Correio B

DIA DOS NAMORADOS

Artistas falam sobre o amor durante o namoro e psicólogo contextualiza esse tipo de relacionamento

O que é? Para que serve? Como foi na primeira vez? Cinco artistas de diferentes expressões respondem às três perguntas e o psicólogo Henrique Henkin Coelho Netto contextualiza esse tipo de relacionamento afetivo que tem uma data específica no Brasil

Continue lendo...

Ágape (divino, incondicional), philia (próprio da amizade), eros (romântico, sexual). São apenas algumas das várias palavras com que se descrevia o amor na Grécia Antiga. “Encontro pela vida milhões de corpos; desses milhões posso desejar centenas; mas dessas centenas, amo apenas um”. Isso já é Roland Barthes (1915-1980) destilando o sentimento em um livro que se tornou um clássico sobre o assunto, “Fragmentos de Um Discurso Amoroso” (1977).

Saltando para a cidade de Campo Grande de hoje em dia, justamente na data brasileira em que se celebra o Dia dos Namorados, o psicólogo Henrique Henkin Coelho Netto busca aterrissar nas variantes possíveis da realidade a ebulição que se encerra na manifestação do afeto amoroso, a fervura de prazer e transtorno que não passa mesmo depois de quando se tem a idade dos hormônios à flor da pele. Adolescentes, adultos, idosos. Todos parecem ser vítimas de uma arriscada combustão à base de alegria e risco. A solidez ficaria para o casamento?

“Todo amor é válido e digno quando todas as pessoas envolvidas estiverem de acordo. Amar é ser quem se é, e deixar o outro ser quem ele é, é dar ao outro o que ele precisa dentro das minhas possibilidades. E se isso me aproxima dele, ótimo, se me afasta, faz parte dos meus critérios de escolha, e tudo bem”, pontua o psicólogo.

“O amor é um dos conceitos mais elaborados em toda a história da humanidade, desde a Grécia Antiga, até antes, se questionava as várias formas de amar”, afirma.

“Esse amor se apresentou na forma sensual, na amizade, no amor pela humanidade, o amor pelo conhecimento, entre tantos amores. Atualmente, o amor é apresentado como um ideal romântico, que também é válido, mas não único, a busca pela alma gêmea. Mas muitas vezes é romantizado, projetado no outro um ideal que não pode ser alcançado, criando uma forma distorcida de amor”, diz Henrique. Mas e o namoro?

“O namoro em si é esse primeiro limiar, aonde são estabelecidos os contratos iniciais da relação. Após um início de grande paixão, o casal e outras formas de se relacionar definem se esse parceiro faz sentido por inúmeros fatores, afetivos, de valores, ideais de vida, e cada relação tem uma forma específica de ver isso. O amor romântico é apenas uma forma de amar, que foi instituída há poucos séculos, e cada cultura estabeleceu formas diferentes de vivenciar esse amor”, desenvolve o especialista de 35 anos que atua há 15 anos.

“Na nossa sociedade ocidental, o ideal romântico de namoro ficou muito mais forte por ideais econômicos, nas datas, filmes, livros. Apesar disso, faz parte do que somos, e, mais do que uma crítica, diria que é uma compreensão de como vivemos, pois nada que é acolhido socialmente vem apenas de fora. Esse romantismo sempre esteve presente dentro da humanidade, vide os ideais românticos representados por tantos deuses e heróis de contos”, afirma.

O AMOR NO DIVÃ

“Nos meus trabalhos no consultório, tanto no individual como em grupos, o amor é uma temática constante, seja no amor de uma mãe, de um pai, de um irmão, amigo, como nas relações românticas”, conta Henrique.

“Eu diria que o amor é o grande tema da humanidade, pois ele é questionado constantemente, seja no amor pelo outro, romântico ou não, seja por si mesmo. O grande desafio da terapia é aprender a amar o outro sem esquecer de si mesmo, é olhar para seus desejos ao mesmo tempo que se relaciona, pois somos seres sociais, não há amor sem relação, independente de qual for”, reforça.

“Cada vez mais se questiona o que é o amor romântico, visto que nossa tão jovem sociedade vê qualquer forma de amor para além da relação de casal como um tabu. O amor é a entrega, aceitar o outro sem esquecer de si, é viver aquilo que se acredita, e nem sempre será adequado para a sociedade em que vivemos”, pondera o psicólogo, que fez graduação na UCDB e tem formação em psicodrama e análise junguiana.

“O grande desafio desse momento é compreender que o amor vai para muito além do ideal de casamento, de família ideal, não excluindo essas formas de amor, mas abrindo a mente para o que o ideal das pessoas que estão se relacionando vivem. O amor é tudo aquilo que o contrato relacional permitir ser”, conclui Henrique.

O especialista convida o leitor para o encontro público Amor/es – Uma Experiência para Pessoas que Amam, no dia 22, das 15h às 17h, na Associação Entre Nós. Mais informações: (67) 98185-3350.

AMOR DE NAMORO

“É o rompimento dos gestos, das palavras. Aquilo que existe entre o silêncio. Feito de matéria escorregadia. A busca contínua de achar palavras que sejam possíveis para dizer. Espaço sem sobreviventes, rompimento do tempo e da morte”.
Febraro de Oliveira, escritor.

“É o amor da descoberta, do desconhecimento, da curiosidade. O do impulso, da surpresa e das borboletas”.
Mariana Marques, cineasta.

“Pode ser um amor experimentado e vivido em um tempo limitado. Mas também pode ocorrer não apenas entre pessoas apaixonadas ou com quem estamos envolvidos romanticamente, mas convivendo em um estado de partilha, onde a gente vê aquela pessoa junto conosco, em tudo o que queremos fazer”. Salim Haqzan, ator e diretor de teatro.

“Amor de namoro é identificação, é química intelectual e física”.
Juci Ibanez, cantora.

“Quando a paixão e a admiração chegam num ponto de partilha crucial, a gente namora. Quando o amor não cabe só dentro do peito e você quer pedaços da pessoa encaixados no seu dia a dia e quer partilhar fragmentos da vida com quem se ama, sabe?”.
Marina Duarte, quadrinista.

PARA QUE SERVE

“Para que os poetas tenham sobre o que escrever, para que camisas sejam vendidas, para que chuteiras sejam trocadas, para que unhas sejam lixadas”.
Febraro.

“Serve para corar, ferver o sangue, derreter, exaltar e envolver”.
Mariana.

“Serve pra alma, pra nos sentirmos vivos de verdade. Serve também para o autoconhecimento, porque só podemos saber de nós mesmos através da relação com outra pessoa”.
Salim.

“Serve para suprir a necessidade da parceria, da boa companhia, da necessidade que temos de sermos par”.
Juci.

“Pra entrelaçar e mudar profundamente nosso íntimo. Tem a possibilidade desse encontro de almas ser lindo, ser profundo, ser raso, ser problemático. Mas nunca de ser o mesmo que foi antes. Então, pra mim, namorar tem a potência de nos moldar os olhos, o coração, a percepção de mundo. Pode perceber que, depois de um namoro, os objetos, as datas e lugares mudam totalmente de significado – talvez, depois de um namoro interrompido, uma simples árvore na via te faça chorar.

E acho que é sobre isso o amor de namoro: emprestar um pedaço nosso pra habitar a lembrança de alguém eternamente”.
Marina.

COMO FOI NA PRIMEIRA VEZ

“Foi a suspensão do nome, no escondido. Foi quando os gestos escondiam as palavras. Antes de ser palavra, amor eram apenas os gestos repetidos. Depois, por ser palavra, acabava escondendo-se nos rastros, nos destroços de uma civilização”.
Febraro.

“Foi num samba com os amigos, saindo mais uma vez juntos. Ele se aproximou e eu recuei. Queria manter a compostura, mas meu corpo não ia de encontro com minhas palavras. Ele não saía do meu campo de visão, ou de perto. E dançamos, bebemos e demos risada. E eu esperava que insistisse um pouco mais, dançava em um embalo arrependido no chorinho. Mas ele só permaneceu ali ao meu lado. E por alguns dias seguimos assim, até que num rompante urgente eu disse que o queria, e muito. E nunca mais ele saiu do meu lado”.
Mariana.

“Não consigo me lembrar da primeira vez que me senti atraído por alguém e me apaixonei. Me lembro de já aos 23 anos, namorando, não conseguia me imaginar vivendo longe daquela pessoa. Tudo parecia ter sentido apenas do lado dela. E uma vontade imensa de sair gritando pra todo mundo saber do amor que a gente sentia e vivia”.
Salim.

“O namoro mais importante que se tornou amor foi com meu marido. Amor incondicional, que perdoa, que entende, que não abandona, e que, como disse Vinicius, ‘seja infinito enquanto dure’”.
Juci.

“Sempre fui apaixonada por outras formas de ver o mundo e sorrisos que me viram do avesso. Por óbvio, daí que sou uma mulher namoradeira. 
O que considero meu primeiro namoro foi com alguém que eu tinha profunda amizade, já era apaixonada por sua forma de viver a vida e nossa combinação. Eu era muito nova, vivi momentos divertidos dos quais nunca me esqueço – e desde sempre passei a entender que amar também é deixar ir e aceitar o que fica.Tenho em mim fragmentos de pessoas que me ensinaram, aos pouquinhos, às vezes com boas lembranças, às vezes não tão boas, como amar e como quero ser amada. E acho que namoro é isso”.
Marina.

Assine o Correio do Estado

DIÁLOGO

Figurinha está usando suas redes sociais para fazer pré-campanha...Leia na coluna de hoje

Confira a coluna Diálogo desta segunda-feira (14/04)

14/04/2025 00h01

Diálogo

Diálogo Foto: Arquivo / Correio do Estado

Continue Lendo...

Fabrício Carpinejar - escritor brasileiro
"Quando estamos sozinhos, somos pela metade. Quando somos dois, somos um. Quando deixamos de ser 
um dos dois, não somos nem a metade que começamos a história”.

FELPUDA

Figurinha está usando suas redes sociais para fazer pré-campanha antecipada, mesmo estando no túnel sem ver a luz no fim sobre o seu futuro político. No momento, como se estivesse em um palanque digital, vem criticando uma série de problemas que a cidade enfrenta. Afirma que não é uma “pessoa adversária”, mas tão somente uma “pessoa preocupada” com o bem-estar da população. O interessante é que, quando estava ocupando cargos importantes, não demonstrou nadica de nada de interesse em buscar solução para tudo aquilo que hoje critica. Pode?

Diálogo

Prazo

O Instituto Federal de Mato Grosso do Sul (IFMS) prorrogou até o dia 22, às 13h, o prazo de inscrições para seus dois concursos públicos. Os interessados devem se inscrever pelo site do Instituto AOCP, organizador dos certames.

Mais

São ofertadas 80 vagas de professor em diversas áreas. É possível fazer as inscrições para mais de um cargo, desde que as provas objetivas sejam realizadas em períodos diferentes (manhã e tarde). Mais informações podem ser consultadas nos editais.

DiálogoEliane Toniasso e José Romero Toniasso, que comemoram 38 de casamento em março deste ano - Foto: Arquivo pessoal
DiálogoJoe Mazzello - Foto: Brazilnews e Leca Novo

Distância

Pela manifestação do presidente estadual do PSDB, Reinaldo Azambuja, a futura caminhada com o PT se torna cada vez mais difícil. Ele deixou claro que os tucanos, em uma possível fusão, federação ou incorporação, querem a plumagem de “centro-direita”, o que significa ter um candidato para enfrentar a esquerda na disputa pela Presidência da República. Em MS, dizem, os petistas correm o risco de diminuir. A conferir. 

Cenário

Com três deputados estaduais e dois federais, o PT não teria, se as eleições fossem hoje, um candidato a governador e ao Senado. As previsões indicam que essa situação vai perdurar até 2026, porque os partidos de centro-direita estão fechados com o PSDB em torno da reeleição do governador Eduardo Riedel e têm seus candidatos, que poderão fazer aliança com os tucanos para a segunda vaga ao Senado. 

A laço

Com falta de lideranças mais expressivas para disputar o governo do Estado, nos bastidores, há quem afirme que o PT avalia lançar o ex-deputado federal Fábio Trad como candidato no confronto com Eduardo Riedel, assim como a ministra Simone Tebet poderá ser candidata a vice na chapa de Lula. O assunto é comentado nos meios políticos, mas se o projeto vai se concretizar é outra história. Fábio Trad estaria se preparando, em um primeiro momento, para disputar novamente uma cadeira na Câmara dos Deputados e é servidor no governo petista.

Aniversariantes

Cláudia Kudiess Napi, 
Dimas Braga, 
Flávia Cristina Albuquerque Palhares Machado,
Lucas Mota, 
Gabriela Yussef, 
Maria Justina Pereira Gimenez, 
Irineu Justino de Oliveira,
João José de Souza Leite,
Lourdes Aguena,
Nelson Chaia,
José Rodrigues Maria,
Dr. Vitor Higa,
Tiburcio João Soares,
Vandirlei Manetti Nabarrete,
Vinicius Coutinho Garabini,
Ricardo Augusto de Souza e Silva,
Miriam Shimabukuro Myasato,
José Roberto Machado,
André Coelho de Oliveira Martins, 
Karolyne Aparecida Lima Maluf, 
Dr. Wantuir Brasil Jacini, 
José Palhano Neto, 
Dr. Jaime Shimabukuro, 
Natália Feitosa Beltrão,
Renato de Figueiredo,
Dr. Ronaldo Bernardo Malheiros,
Arlindo Perin, 
Dra. Izabel Teixeira Rodrigues,
Karina da Silva Faria,
Paulo Victor Diotti Victoriano,
Maria de Lourdes Morales,
Wanderley Patrick Lemos Gehlen,
Rafael Pereira Goldoni,
Nilza Maria Aguirre da Silva Lemos,
Eloisa Bittencourt,
Waldir de Oliveira Rocha,
Maria das Dores Carvalho,
Pedro de Assis e Silva,
Resebelma Oliveira Fontoura,
Juliana Teixeira de Oliveira,
Carlos Alberto Jonas Giordano,
Nádia Oliveira Palazzo,
Leda Aparecida Tomikawa,
Paulo Matias Júnior,
Ogular Zardo Filho,
Eugênio Peron Filho, 
Dr. Carlos César Ferreira, 
Rosângela Fernandes Oliva,
Osvaldo Viana Ferreira,
Vera Regina Barros de Figueiredo Madureira de Pinho,
Izabel de Souza,
Antônio Marques Rodrigues,
José Rosalvo Fraga dos Santos,
Luciane Mara de Rezende Giglio,
Maurílio Salgado da Silva,
Rita de Cássia Pimenta da Silva,
Otávio Pereira Gomes,
Rosilma Alves de Oliveira,
Lamartine de Figueiredo Costa,
Nilda Tronche Nicolau, 
Sílvio Lima da Costa,
Leonel de Almeida Mathias, 
Olavo Nogueira de Faria,
Neuza Franco de Castilho,
Flávio José Leme,
Marli Graciano Moreli,
Manoel Ferreira de Souza,
Dr. Jorge Barreto Algayer, 
Dra. Maria Sara Costa de Oliveira,
Delma Alves Gonçalves,
Roberto de Castro Cunha,
Elza de Oliveira Chimenes,
José Gondim Lins,
Tomaz Joaquim Araújo,
Valdir Dias Ortiz,
Aderbal Bogalho Júnior,
Vanderlei Pereira Rios Dias,
Edenir Aparecida Nascimento Castro,
Sueli Hatsumi Hishie Nobu,
Célio Oliveira Furtado,
Marilza de Oliveira Ribeiro,
Daniela Maria Yule Nogueira,
Francisco Inácio Souza,
Elza Mota,
Marlene de Almeida,
Dr. Hailton Simões, 
Paulo César Diniz de Souza,
Dion Anastácio da Cunha,
Eduardo Ariano Moura,
Waldeli dos Santos Rosa, 
Silvia Fragoso de Oliveira,
Renan Lima de Mendonça,
Lucy Leda Cardoso Ramos, 
Fernanda de Moura Serra Barbosa, 
Maria Cristina Rocha de Souza Assis, 
Euripedes Martins Maciel,
Fioravante Rotilli,
Márcia Christina Lins,
Claudia Reiko Yoza,
Rosane Meireles Grubert,
Kelly Cristina Marques Moreira,
João Victor Fermino Carlos,
Antonio Frederico de Souza Moraes,
Marcelo Freire Victorio,
Carlos Alberto Arlotta Ocáriz,
Ricardo Augusto Cação Pinto,
Fernando Davanso dos Santos,
Renato Millani Ribeiro Pinto.

Colaborou Tatyane Gameiro

Correio B+

Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz Gabriela Duarte

Primeiro monólogo da atriz está em cartaz em São Paulo com direção de Alessandra Maestrini e Denise Stoklos que combina Teatro Essencial e novos conceitos estéticos.

13/04/2025 16h00

Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz Gabriela Duarte

Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz Gabriela Duarte Foto: Priscila Prade

Continue Lendo...

A atriz Gabriela Duarte assume um novo desafio no teatro com o espetáculo O papel de parede amarelo e EU, seu primeiro solo, sob a direção de Alessandra Maestrini (que também já foi Capa do Correio B+) e Denise Stoklos. A peça está em cartaz no Teatro Estúdio, nos Campos Elíseos, até 1º de junho.

A montagem é inspirada no livro O Papel de Parede Amarelo. Publicado em 1892, o conto de Charlotte Perkins Gilman (1860-1935) é considerado um marco da literatura feminista por abordar temas como o controle sobre o corpo feminino e saúde mental, que permanecem atuais.

A narrativa retrata a história de uma mulher confinada em um quarto pelo marido, que desenvolve uma obsessão pelo papel de parede. No entanto, a peça vai além do conto de Gilman e traz o posicionamento da própria Gabriela como mulher.

O espetáculo é um manifesto, dizem Alessandra e Denise, e vai além do aprisionamento da personagem. “Todos sonhamos com o desligamento das questões opressivas que o texto traz de formas metafóricas, mas que nós conhecemos em diferentes níveis na sociedade atual. É um espetáculo muito contemporâneo”, explicam.

Uma outra Gabriela 

A atriz vinha gestando a ideia de fazer um monólogo há três anos. “Eu queria fazer algo em que eu pudesse falar um pouco de mim e da minha busca por identidade”, conta. Gabriela se apaixonou pelo conto, que descreve como “extremamente simples, objetivo, lúdico e político”. E encontrou nele características que vão ao encontro do que ela queria comunicar. “Eu acho que quando uma mulher fala de si, ela acaba falando de todas. E é aí que o tema se amplia”.

Para a atriz, esta não é uma conversa só de mulheres, mas uma oportunidade de abrir o diálogo e convidar os homens para a reflexão. A peça é política “na medida certa”, ela conta, com toques de ternura e poesia.

Depois de quase 40 anos de profissão, o desejo de explorar caminhos que ainda não foram percorridos vem “naturalmente”, diz. “O público conhece a Gabriela da TV que fez muitas mocinhas, muito drama, o que eu agradeço. Agora eu quero explorar novas possibilidades e que as pessoas possam ver a Gabriela que também consegue se divertir”, conta.

Neste processo, a atriz também explora seu lado cômico. Para ela, encontrar a leveza em um tema tão denso é uma das forças da peça. “Acho tão poderoso você saber como rir de situações muito difíceis. A Alessandra tem trazido essa visão para os ensaios. Não diria que é um riso de humor escancarado, mas sim um riso consciente, de constatação, de perceber que as coisas podem mudar”, conta Gabriela”.

Duas diretoras, uma direção 

Alessandra Maestrini e Denise Stoklos assinam a direção juntas, num processo em que uma complementa a outra. Alessandra acompanha o trabalho de Denise há 30 anos; sua direção se identifica com o Teatro Essencial, linguagem teatral criada por Denise e que valoriza a expressividade do ator por meio do corpo, voz e mente, com o mínimo de recursos externos possível.

Segundo Denise, Alessandra tem um "olhar muito agudo", um ritmo rápido de direção e uma escuta bastante diferenciada. Ela emprega os conceitos do Teatro Essencial de forma inovadora e acrescentadora, nos melhores sentidos.

A parceria Maestrini e Stoklos traz ao público, além do mergulho nas diversas camadas do texto e da performance, um novo conceito estético, que brota do limiar entre a instalação, a performance, a dança e o teatro.

Gabriela é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana, e em entrevista ao Caderno ela fala sobre cerreira, trabalhos e sua estreia em seu primeiro monólogo.

Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz Gabriela DuarteA atriz Gabriela Duarte é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Edson Lopes Jr - Diagramação: Denis Felipe - Por Flávia Viana

CE - Como surgiu a ideia de fazer uma peça sozinha depois de 40 anos de carreira? E como tem sido a experiência?
GD -
 A ideia surgiu há cerca de três anos, pois eu queria fazer algo em que eu pudesse falar um pouco de mim e da minha busca por identidade. Explorar novas possibilidades. A peça saiu do livro, desse conto literário que a gente conhece, da Charlotte Perkins Gilman, para começar a ser construída com essas duas diretoras, a Alessandra Maestrini e a Denise Stoklos. E a experiência não poderia ser mais rica e mais divertida. Estou muito leve e feliz.

CE - A peça “O papel de parede amarelo” tem uma temática feminista, fala do controle sobre o corpo feminino e saúde mental.  Levar ao palco esses assuntos já trouxe algum reflexo na sua vida?
GD -
O texto conversa muito com meu momento de falar sobre como nós nos vemos e nos colocamos no mundo. Tudo tem culminado para falar de quem nós somos como mães, mulheres e profissionais. E se teve reflexos na minha vida, eu sinto que sim. Na verdade, eu acho que eu tenho ficado mais alerta nessa questão a respeito de mim mesma.

Acho que a menopausa também me trouxe para um lugar de mais atenção — mais alerta mesmo — com relação à minha saúde mental, ao meu corpo e, acho, ao mundo também. O mundo talvez esteja indo pra um lugar que a gente não conhece, e isso faz parte da evolução, enfim, não sei...

Mas, às vezes, esses caminhos podem levar a lugares mais perigosos. E aí, não é que a gente tenha que achar que está tudo horrível, que tudo está perdido — não é isso. Mas é importante ter cautela. Ficar alerta com o que está acontecendo, com a situação da mulher, com as crianças e adolescentes com relação à internet.

Na verdade, acho que saí um pouco da minha bolha. Muita gente está nela também, essa ideia de “vamos viver a vida, ter nossas relações e tal”. Só que essa bolha, de certa forma, me tirava um pouco da realidade do mundo. E acho que é importante que a gente saiba olhar para isso e sentir isso nesse momento, ficar alerta mesmo.

CE - Como tem sido ser dirigida por dois nomes como Alessandra Maestrini e Denise Stocklos? 
GD - 
Tem sido uma experiência enriquecedora. A Alessandra traz uma visão cômica e leve, ajudando-me a encontrar humor mesmo em temas densos.

Já a Denise, com sua abordagem do Teatro Essencial, enfatiza a expressividade do ator com recursos mínimos. Essa combinação me desafia a explorar novas facetas da minha atuação, equilibrando profundidade e leveza.

CE - Aliás, como você avalia sua trajetória? E o que espera para os próximo 40 anos?
E por falar em idade, fazer 50 anos te assustou? Como você lida com o envelhecimento?
GD -
 Eu me sinto com a consciência bem tranquila. Claro que isso envolve os trabalhos e escolhas que fiz, participei, vivi, e também os que não fiz, não vivi, não fui chamada pra fazer. Essa é uma profissão em que nem sempre conseguimos realizar tudo que gostaríamos. Mas o que fiz me preencheu profundamente - como mulher, atriz, ser humano. Por isso posso dizer, com serenidade, que minha trajetória foi muito positiva.

Comecei sem saber ao certo se queria ser atriz. Gostava desse universo, não era uma coisa que eu estava decidida. Eu comecei e tive a chance de ir experimentando.  Minha primeira novela foi Top Model, ainda muito jovem, num elenco com outros adolescentes.

Talvez tenha sido esse espírito de “brincadeira séria” que me fisgou. Aos poucos fui percebendo que era aquilo mesmo. E aí veio o compromisso. Fui atrás de formação, estudei fora, aproveitei cada oportunidade com paixão e intensidade. Eu acho que isso contribuiu para eu falar “olha que brincadeira legal”. Quero isso para mim.

Então, o envelhecimento não me assusta. Assustar talvez nem seja a palavra. Tem coisas que lamento, sim. Outras que adoro. É uma questão de ponto de vista. Já passei por uma fase um pouco mais chata, que foi a chegada da menopausa.

E passou, ou está passando, enfim, não sei, e acho que o bom da vida é estar vivo. O contrário disso é ruim, né? Então, eu estou feliz de estar prosseguindo nas minhas coisas, agora estar fazendo uma peça que me desafia, isso é muito importante neste momento da minha vida. Então, acho que está tudo bem, graças a Deus.

Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz Gabriela DuarteA atriz Gabriela Duarte é Capa exclusiva do Correio B+ desta semana - Foto: Edson Lopes Jr - Diagramação: Denis Felipe - Por Flávia Viana - Na foto com as diretoras:  Alessandra Maestrini e Denise Stoklos

CE - Gabriela Duarte pode ser vista em diversos trabalhos no Globoplay. Você se reassiste? 
GD -
Não costumo me assistir.

CE - Depois de tanto tempo, essas novelas ainda fazem um sucesso estrondoso. Na sua opinião a que se atribuí esse sucesso?
GD -
Algumas novelas reprisam muito, como Por Amor. Nossa, como é reprisada essa novela! E não é só aqui no Brasil, né? Eu tenho visto, acompanhado pessoas que me dizem que essa novela reprisa todos os anos na Rússia, por exemplo. E em outros lugares do mundo, como a República Dominicana…Enfim, eu fui uma vez pro Marrocos e fui reconhecida. Nunca imaginei! Gente, eu não entendia o que as pessoas estavam me olhando lá do outro lado do mundo, praticamente — e era por causa de Por Amor.

Então é uma novela que realmente tem uma importância na teledramaturgia. É uma novela que tem muita importância, que reprisa muitas vezes. Eu acho o máximo, acho muito legal que a novela seja tão vista e que as pessoas gostem dela em todos os lugares por onde passa.

CE - Como é que a gente vai imaginar que uma cultura como a da Rússia, do Marrocos, vai se identificar? Porque é uma novela que fala muito sobre humanidade. É muito humana, né?
GD -
Eu acho que a maturidade traz isso também. A gente vai amadurecendo, vai tendo mais paciência, mais carinho pelos jovens. Eu mesma. Mas é isso.

Eu gosto da Eduarda. Acho a Eduarda uma personagem muito rica, que obviamente eu poderia ter aproveitado mais… Mas eu era muito jovem, tinha 21 anos. Então eu fiz o que dava pra fazer naquele momento. Tenho muito orgulho da Eduarda, muito mesmo. Ela me colocou em lugares muito legais, muito importantes na minha carreira.

Capa B+: Entrevista exclusiva com a atriz Gabriela DuarteFoto: Priscila Prade

CE - O que você acha desse mercado que se abriu com os canais por streaming que estão produzindo séries e novelas?
GD -
 Eu acho uma maravilha que o mercado esteja se abrindo da forma como ele está. É muito importante para os atores em geral, né? Muito difícil quando o mercado fica muito monopolizado, muito fechado, numa só emissora, duas ou três, enfim. Então essa abertura nesse mercado da dramaturgia, de novelas, como Beleza Fatal, séries, eu acho maravilhoso. Eu sou uma grande fã de séries, eu sou aquela que se deixar eu fico deitada em casa só assistindo Netflix, ou qualquer outro streaming ao fim de semana inteiro.  Hoje eu sou dessas, eu adoro.

Eu acho muito bacana, e tenho visto coisas muito legais, que eu estou apaixonada, tanto as polêmicas, como as não tão conhecidas do público, às vezes as mais antigas, que eu vou lá mexer e revejo, que eu também gosto... Enfim... acho incrível, eu acho que para o ator... esse é o nosso mercado, né... no audiovisual, o cinema, claro, também, e o teatro! Não só para os atores , existe um numero imenso de profissionais envolvidos no audiovisual.

O teatro é aquele negócio que você vê a pessoa ao vivo ali, eu amo, eu amo esse contato com o público, eu amo essa energia, e quero realmente que as pessoas venham ao teatro, porque... o teatro pode ser muito transformador, e eu acho que essa peça que eu estou fazendo, Papel de Parede de Amarelo, e EU, ela tem esse poder de transformação. Então venham, venham, eu vou gostar muito de encontrar vocês no teatro. No teatro, sem dúvida.

CE - Você escreveu sua biografia. Quando ela será lançada? Como foi revisitar memórias para coloca-las na obra?
GD -
Ainda não tenho a data para lançamento, mas será esse ano. Revisitar minhas memórias foi como abrir um velho baú de fotografias, algumas imagens trazem sorrisos nostálgicos, outras, reflexões profundas. Foi um processo de autodescoberta, onde cada lembrança revelou um pedaço do quebra-cabeça que forma quem sou hoje.

 

NEWSLETTER

Fique sempre bem informado com as notícias mais importantes do MS, do Brasil e do mundo.

Fique Ligado

Para evitar que a nossa resposta seja recebida como SPAM, adicione endereço de

e-mail marketing@correiodoestado.com.br na lista de remetentes confiáveis do seu e-mail (whitelist).