Aproximadamente 40 dias após a deflagração da Operação Última Ratio, da Polícia Federal, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) e do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), Luiz Roberto Barroso, explicou durante a abertura do 18º Congresso Nacional do Poder Judiciário, em Campo Grande (MS), os motivos de ter mantido o evento na capital de Mato Grosso do Sul, mesmo após o Tribunal de Justiça do Estado ter afastado cinco de seus 31 desembargadores na operação da Polícia Federal.
“Foram um conjunto de razões, a começar pela primeira e mais importante, que nós aprendemos desde o início de nossa formação jurídica: nós não pré-julgamos, nós só condenamos ao final do devido processo legal. Portanto, não realizar o evento aqui em Mato Grosso do Sul seria um pré-julgamento, o que não corresponde à maneira como acreditamos que a vida deva ser”, afirmou Barroso.
“Se tiver ocorrido algo de errado, estamos aqui para as sanções adequadas, mas não antes da hora”, acrescentou o presidente do CNJ e do STF.
A Operação Última Ratio, da Polícia Federal, foi deflagrada no dia 24 de outubro. A investigação, até agora, resultou em ordens do ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Francisco Falcão, que culminaram no afastamento de cinco desembargadores do Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul (TJMS): o presidente da Corte, Sérgio Fernandes Martins; o presidente eleito da Corte, Sideni Soncini Pimentel; o vice-presidente eleito, Vladimir Abreu da Silva; além de Marcos José de Brito Rodrigues e Alexandre Bastos.
Os cinco desembargadores estão usando tornozeleira eletrônica, assim como o conselheiro do Tribunal de Contas de Mato Grosso do Sul, Osmar Jeronymo, também afastado de suas funções, e o sobrinho dele, Danilo Moya Jeronymo, ex-servidor comissionado do TJMS, apontado pela PF como um dos operadores do esquema.
O processo, que antes tramitava no STJ, agora está no STF, sob a relatoria do ministro Cristiano Zanin.
Desagravo
Na abertura do Congresso Nacional do Poder Judiciário, Luiz Roberto Barroso afirmou que o afastamento de alguns desembargadores não significa que todo o Judiciário do Estado esteja contaminado.
“O que há é uma investigação sobre três pessoas (na verdade, são cinco desembargadores e um magistrado de primeira instância). Seria, na verdade, um desprestígio para todo o Judiciário de Mato Grosso do Sul, que, aliás, tem uma reputação elevada no cenário nacional”, afirmou o presidente do STF.
Barroso ainda comparou o escândalo no Judiciário local a um acidente em uma autoestrada, que chama a atenção da população em detrimento de seu papel social, muitas vezes despercebido. “Elas levam milhões de pessoas de um lugar para outro, transportam mercadorias, e vez por outra acontece um acidente”, disse.
“Se alguém for narrar a história de uma autoestrada focado apenas nos acidentes, não estará contando a história real, não estará apontando a verdadeira história e não estará fazendo justiça”, complementou.
Além de Luiz Roberto Barroso, também estiveram na abertura do evento o vice-presidente do STF, ministro Luiz Edson Fachin, o presidente do Superior Tribunal de Justiça, Herman Benjamin, o governador de Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel (PSDB), entre outras autoridades.