de dengue e não protege contra outros tipos de arboviroses, como Zika, Chikungunya e febre amarela.

O esquema completo da vacina é composto por duas doses, a serem administradas por via subcutânea com intervalo de 3 meses entre elas. Quem já teve dengue também deve tomar a dose.

Para quem apresentou a infecção recentemente, a orientação é aguardar 6 meses para receber o imunizante. Já quem for diagnosticado com a doença no intervalo entre as duas doses deve manter o esquema vacinal, desde que o prazo não seja inferior a 30 dias em relação ao início dos sintomas.

DIREITOS HUMANOS

Governo do Estado lança licitação para seleção de projetos sociais

Serão contemplados projetos nas áreas da Criança e Adolescente, Direitos Humanos e Assistência Social

19/05/2025 17h00

Governo de Mato Grosso do Sul lança edital de R$ 15 milhões para projetos sociais

Governo de Mato Grosso do Sul lança edital de R$ 15 milhões para projetos sociais FOTO: Alvaro Rezende

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Nesta segunda-feira (19), o Governo de Mato Grosso do Sul, por meio da Sead (Secretaria de Estado de Assistência Social e dos Direitos Humanos), publicou um edital que vau investir R$ 15 milhões em propostas de Organizações da Sociedade Civil - (OSCs).

De acordo com o documento, serão contemplados projetos em três áreas principais, sendo elas: Criança e Adolescente (R$ 6 milhões), Direitos Humanos (R$ 4,35 milhões) e Assistência Social (R$ 4,65 milhões). Os recursos são provenientes do orçamento estadual e do Feinad (Fundo Estadual para a Infância e Adolescência).

O objetivo do Executivo Estadual é financiar iniciativas que promovam a melhoria da qualidade de vida de populações em situação de vulnerabilidade, incluindo vítimas de violência, pessoas em situação de rua, indígenas, LGBTQIA+, idosos e dependentes químicos. Entre os eixos prioritários estão enfrentamento à violência infantil, inclusão digital, combate ao trabalho infantil e qualificação profissional para jovens.

COMO PARTICIPAR?

As inscrições começam no próximo dia 28 de maio, e as OSCs interessadas devem apresentar propostas alinhadas aos eixos do edital e comprovar experiência na área. Cada organização pode inscrever até um projeto por campo temático, com valores variando entre R$ 100 mil e R$ 200 mil, dependendo da modalidade.

A seleção será feita por uma comissão estadual, que avaliará critérios como adequação ao objetivo público, viabilidade financeira e capacidade técnica.

Confira o cronograma:

Governo de Mato Grosso do Sul lança edital de R$ 15 milhões para projetos sociais

Para participar, as entidades precisam estar regularizadas, com CNPJ ativo e inscrição nos conselhos municipais correspondentes (como o Conselho dos Direitos da Criança e do Adolescente).

O envio das propostas deve ser feito via Sedex ou protocolado presencialmente na Sead, em Campo Grande. Projetos com falhas documentais terão prazo de dois dias úteis para correção após notificação.

O processo seguirá as regras da Lei Federal nº 13.019/2014, que regulamenta parcerias entre o poder público e OSCs. O edital destaca ainda que eventuais irregularidades podem levar à desclassificação ou rescisão do contrato, com devolução de recursos.

Dúvidas podem ser encaminhadas para o e-mail [email protected].  O edital completo e anexos estão disponíveis no site da Sead (https://www.sead.ms.gov.br/edital-de-chamamento-publico-osc/).

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