Cidades

Bela Vista

Família de soldado morto em treinamento acredita em omissão do Exército

Conforme o advogado de defesa que representa a mãe do soldado Vinicius Riquelme, de 19 anos, mesmo tendo dito que não se sentia bem, o recruta foi privado de água e tratamento adequado durante o treinamento militar

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Para a família do soldado Vinícius Ibanez Riquelme, de 19 anos, que morreu após um treinamento do exército, o jovem foi vítima de "maus tratos" e "omissão" pela equipe que conduziu o exercício militar do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado do Exército Brasileiro, em Bela Vista. 

O advogado Fernando Lopes de Araujo, que representa a mãe de Vinícius, Nilda Ibanes Acosta, conversou com o Correio do Estado e explicou um pouco da dinâmica do que aconteceu no treinamento que ocorreu entre os dias 22 a 26 de abril.

A família diz que Vinícius entrou no exército com o sonho de servir na área da comunicação para ajudar a mãe que trabalha como diarista. Inclusive comprou equipamento fotográfico e conforme relatou o advogado gostava de treinar fotografando caminhões que passavam carregados de calcário. 

Treinamento

No segundo dia de treinamento, Vinícius começou a se sentir mal, no entanto, nenhuma providência teria sido tomada. Em vários relatos, que a reportagem teve acesso, uma enfermeira que teria a patente de sargento reduziu os pedidos de auxílio médico a "frescura".

Ainda, segundo fontes que terão os nomes preservados, por mais de uma vez,  Vinícius procurou atendimento médico, mas a sargento o teria colocado para fora da ambulância.

O tratamento que mais de um recruta alegou ter recebido ao dizer que não se sentia bem era sair com uma cabeça de  alho para comer.

Falta de água, ingestão de limão, frutas e ovos com casca teriam sido a alimentação dos recrutas durante os seis dias. Até o momento em que Vinícius não conseguiu suportar o peso do equipamento, tendo ido ao solo. Neste momento, levou um chute na cabeça e outro na face.

"Nas fotografias tiradas durante o velório de Vinicius, observa-se claramente que seu corpo apresentava lesões no rosto, manchas roxas na face, inchaço das orelhas, marcas de agressão", conta o advogado Fernando.

Ele foi apontado por diversas fontes como um recruta "visado" durante os episódios de agressões. Apenas no momento em que perdeu os sentidos foi levado até a ambulância para receber atendimento médico. 

"No dia 26 de abril, ultimo dia de treinamento, quando os recrutas estavam vindo a pé em marcha, Vinicius não suportou e caiu ao chão desmaiado. Somente nesse momento os responsáveis pelo treinamento o levaram para a ambulância", disse o advogado.

"O que podemos afirmar até o momento é que houve sim maus tratos aos recrutas, omissão por parte do exército no atendimento de Vinicius, e que seu corpo apresentava sinais de lesões".

Vinícius deu entrada em torno de 12h na enfermaria do 10° Rcmec, onde ficou aproximadamente quatro horas, posteriormente em decorrência do agravamento do quadro seguiu para o Hospital local São Vicente de Paula, em Bela Vista. Devido ao quadro de desidratação severa solicitaram transferência por vaga zero para a Santa Casa de Campo Grande. 

O soldado chegou a Santa Casa de Campo Grande em torno de 19h30, no entanto, no dia 27 de abril em torno de 6h45 não resistiu e veio a óbito. A certidão da causa da morte apontou "Choque, Necrose centro lobular, Disturbio Hidroeletrolítico, Desidratação, Síndrome infecciosa, realização de exercícios físicos rigorosos".

O advogado de defesa explicou a razão da evolução de cada quadro que culminou com a morte do recruta:

  • Choque: fluxo sanguíneo baixo, que reduz o fornecimento de oxigênio para os órgãos;
  • Necrose centrolobular: necrose do fígado, consequência de anemia aguda;
  • Distúrbio hidroeletrolítico: quando a pessoa perde muito líquido corporal, e leva a desidratação

Apesar de alguns dos militares que estiveram no treinamento com o soldado Vinícius (o recruta 856), terem testado positivo para Influenza, a defesa aponta que até o momento não há provas de que essa teria sido a causa para sua morte. 

Com relação às lesões no rosto, a defesa aguarda o laudo necroscópico que leva 30 dias para ficar pronto. O prontuário do Hospital São Vicente de Paula foi solicitado nesta segunda-feira (06).

Além da morte de Vinícius, outros 89 militares precisaram receber atendimento médico, entre eles o caso mais preocupante neste momento é o do soldado Maycon Gabriel, transferido na noite de sábado (04) com urgência para a Santa Casa de Campo Grande.

Maus tratos

Enquanto os recrutas evitam o assunto familiares estão revoltados, vários quebraram o silêncio por meio de redes sociais e estão relatando traumas nos jovens que temem voltar ao quartel. No domingo (05) houve uma vigília em frente do 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado do Exército Brasileiro.

 

 

 

 

Até o momento, cerca de dez famílias estão sendo representadas pelo advogado especialista em direito militar José Roberto Bekmann que corrobora com a versão de maus tratos e qualificou o episódio como excesso dos limites da legalidade.

"A atitude dos militares superior e hierárquico é manter a integridade física, a dignidade de qualquer militar dentro das Forças Armadas. O que aconteceu ali por parte dos instrutores foi [que] nessa instrução de sobrevivência ela excedeu os limites da legalidade, ou seja, esse excesso [cometido] pela equipe da instrução é considerado como maus tratos", pontuou Bekmann.

Com relação a tudo que escutou dos clientes, Beckman que serviu o exército por 18 anos, afirmou que nunca viu tantos relatos de agressão ocorridos durante um treinamento militar.

"Eu fui militar por 18 anos e nunca tinha visto tanta agressão, tantos relatos assim, das famílias, dos recrutas. Que há rigor físico, que há rigor psicológico. Ok. Porque assim, o que tem que preparar? O soldado é preparado para a guerra. Infelizmente, essa é a finalidade do Exército. Preparar os militares para a guerra. Mas como nós estamos em tempo de paz, é inadmissível que um militar, ainda mais o serviço militar obrigatório, perca a vida por uma atitude omissa, que vai ser apurada em inquérito policial militar", e completou:

"Aconteceu que cortaram a água dos recrutas. Inclusive o laudo do soldado Vinicius Riquelme está como desidratação e choque séptico, sem falar nos hematomas. A responsabilidade por saber da situação do subornados é do comandante do 10 RCMEC".

Familiares dos recrutas que terão os nomes preservados definem o retorno dos filhos para casa como verdadeiro "pesadelo". Mães relatam que os filhos estão acordando a noite para realizar manobra, enquanto outros não conseguem dormir, e ainda há os que não estão se comunicando com os pais. 

"Acorda assustado sentado na cama. Fica fazendo as obrigações do quartel. Meu filho nunca ficou nessa situação. E ele falou mesmo que tinha um cara que era do rancho, soldado lá, que judiava deles. Ele falou para mim", disse uma das mães.

O 10º Regimento de Cavalaria Mecanizado do Exército Brasileiro abriu o inquérito policial militar para levantar a conduta de quem aplicou o treinamento e quem são os envolvidos. Assim que a investigação for concluída, a ação penal militar é apresentada para o Ministério Público Militar em que são analisados os indícios de autoria e materialidade para então definir se irá apresentar a denúncia para a Auditoria da  9º Circunscrição Judiciária Militar em Campo Grande. 

A reportagem contatou o 10 RCMEC, no entanto, até o fechamento da matéria não obteve resposta. O espaço segue aberto. 

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PARALISAÇÃO

Prefeitura e Governo Estadual afirmam que repasses à Santa Casa estão em dia

Além da verba repassada pelo convênio entre Município, Estado e Governo Federal, o Executivo alega que aporta R$ 1 milhão extra, por mês, pagos desde o início do ano

22/12/2025 17h30

Os profissionais de enfermagem, limpeza e copa da Santa Casa reivindicam pelo pagamento do 13º salário

Os profissionais de enfermagem, limpeza e copa da Santa Casa reivindicam pelo pagamento do 13º salário Marcelo Victor / Correio do Estado

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A Prefeitura Municipal de Campo Grande emitiu nota, durante a tarde desta segunda-feira (22), para afirmar que os repasses financeiros estão em dia com o Hospital Santa Casa. Além disso, também relata que aporta, mensalmente, R$ 1 milhão extra à instituição.

Atualmente, a Santa Casa recebe R$ 392,4 milhões por ano (R$ 32,7 milhões por mês) do convênio entre Governo Federal, Prefeitura de Campo Grande e Governo do Estado para atendimento via Sistema Único de Saúde (SUS).

Confira a nota do Município:

"A Prefeitura de Campo Grande está rigorosamente em dia com todos os repasses financeiros de sua responsabilidade destinados à Santa Casa. Desde o início deste ano vem, inclusive, realizando aportes extras de R$ 1 milhão mensais.

Diante do cenário de greve, o Executivo tem adotado todas as medidas possíveis para colaborar com a instituição neste momento, mantendo diálogo permanente, buscando alternativas que contribuam para a regularidade dos atendimentos e a mitigação de impactos à população".

Além da Prefeitura, o Governo do Estado também se manisfestou sobre os recursos repassados ao hospital. Através da Secretaria Estadual de Saúde (SES) negou estar em débito com a Santa Casa e, por isso, não pode ser responsabilizado pelo pagamento do 13º salário aos servidores. 

Em nota, a Secretaria também afirmou que vem realizando um pagamento extra aos hospitais filantrópicos do Estado nos últimos anos, a fim de auxiliá-los nos custos e no cumprimento de suas obrigações. 

Além disso, a pasta afirmou que todos os pagamentos destinados à Santa Casa são feitos ao Município de Campo Grande, sempre no quinto dia útil. 

O balanço divulgado pela SES mostrou que, de janeiro a outubro de 2025, foram repassados R$ 90,7 milhões, distribuídos em R$ 9,07 milhões mensais. Na parcela referente aos mês de novembro, houve um acréscimo de R$ 516.515, o que elevou o repasse mensal ao hospital para R$ 9,59 milhões. 

“O Estado está integralmente em dia com suas obrigações. Cabe destacar que, além dos repasses obrigatórios, em 2025 o governo estadual já destinou mais R$ 25 milhões em recursos oriundos da bancada federal para atender a Santa Casa de Campo Grande”, ressaltou a nota da SES.

Greve

A paralisação das atividades dos profissionais de enfermagem, limpeza e copa da Santa Casa nesta segunda-feira (22) foi motivada pela falta de pagamento do 13º salário. 

O movimento afeta, até o momento, 30% dos serviços oferecidos no hospital, resultando em 1.200 funcionários “de braços cruzados”, entre profissionais do atendimento (consultas eletivas, cirurgias eletivas, enfermaria, pronto socorro, UTI, etc), limpeza (higienização de centros cirúrgicos, consultórios, banheiros, corredores, etc), lavanderia (acúmulo de roupas utilizadas em cirurgias ou exames) e cozinha (copa).

Na última sexta-feira (20), a Santa Casa alegou que não tinha dinheiro para o pagamento do benefício aos servidores, e propôs o parcelamento do 13º salário em três vezes, em janeiro, fevereiro e março. 

No entanto, a proposta não foi aceita pelos profissionais, que foram às ruas pedindo pelo pagamento integral do salário, em parcela única. 

De acordo com a Lei nº 4.090/1962, o 13º pode ser pago em duas parcelas: uma até o dia 30 de novembro e outra até o dia 20 de dezembro, sem atrasos.

O presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Enfermagem, Lázaro Santana, explicou que a movimentação não se trata de uma greve, mas sim, de uma paralisação, e que os serviços estarão funcionando em períodos. 

“Nós não estamos de greve, estamos fazendo paralisações por período. A gente só vai voltar a hora que o dinheiro estiver na conta. Qualquer 30% que você tira da assistência, isso pode gerar uma morosidade, não uma desassistência, mas uma morosidade no atendimento”, explicou ao Correio do Estado. 

Segundo Santana, Estado e Município dizem que os pagamentos estão em dia.

“Ninguém sabe quem está certo, porque o governo fala que está fazendo tudo em dia, o município também, e a Santa Casa fala que não. Só que toda essa falta de comunicação, esse consenso que eles não chegam nunca gera esse tipo de problema, porque hoje nós estamos reivindicando ao pagamento do décimo, mas durante todo o ano paralisamos também cobrando o pagamento do salário do mês. Isso gera um transtorno muito grande. O que a Santa Casa alega é que ela depende de reajuste de melhorias no contrato para poder honrar o compromisso”.

 

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Cidades

Homicida se entrega à Polícia 8 meses após o crime

Homem estava foragido deste a data do crime, em abril

22/12/2025 17h00

Divulgação/PCMS

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Um homem foi preso ontem (21) ao se entregar na Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário do Centro Especializado de Polícia Integrada (DEPAC/CEPOL) após ter estado foragido por 8 meses por ter participado de um homicídio registrado na zona rural do distrito de Anhanduí.

O Crime

De acordo com as informações levantadas, o corpo de um homem foi localizado na manhã do dia 12 de abril de 2025, às margens de um córrego próximo à BR-163. 

As investigações iniciais indicaram que, no dia anterior ao desaparecimento, a vítima esteve no local na companhia de dois conhecidos, após consumo de bebida alcoólica. Apenas um deles retornou para casa. O outro passou a apresentar comportamento considerado suspeito e não foi mais localizado.

Após dois dias de buscas realizadas por familiares, Guarda Municipal e Polícia Militar, o corpo foi encontrado no mesmo ponto onde o grupo havia se reunido. Durante os trabalhos periciais, foram recolhidos objetos que podem ter relação com o crime.

Rendição

No dia 21 de dezembro de 2025, cerca de oito meses após o homicídio, o homem foragido compareceu espontaneamente à Delegacia de Pronto Atendimento Comunitário do Centro Especializado de Polícia Integrada (DEPAC/CEPOL), onde confessou a autoria do crime.

Diante dos elementos colhidos, a Polícia Civil de Mato Grosso do Sul representou pela prisão preventiva do autor. O pedido foi analisado pelo Poder Judiciário, que decretou a prisão preventiva no mesmo dia, resultando no imediato recolhimento do autor ao sistema prisional.

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