“Diagnóstico Precoce do Autismo e Outros Transtornos Comportamentais – Uma Lição de Amor” (Life Editora, 2022, 142 páginas), segundo livro de Celso Cavalheiro, traz cinco estudos de caso que o psicopedagogo escolheu para levar adiante a sua missão.
Com 35 anos de experiência, profissional e pessoal, a publicação pretende mobilizar pais, familiares e professores sobre a importância de se mapear, o quanto antes, os desvios de meninos e meninas na condução e no domínio das atividades ordinárias e na interação social cotidiana nos diversos ambientes de convívio da criança.
Qualquer comportamento fora da curva, mesmo aqueles aparentemente sem importância, pode ser um sinal do transtorno do espectro autista (TEA) e de outros transtornos comportamentais, como hiperatividade, TDAH e dislexia.
Mestre e especialista na área, o pesquisador havia lançado, em 2020, o que chama de volume um de suas prospecções – “Educação em Saúde”, sobre autismo e dislexia.
Com o novo trabalho, Cavalheiro abre o leque nos quadros abordados e centra foco no diagnóstico precoce, além de destacar o papel das emoções e do afeto no processo de tratamento e controle dos transtornos.
O subtítulo, “Uma Lição de Amor”, é também o nome de um filme de 2001, com elenco estelar (Sean Penn, Dakota Fanning, Michelle Pfeiffer, Laura Dern) e enredo convergente com a temática do livro.
“A gente fecha o título com ‘Uma Lição de Amor’ porque [para] trabalhar essas crianças com esses transtornos é preciso que haja muito amor, um profundo respeito pela condição diferenciada em que essas crianças vivem”, afirma Cavalheiro. Pedagogo, ex-professor, ex-diretor escolar e há décadas atuando na área da saúde, na Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS), o autor diz que o autismo não é uma doença.
O QUE É?
“Apesar de ter uma classificação internacional de doença, o autismo é tratado como um transtorno comportamental. É um processo pelo qual o indivíduo, menino ou adulto, passa e em que ele tem alguns bloqueios neurológicos que a ciência ainda não conseguiu informar exatamente onde e em qual circunstância essas crianças têm esses bloqueios que acabam provocando um atraso na fala, nas questões das relações sociais da criança”, afirma.
Segundo o pesquisador, o TEA provoca alguns comportamentos atípicos, “as neurotípicas”, que fazem com que a criança prefira ficar isolada.
“Ela tem pouca manifestação emocional, comportamentos estereotipados, como brincar com os carrinhos com as rodas para cima ou desenvolver alguma preferência acima do normal por alguma coisa que não tem muito sentido, como o girar da hélice do ventilador ou ficar apagando e acendendo uma luz”, exemplifica Cavalheiro.
“É um transtorno comportamental repleto de atitudes diferentes. Por isso que quando uma criança é diagnosticada com autismo, leve, moderado ou severo, que seja, a gente costuma dizer que são crianças que têm comportamentos diferentes. Isso é o TEA. São vários sinais e diferem de uma criança para outra”, reforça o psicopedagogo.
“Para se fechar um laudo, um diagnóstico preciso, é necessário que um neuropediatra ou neuropsicólogo encontre nessa criança vários fatores ao mesmo tempo para corroborar”, explica o pesquisador, que lista, entre os motivos que o levaram a escrever o livro, o grande índice de pessoas em busca de um diagnóstico.
A proposta, afirma, é ajudar o professor na Educação Infantil a identificar melhor o quadro no comportamento diferente das crianças e levar esse seu parecer para os pais, para que busquem apoio médico.
REFERÊNCIAS
“Escolhi fazer uma pesquisa aprofundada, uma pesquisa literária científica para que a gente possa promover o maior esclarecimento possível para pais e mães e, inclusive, para profissionais de educação que trabalham com crianças e que têm em suas mãos capacidade muito grande de ajudar”, diz Cavalheiro.
“Trouxemos alguns pensadores, algumas referências bibliográficas mais profundas que, com certeza, vão contribuir”, diz o psicopedagogo, citando como exemplos a argentina Alicia Fernández e o suíço Jean Piaget.
O diálogo com profissionais de outros estados (Paraná, etc.) e países (Argentina e Uruguai) foi fundamental para Cavalheiro consolidar seu ponto de vista.
A primeira coisa que se tem a aprender com o TEA, de acordo com o especialista, é a tolerância.
“As pessoas, antes de jogar uma pedra, precisam procurar tomar ciência da situação”, diz o pesquisador, que convive diariamente no ambiente terapêutico com crianças autistas e com outros transtornos.
“Quando a gente começa a visualizar esse comportamento estereotipado de uma sociedade organizada que deveria ser mais acolhedora vê que ela se comporta de um forma crítica, sem bom senso, sem coerência”, observa.
EM FAMÍLIA
“Tenho o relato de uma mãe, neste livro, que fala que na própria família dela, com os parentes próximos sabendo do transtorno que o seu filhinho apresentava, ficavam tachando-o como criança mal educada, quando, na verdade, era uma criança que precisava ser melhor compreendida, porque o indivíduo com o espectro do autismo não tem noção, consciência, do olhar malicioso do adulto”, explica o autor.
Cavalheiro conta que a “experiência sociofamiliar” com o próprio filho mais novo ajudou a embasar a pesquisa.
“Ele tinha alguns sinais do espectro do autismo e naquela época, há 25 anos, não tínhamos noção exata do que seria. Ele tinha dificuldade de interação social, caminhava na ponta dos pés, nos dava muita insegurança, havia um zelo muito grande, com o medo de que aquela criança caísse, viesse sofrer uma fratura, porque ele não tinha uma qualidade motora igual a de um menino de sete anos”, afirma.
“Me recordo que, em determinado momento, ao meu filho foi sugerido um tratamento como se ele fosse um menino esquizofrênico. Aquilo me entristeceu profundamente, nunca esqueço. Eu era o diretor da escola onde ele estudava, e a gente não tinha esse cabide de conhecimento que tem hoje para poder balizar as nossas ações enquanto educador, enquanto pai. O que difere hoje completamente, porque a infinidade de material para pesquisa e estudo à disposição nos ajuda a encontrar resposta”, pontua Cavalheiro.