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COMBATE AO VÍRUS Pandemia expõe divergências entre Azambuja e Trad Aumento de casos de Covid-19 na Capital trouxe discórdia entre poderes sobre medidas para combater a doença 24 JUL 2020 • POR Eduardo Miranda • 08h00

O aumento do contágio por coronavírus em Campo Grande colocou em caminhos opostos os integrantes do primeiro escalão da gestão de Reinaldo Azambuja (PSDB) no governo do Estado e o prefeito de Campo Grande, Marcos Trad (PSD). 

Há pelo menos 10 dias, os Executivos estadual e municipal divergem na maioria das medidas envolvendo o combate à Covid-19.

Trad e Azambuja ainda mantêm um compromisso de apoio mútuo em eleições. 

O governador, antes da pandemia, sempre falou em retribuir a Trad o apoio que teve no segundo turno das eleições para o governo de MS em 2018. 

As articulações políticas de seus respectivos partidos, PSDB e PSD, porém, não têm caminhado neste sentido, com os tucanos ensaiando lançar candidatura própria à prefeitura da Capital, e, do outro lado, com o partido de Trad flertando com outras legendas, como o DEM, por exemplo.  

O agravamento da pandemia em Campo Grande, conforme o Correio do Estado apurou, expôs a oposição de suas estratégias também na área da gestão pública, o que não vinha ocorrendo até então.  

Ontem, quando Campo Grande atingiu 7.680 casos de Covid-19, com mais 332 confirmações em 24 horas, o secretário de Estado de Saúde, Geraldo Resende, foi enfático.

“Infelizmente estamos em um ano eleitoral, e alguns dos gestores municipais seguem olhando o calendário das eleições. Deveriam estar olhando para o maior patrimônio do Estado, que é a vida dos sul-mato-grossenses”, disse, antes de anunciar o aumento dos casos de Covid-19 no Estado. 

Neste mês, Campo Grande se tornou o epicentro da pandemia.

DISCÓRDIA

A razão dos sinais trocados entre as equipes do governo e da prefeitura é em relação às medidas a serem adotadas para conter a crise. O governo do Estado recomenda restrições de mais atividades econômicas na cidade, para que não falte leitos. Nesta quinta-feira, Campo Grande tinha 91% dos leitos para Covid-19 ocupados.

Ontem, por exemplo, a abertura de shoppings foi listada entre as atividades não recomendadas durante a pandemia. 

Tal medida está presente no programa Prosseguir, elaborado pelo governo de Mato Grosso do Sul em parceria com a Organização Pan-Americana de Saúde (Opas), o braço da Organização Mundial de Saúde (OMS) nas Américas.

O prefeito de Campo Grande, Marcos Trad, desde a semana passada vem chamando as outras 34 cidades da macrorregião de saúde de Campo Grande para assumirem responsabilidade conjunta, sempre que perguntado sobre a adoção de medidas mais duras, como, por exemplo, a adoção de uma quarentena mais rígida (que muitos chamam de lockdown).

Ainda ontem, o governo de Mato Grosso do Sul decidiu responder à prefeitura e informou que 90% dos pacientes que ocupam leitos em Campo Grande são da própria capital do Estado.

PROSSEGUIR

Desde o dia 16, quando os dados do programa Prosseguir foram divulgados pela primeira vez, as discordâncias começaram. 

Na ocasião, o governo de Mato Grosso do Sul classificou o município de Campo Grande com a cor preta, o que implicaria em medidas mais drásticas de isolamento a serem tomadas, como, por exemplo, fechar o comércio, deixando somente as atividades essenciais abertas.  

Naquele mesmo dia 16, o prefeito Marcos Trad disse ao Correio do Estado que os números informados pelo governo não correspondiam à realidade daquele momento e que a classificação da Capital era vermelha – não muito boa, mas um pouco mais branda que a preta.  

No dia 15, o prefeito Marcos Trad (PSD) já havia anunciado uma quarentena de fim de semana, com proibição de abertura do comércio aos sábados e domingos, apesar de as exceções terem aumentado ao longo do período. 

A classificação do programa estadual, porém, exigia mais para aumentar a disponibilidade de leitos na Capital. Ontem, o governo de Mato Grosso do Sul manteve Campo Grande na cor preta, atendendo os critérios objetivos da Opas/OMS.  

Prefeito e governador ficaram frente a frente na segunda-feira. Na ocasião, o governo do Estado oficializou a entrada da Polícia Militar para ajudar no cumprimento do toque de recolher, medida que vinha sendo fiscalizada somente por agentes municipais, a maioria da Guarda Civil Metropolitana. 

Trad aposta no endurecimento da restrição de locomoção no período noturno e também na compra de leitos na rede privada para não ter de fechar shoppings e outros setores do comércio, como recomenda o governo.